O desafio das escolas na formação de cidadãos para o futuro

Como as instituições de ensino estão preparando os estudantes para uma sociedade em constante transformação?

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    As escolas enfrentam o duplo desafio de interpretar os fenômenos tecnológicos que impactam a sociedade e, ao mesmo tempo, de formar pessoas  preparadas para um mundo marcado por rápidas transformações.

    Em um mercado cada vez mais competitivo, no qual as inteligências artificiais ameaçam substituir profissões tradicionais, o que aguarda os jovens para depois do Ensino Médio se apresenta como uma grande incógnita. Como, então, prepará-los para esse cenário?

    A resposta, segundo alguns especialistas, pode estar na reformulação profunda do modelo tradicional de escola. Trata-se de desenvolver habilidades e competências, formando sujeitos protagonistas de seus processos de aprendizagem e, consequentemente, de suas trajetórias de vida.

    Segundo Maria Lucia Zapata Tavares, Coordenadora Geral do Colégio Platão, educadores atentos a essas velozes transformações entendem ser necessário um esforço crescente para o fortalecimento das chamadas habilidades socioemocionais — como a comunicação, inteligência emocional e resolução de conflitos —, além de competências contemporâneas, como letramento tecnológico, ética digital, empreendedorismo e educação financeira.

    Para a educadora, a escola também precisa proporcionar experiências que estimulem a participação ativa e o engajamento dos alunos. Isso passa pela adoção de metodologias ativas, nas quais o estudante se reconhece como parte do processo e busca os conhecimentos teóricos necessários para desenvolver projetos com significado pessoal. “O cérebro aprende melhor por meio do prazer”, explica.

    Sabemos que somente os conteúdos clássicos não são suficientes. É necessário sair desse modelo tradicional de carteira, giz e quadro e trazer o aluno para esse processo, como protagonista”, reforça Maria Lucia.

    As metodologias ativas, segundo ela, são abordagens de ensino que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem, transformando-o em um agente ativo na construção do próprio conhecimento. Em vez de receber passivamente as informações, os estudantes são incentivados a participar de atividades que estimulam o pensamento crítico, a resolução de problemas e a colaboração.

    “Só que isso não é uma tarefa fácil. É bonito de falar, mas difícil de executar, porque você mexe com toda uma estrutura. Não adianta querer transformar a prática em sala de aula sem, antes, transformar a formação do professor. Por isso, entendemos que é um trabalho de múltiplas frentes, que envolve a escola, a formação continuada da equipe docente e também o estímulo à  participação das famílias.”

    Projetos transversais em metodologias ativas

    O Colégio Platão é um exemplo de escola que busca implementar estratégias, da Educação Infantil ao Ensino Médio, para inserir as metodologias ativas no currículo e envolver os estudantes em projetos conectados à realidade.

    A Mostra de Teatro é um evento que acontece há mais de 25 anos no Colégio Platão e envolve todos os alunos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, em espetáculos que misturam teatro, música e dança
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    Alguns desses projetos fazem parte do calendário letivo e já se tornaram tradicionais na cidade, como a Mostra de Teatro e o festival de música “Platão em Concerto”, que envolvem toda a comunidade escolar. E há muitos outros que fazem parte da prática pedagógica, atravessando diversas áreas do conhecimento com propostas que estimulam o pensamento crítico, a colaboração e o protagonismo dos alunos.

    O Platão em Concerto, um dos eventos mais tradicionais do Colégio Platão, foi criado em 1989 e envolve apresentações musicais dos estudantes, além de um show à parte das torcidas. Participam alunos do 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, com eliminatórias no Colégio e a grande final no Ginásio Chico Neto.

    Na Educação Infantil, o projeto João e o Pé de Feijão é um exemplo de como temas simples podem promover uma série de aprendizagens. A atividade envolve crianças de 1 e 2 anos e parte de uma contação de história, que começa com a professora regente e se estende a  diferentes áreas, como teatro, música, ciências e nutrição. “Cada criança planta o seu feijão e acompanha o crescimento. Ela aprende na prática sobre germinação, observa o que influencia o desenvolvimento da planta e lida até com a frustração, caso algo não saia como o esperado”, conta a Coordenadora. Durante o processo, também são trabalhadas noções de matemática, linguagem e convivência em grupo, encerrando com uma atividade que envolve os pais, os quais, junto com os filhos, saboreiam uma receita que tem como base o feijão.

    Já entre os alunos do Ensino Fundamental, o projeto Venda de Garagem (em inglês, Garage Sale) estimula noções de educação financeira e empreendedorismo. “Eles organizam uma feira em que vendem objetos usados, calculam os preços e destinam o valor arrecadado para doações. É um projeto com propósito social, que envolve as aulas de Inglês e desenvolve competências importantes, como o empreendedorismo e a responsabilidade social”, explica Maria Lucia.

    No Ensino Médio, os projetos focam na vida que espera os alunos fora da escola. Em uma das propostas de Química do Novo Ensino Médio, por exemplo, os alunos criaram produtos de limpeza e higiene pessoal, simulando uma pequena indústria. “Eles passaram por todas as etapas, desde o desenvolvimento do produto até a definição de preços e cálculo de lucro, integrando conhecimentos de química, matemática e empreendedorismo”, relata.

    Ainda nos primeiros, segundos e terceiros anos do Ensino Médio, a comunicação também se tornou uma competência a ser desenvolvida com foco na preparação para o futuro. Em parceria com o Instituto Voz, os estudantes participam de um curso voltado para habilidades como oratória, escuta ativa e expressão argumentativa. “É uma formação que prepara para o mercado, para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania. Afinal, o aluno precisa aprender a se comunicar com clareza, escutar o outro, ser empático e respeitar opiniões diferentes”, conclui a Coordenadora.

    Caminhos da educação para o futuro

    Formar cidadãos preparados para este mundo em constante transformação é um desafio que exige sensibilidade, escuta e coragem para rever práticas. De acordo com a essência do Colégio Platão, é preciso adotar uma abordagem humanizada, que reconheça a subjetividade do indivíduo e promova a aprendizagem como um processo ativo e contínuo.

    Isso exige ir além dos conteúdos clássicos das escolas. Envolve cultivar competências como empatia, escuta, responsabilidade social, pensamento crítico e criatividade. Exige também que a escola compreenda a educação como uma experiência viva, que pulsa com o mundo ao redor e se reinventa com ele.

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    Afinal, educar não é fim, mas um meio, um processo pelo qual o aluno vivencia e passa por formação e transformação diária. Quem passa pela escola deve sentir saudade do tempo que passou nela.

    “Voltar a usar apenas o livro e o caderno pode parecer um caminho mais tranquilo, mas não é o que queremos. As metodologias ativas exigem um esforço que vale a pena quando a missão é formar pessoas inteiras, capazes de se adaptar, colaborar e construir um mundo melhor”, conclui.

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