Na última quarta-feira (conhecida no mercado como “Super Quarta”), o Banco Central do Brasil elevou a taxa básica de juros (Selic) para 14,25% ao ano, numa tentativa de conter o avanço da inflação, que atingiu níveis preocupantes nos últimos meses. Já nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) manteve os juros nos Estados Unidos entre 4,25% e 4,5%.
Para entender os efeitos das decisões do Banco Central e do FED sobre a economia brasileira e também no cenário global, o Maringá Post ouviu Carlos Augusto Ferreira, economista e especialista no mercado financeiro, também secretário de Fazenda de Maringá. E, segundo ele, a medida adotada pelo BC já era esperada e considerada adequada pelo mercado.
Ferreira explicou, em entrevista ao jornalista Ronaldo Nezo, editor do Maringá Post, que o aumento da Selic é hoje o principal mecanismo do Brasil para tentar frear o consumo e, consequentemente, a inflação.
“É a medida mais dura que o Banco Central tem à disposição. Quando aumenta os juros, reduz o crédito, reduz o consumo, desacelera a economia e, com isso, espera-se que a inflação também caia”, ressaltou o secretário.
Segundo Ferreira, o cenário de alta inflação observado em fevereiro foi impulsionado por dois fatores principais: o aumento significativo no custo dos alimentos, influenciado pelo câmbio e dificuldades logísticas, e a elevação dos preços de energia elétrica, motivados pelo consumo elevado devido ao forte calor do verão.
Expectativa de melhora no segundo semestre
De acordo com o secretário, o mercado espera que a inflação permaneça elevada ainda em março, porém deve começar a desacelerar a partir de abril, especialmente após um eventual último ajuste na taxa de juros, previsto para maio.
Para ele, a combinação de fatores como a redução gradual do consumo energético após o verão e datas comerciais importantes, como a Páscoa e o Dia das Mães, deve colaborar para aliviar a pressão inflacionária no segundo semestre.
“A expectativa é de um ajuste final da taxa em maio. Depois disso, no segundo semestre, inflação e consumo devem mostrar sinais de desaceleração”, prevê Ferreira.
Reflexos globais e cenário norte-americano
O secretário também analisou os impactos da decisão do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, que decidiu não elevar as taxas de juros na mesma data, optando por aguardar os efeitos das tarifas impostas pelo governo norte-americano sobre produtos importados.
Ferreira avalia que a política de tarifas norte-americana tem potencial para prejudicar o consumo interno nos EUA, podendo gerar uma inflação local preocupante:
“O consumidor americano trabalha com alto nível de financiamento pessoal: hipotecas, leasing, cartões de crédito. Se a inflação e os juros sobem juntos, o efeito pode ser devastador”, alerta.
Ele considera ainda que tais medidas podem beneficiar indiretamente outros mercados, como o chinês, que têm maior capacidade de adaptação devido ao controle estatal sobre a moeda.
Reações do mercado brasileiro
Apesar da elevação da Selic, Ferreira destacou um comportamento aparentemente contraditório do mercado nacional. O dólar caiu e a bolsa de valores subiu após o anúncio do aumento dos juros, indicando que os investidores reagiram bem à clareza do movimento:
“Embora a lógica indique mais investimentos na renda fixa quando os juros sobem, muitos investidores passaram a olhar para a bolsa de valores, pois apostam que as empresas precisarão buscar financiamentos mais baratos via mercado de ações”, esclarece.
Contudo, Ferreira alerta para o perigo do excesso de otimismo, ressaltando a importância dos fundamentos econômicos sólidos para sustentar o crescimento:
“Tomara que não seja um voo de galinha. O Brasil ainda é um país muito atraente para investidores, com excelentes taxas de retorno, mas precisamos de cautela”, completou.
Impacto nos municípios
À frente da Secretaria de Fazenda de Maringá, Ferreira também fez uma análise dos impactos da alta dos juros na arrecadação municipal. Segundo ele, a redução do consumo e da produção provocada por juros mais elevados prejudica diretamente a arrecadação das prefeituras, que dependem fortemente desses indicadores econômicos para manter seus serviços públicos.
“Se não há consumo ou produção, não há arrecadação. Isso limita os recursos que retornam para a população em forma de serviços públicos”, concluiu o secretário.
A entrevista foi realizada pelo jornalista Ronaldo Nezo no Vmark Estúdio.
Comentários estão fechados.