Meta flexibiliza diretrizes e permite que usuários classifiquem gays e trans como “doentes mentais”

A decisão foi recebida com críticas por especialistas, que veem o movimento como uma abertura para discursos de ódio.

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    Entre as mudanças anunciadas na terça-feira, 7, pela Meta, destaca-se também a permissão para conteúdos considerados ofensivos à comunidade LGBTQIAPN+. Usuários das redes estão livres para associar gays, transgêneros e outros grupos a “doenças mentais”, especialmente em contextos religiosos ou políticos. As mudanças começaram a valer nessa terça-feira (7) em todos os países onde a empresa opera.

    A Meta, empresa responsável por redes sociais como Facebook, Instagram e Threads, anunciou ontem mudanças em suas Diretrizes da Comunidade, conforme publicado pelo Maringá Post.

    A decisão, justificada pela Meta como parte de um esforço para “ampliar debates culturais e políticos”, foi recebida com críticas por especialistas, que veem o movimento como uma abertura para discursos de ódio. No Brasil, atos contra pessoas LGBTQIAPN+ já são enquadrados como injúria racial ou racismo, conforme decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

    Implicações

    Entre as alterações anunciadas, a Meta agora permite postagens que defendam limitações de gênero em funções profissionais, como nas áreas militar, policial e educacional, desde que baseadas em crenças religiosas. A empresa também flexibilizou a moderação de debates sobre exclusões de gênero em espaços como banheiros e escolas.

    Em um comunicado, a Meta afirmou que as permissões dependem da “clareza na intenção” do usuário. “Onde a intenção não estiver clara, poderemos remover o conteúdo,” diz o texto. No entanto, críticos apontam que essa abordagem subjetiva pode dificultar a identificação de discursos de ódio e criar brechas para abusos.

    A empresa também retirou restrições que antes proibiam a associação de determinados grupos ao espalhamento do coronavírus, permitindo, por exemplo, conteúdos que relacionem chineses à disseminação da Covid-19. Apesar disso, algumas regras consideradas graves foram mantidas, como a proibição de comparações desumanizantes e a negação do Holocausto.

    Alinhamento com Trump

    A flexibilização das diretrizes ocorre após a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos e marca um aparente alinhamento da Meta ao novo governo. Trump, crítico de políticas que ele classifica como “agenda woke”, defende maior liberdade para debates considerados controversos, mesmo quando eles podem fomentar preconceitos.

    Analistas apontam que a decisão reflete uma estratégia política. “Zuckerberg está claramente alinhado ao X, de Elon Musk, e à visão de Donald Trump. É um movimento calculado que tem implicações profundas para o ambiente digital,” avalia Andréa Janer, CEO da consultoria Oxygen.

    Críticas e reações

    A comunidade LGBTQIAPN+ e organizações de direitos humanos reagiram com preocupação às mudanças. Especialistas destacam que permitir associações entre identidade de gênero ou orientação sexual e “doenças mentais” legitima preconceitos históricos e pode agravar a violência contra esses grupos.

    No Brasil, a decisão é vista como incompatível com as determinações do STF, que reconhece a homotransfobia como crime de racismo. Ativistas entendem que essa política abre espaço para discursos de ódio.

    Nos Estados Unidos, a flexibilização das regras também levantou preocupações sobre o impacto na disseminação de informações falsas. A remoção dos checadores de fatos e a flexibilização de filtros de moderação são vistas como retrocessos, especialmente em um ambiente digital cada vez mais propenso à polarização.

    O futuro das redes sociais da Meta

    Com as mudanças, as plataformas da Meta devem se tornar mais permissivas em relação a conteúdos considerados controversos, atraindo tanto defensores da liberdade de expressão quanto críticos que alertam para o aumento de discursos radicais.

    A Meta afirma que a intenção é equilibrar a liberdade de expressão com a necessidade de moderar conteúdos prejudiciais, mas especialistas questionam se essa abordagem será eficaz.

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