Tempo estimado de leitura: 8 minutos
O Brasil enfrenta um cenário preocupante em relação ao hábito da leitura. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2024, realizada pela Fundação Itaú e pelo Datafolha, mais da metade dos brasileiros não leem livros. Além disso, o estudo aponta que o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores nos últimos anos.
A Bíblia é citada na pesquisa como a obra mais lida, mas a diversidade de leituras, que estimula a formação do pensamento crítico e a ampliação de horizontes, está em declínio. A mudança desse cenário depende da renovação das formas de incentivar a leitura, afirmam especialistas.
Conversamos com duas educadoras experientes para reunir algumas dicas e sugestões para quem deseja estimular o hábito da leitura nas crianças e adolescentes, de preferência fora das telas dos tablets e celulares.
O impacto cognitivo da leitura
Luciana Gomes, diretora institucional do Ensino Fundamental I do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, destaca a importância de cultivar o hábito da leitura desde a infância: “A leitura é essencial para a formação da cidadania e para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Ler também estimula a criatividade, a interpretação e a capacidade crítica, desde a infância, além de ampliar o vocabulário e melhorar a expressão escrita.”
Para Luciana, a leitura oferece um dos mais importantes exercícios para o cérebro. “Ela não só melhora o funcionamento da memória e da atenção como também fortalece a resolução de problemas. Além disso, a leitura amplia a visão de mundo do estudante, permitindo que ele se coloque no lugar do outro e desenvolva empatia”, afirma.
Estudos mostram que a leitura constante contribui diretamente para o aprimoramento de competências como o raciocínio lógico e a organização do pensamento. “Essas habilidades são fundamentais para o sucesso acadêmico e para o exercício da cidadania. Hoje, em tempos de informação acelerada, a capacidade de fazer conexões e analisar criticamente as informações é cada vez mais valorizada”, explica.
Além disso, a leitura pode ser um fator crucial para melhorar o desempenho nos diversos componentes escolares. Luciana Gomes ressalta que é possível observar a influência no desenvolvimento global dos estudantes que têm o hábito de ler e no dos que não têm. “Alunos que leem com regularidade demonstram mais facilidade em compreender textos, interpretar enunciados e construir argumentações consistentes”, afirma.
A leitura em tempos de streaming e novelas
Em uma era marcada pelo entretenimento digital e pelo consumo massivo de novelas, os hábitos culturais dos brasileiros vêm se transformando. A pesquisa Retratos da Leitura deste ano mostra que assistir a filmes no streaming é o segundo hábito cultural preferido do brasileiro, enquanto a busca por programas culturais presenciais tem sido prejudicada por fatores como a violência e o preço dos ingressos.
Maria Lucia Mastropasqua, diretora do Ensino Fundamental I e II do Colégio Visconde de Porto Seguro, observa que a popularização do conteúdo audiovisual pode, de fato, afetar a leitura, embora acredite que seja possível equilibrar as duas atividades. “A chave é integrar a leitura ao cotidiano das crianças e adolescentes de forma prazerosa e natural. Isso pode ser feito por meio de livros que se relacionem com os interesses deles, como adaptações literárias de filmes ou séries populares”, sugere.
Para estimular o hábito da leitura em casa, Maria Lucia recomenda que as famílias criem um ambiente favorável à leitura. “Isso significa ter livros ao alcance, dedicar um tempo específico para leitura e até mesmo compartilhar o prazer de ler juntos, criando um momento de conexão familiar”, afirma.
Como incentivar os jovens a ler mais?
As especialistas em educação sugerem algumas estratégias práticas para pais e educadores incentivarem a leitura entre as crianças e adolescentes:
Escolher livros que correspondam aos interesses dos jovens: Se seu filho adora mistério ou ficção científica, busque livros desses gêneros para motivá-lo.
Estabelecer uma rotina de leitura: Dedicar ao menos 20 minutos por dia para a leitura pode ajudar a criar o hábito.
Fomentar a troca de livros e experiências de leitura: Participar de clubes de leitura ou criar grupos com amigos para discutir livros pode aumentar o engajamento.
Incorporar a leitura em atividades cotidianas: Ler notícias, rótulos e até manuais pode ser uma forma de estimular o interesse por textos.
Aproveitar adaptações cinematográficas: Assistir a filmes e séries inspirados em livros pode ser uma excelente forma de aumentar o interesse pela leitura.
As educadoras também sugerem algumas dicas para engajar crianças e jovens na leitura:
Leitura compartilhada: Crie um momento de leitura em família ou com amigos para discutir as impressões sobre o livro lido.
Interesse pessoal: Busque obras que se conectem com os gostos e interesses específicos de cada um — seja por gênero (fantasia, mistério, aventura) ou por temas atuais (identidade, relações sociais etc.).
Desafios literários: Proponha uma meta de leitura, como “ler um livro por semana”. A leitura também pode ser uma parte divertida das férias.
Exploração de diversidade racial e cultural: O acervo infantil das obras voltadas para esses temas é vasto e fundamental para formar leitores conscientes, orgulhosos de suas raízes e respeitosos com as múltiplas culturas que formam o Brasil. Incentive os jovens a conhecer obras de autores negros, como Conceição Evaristo e Paulo Lins, que trazem representações poderosas da cultura e da luta do povo negro no Brasil.
Literatura urbana e contemporânea: Ruth Rocha é conhecida por sua escrita leve, divertida e engajada. Suas obras capturam o universo das crianças em meio ao dia a dia das cidades e das famílias modernas, tratando de temas como amizade, imaginação, questionamento de regras e valorização da diversidade. Autores como Clarice Lispector e Raduan Nassar podem ser uma excelente escolha para jovens que desejam se aprofundar em literatura psicológica e existencial.
Acesso ao conhecimento e cultura: Visitar livrarias e bibliotecas é uma atividade rica em benefícios que vai muito além da simples apreciação de livros. Esses espaços podem inspirar a descoberta de novas obras, proporcionar uma experiência sensorial única em um ambiente acolhedor, além de estimular a leitura e até contribuir para um momento de descompressão e desintoxicação digital.
E, claro, não poderiam faltar algumas sugestões de livros para cada faixa etária de autores clássicos e contemporâneos para enriquecer ainda mais a experiência e o prazer da leitura. Confira a seleção especial que as especialistas do Colégio Porto Seguro montaram para tornar as férias mais divertidas e enriquecedoras.
A partir de 5 anos
- Carona – Guilherme Karsten
- Turma da Vila (Coleção)
A partir de 6 anos
- Árvores Geniais – Philip Bunting
- A Escolinha do Mar – Ruth Rocha
- Chapeuzinho Vermelho e o boto cor-de-rosa – Cristina Agostinho
A partir de 7 anos
- Madeline Finn e Bonnie – Lisa Papp
- Socorro em: uma vida nada fácil – Silvana Rando
- Lamparina – Rafael Cabral
- Turma do Marcelo (Coleção)
A partir de 8 anos
- Sr. Boaventura – J. R. R. Tolkien
- O mágico de OZ – L. Frank Baum
- Kabá Darebu – Daniel Munduruku
- Bia na África – Ricardo Dreguer
A partir de 9 anos
- A casa na árvore com 13 andares (Coleção Casa na Árvore) – Andy Griffiths
- Meu avô espanhol – João Anzanello Carrascoza
- Black Power de Akin – Kiusam de Oliveira
A partir de 10 anos
- Cínthia Holmes e Watson e suas incríveis descobertas – Christiane Gribel
- Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll
- Diário de Pilar na Amazônia – urgente – Flávia Lins e Silva
- O Jardim Secreto – Flávia Lins e Silva
- Vila Ventura – Rosana Rios
11/12 anos
- Amal e a viagem mais importante de sua vida – Carolina Montenegro
- Meu pai é um homem pássaro – David Almond
A partir de 12 anos
- Anne de Green Gables – Lucy Maud Montgomery (tradução de João Sette Camara)
Comentários estão fechados.