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A educação é a principal estratégia para a prevenção de desastres e o fortalecimento da segurança da população. Essa é a opinião unânime entre os especialistas da área da Defesa Civil do país e autoridades de órgãos públicos que participaram, na tarde desta quinta-feira (21), do seminário “Boas Práticas em Educação para Prevenção de Desastres”, promovido na Assembleia Legislativa do Paraná, por iniciativa do deputado Goura (PDT), 3º secretário.
“Temos a responsabilidade de ouvir a sociedade para que as tomadas de decisões sejam sempre as melhores possíveis”, afirmou o deputado Goura, ao avaliar a importância do encontro, que contou com contribuições de profissionais de todo o Brasil. Segundo ele, é a participação dos cidadãos e dos servidores que atuam no dia a dia, que vai assegurar a construção de políticas públicas, eficientes e eficazes, bem como, o fortalecimento das ações dos Governos. “É de grande importância esse debate para a troca de experiência e do fortalecimento das ações de todos os serviços públicos”, frisou. O parlamentar manifestou ainda, durante o evento, preocupação com o estilo atual de construção das cidades, que comprometem a qualidade de vida, o meio ambiente.
O compartilhamento de experiências, ferramentas e estratégias eficazes para a promoção da cultura de prevenção de desastres – como, enchentes, vendavais, deslizamentos, secas prolongadas, incêndios florestais, epidemias (dengue, chicungunha) e até uma nova pandemia – marcaram o debate, que durou cerca de três horas. Todos alertaram que essas ocorrências se transformam em desastres em função do número de vítimas, além de significativas perdas sociais, econômicas e ambientais, e que a população não está preparada para enfrentar esses eventos. Também faltam informações para evitar as tragédias registradas.
“O maior problema são as construções irregulares. É uma cidade extremamente desafiadora na área de gestão de risco. Ela é cortada por três grandes rios e tem uma topografia, que favorece os deslizamentos”, disse Elaine Maria Gonçalves Holanda Hawson, gerente-geral de engenharia da Defesa Civil da cidade do Recife, capital de Pernambuco. Ela, em conjunto com Giselle Cristine de Melo Vieira, gerente-geral de atenção social, e Alexsandro Gomes, ambos também da Defesa Civil do Recife, compartilharam planos e ações implementados no município, e os bons resultados do Programa Parceria, ganhador do Pergaminho de Honra da ONU-Habitat. Essa premiação reconhece contribuições extraordinárias na área de assentamentos humanos e habitação, destacando a situação das pessoas que vivem na pobreza, ou que foram deslocados de seus territórios. Eliane explicou que o Programa viabiliza o material, orientação técnica e social para intervenções em áreas planas e morros, enquanto a população entra com a mão de obra. Entre os serviços feitos em parceria estão o tratamento de encosta com soluções técnicas e melhoria de infraestrutura. O Programa Parceria bateu a meta de entregar 1.200 obras na cidade em 2023.
Formação profissional e conscientização
Já a professora Cleonice Maria Beppler, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFC), defendeu a importância da formação profissional dos agentes que atuam na área. Ela é a coordenadora do único curso Técnico em Defesa Civil do país, ofertado pelo IFC, em Camboriú. O curso não tem mensalidade, é feito na modalidade subsequente de segundo grau, e deve ser ampliado já em 2025, com a oferta de vagas no sistema de ensino a distância (EAD). A formação dos novos profissionais tem como foco a gestão de riscos, gestão de desastres e gestão de continuidade de negócios, qualificando o estudante tanto para atuar no poder público quanto na iniciativa privada. “Esse profissional vai atuar na prevenção e na gestão de riscos”, sublinhou.
A conscientização e capacitação de jovens foi o principal foco da apresentação feita pela professora e engenheira civil Roberta Bomfim Boszczowski, coordenadora do Grupo de Estudos em Geotecnia da Universidade Federal do Paraná (GEGEO/UFPR). Ela explicou as atividades desenvolvidas pelo grupo, criado no início de 2016 por alunos da graduação, da pós-graduação e professores. A Geotecnia é a ciência que estuda a mecânica dos solos e a mecânica das rochas, bem como a geologia e a hidrologia destes elementos, para avaliar a estabilidade deles quando submetidos à implantação de obras de engenharia ou para evitar desastres naturais. A professora, que é mestre e doutora, dedica-se ao ensino, pesquisa e extensão, nas áreas de determinação das propriedades dos solos, caracterização de áreas e redução de riscos geológico-geotécnicos. As inúmeras atividades desenvolvidas com crianças e adolescentes visam promover a conscientização, de forma lúdica, sobre a interface ser humano, meio ambiente e geotecnia na deflagração de desastres ambientais, bem como informá-las sobre como evitá-los. Outro ponto destacado foi a realização do curso de “Solos e Desastres Naturais”, ofertado pela UFPR Aberta, que tem como público alvo professores de ensino fundamental e médio.
Coordenadora do programa Brigadas Escolares da Defesa Civil do Paraná, a 1ª Tenente Joyce Andressa de Oliveira Saboia, fez uma apresentação do trabalho desenvolvido, reconhecido nacionalmente. Pioneiro do país, o programa acaba de completar 12 anos, e tem a finalidade de ajudar as comunidades escolares com treinamento e conhecimento sobre situações de emergência, difundido a cultura prevencionista no ambiente escolar. O Brigadas Escolares oferece formação de brigadistas escolares aos servidores da educação, que auxiliarão a comunidade escolar em casos de emergências. Eles recebem treinamento teórico e prático de socorros de urgência, plano de abandono escolar, prevenção e segurança contra incêndios e pânico e combate a princípios de incêndio. “O objetivo é garantir a segurança de toda a comunidade escolar”, comentou Joyce. O programa é desenvolvido em parceria pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e as Secretarias da Educação e da Segurança Pública, por meio do Corpo de Bombeiros.
Monitoramento e alertas
Quem também falou sobre a importância da participação e orientação da comunidade foi o inspetor Nelson de Lima Ribeiro, coordenador de Proteção e Defesa Civil de Curitiba. Ele apresentou o trabalho de controle de desastres implementado na Capital paranaense, que tem base em dois focos: a gestão de riscos e o gerenciamento dos desastres. A gestão de riscos, segundo ele, envolve a capacitação dos agentes públicos e da própria população. O gerenciamento de incidentes e desastres, por sua vez, diz respeito às respostas promovidas pela administração pública no momento em que os desastres acontecem. “Estamos focando agora na formação de comunidades resilientes”, informou, durante sua explanação.
Na sequência, Heloisa Tavares de Mattos Martins, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), participou de forma on-line, fazendo um breve relato sobre as atividades do órgão, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O Centro tem como missão pesquisar, monitorar e emitir alertas de riscos de desastres para salvar vidas e diminuir perdas e danos. O Cemaden monitora atualmente áreas de risco em mais de mil municípios de todas as regiões do país. Um levantamento nesses municípios apontou a existência de cerca de centenas de escolas sujeitas a riscos hidrológicos e/ou geológicos. “Temos o objetivo de transformar cada escola num centro de formação sobre o assunto. Queremos educar para prevenir”, informou, ao detalhar alguns dos projetos relacionados a educação. “Com isso, teremos uma rede de formação e prevenção”, acrescentou.
Atuação dos voluntários é essencial
“Às vezes atuamos numa busca mais localizada, e outras, em catástrofes maiores”, explicou Lineu César de Araújo Filho, vice-coordenador do Cosmo – Corpo de Socorro em Montanha. Esse é o primeiro grupo de resgate em montanhas do país, criado há quase três décadas. O grupo é uma associação civil sem fins lucrativos, formada por montanhistas voluntários – todos bem treinados – que prestam serviços de prevenção de acidentes, resgate de acidentados, busca de perdidos, manutenção e conservação de trilhas e vias de escalada. Sua área de atuação compreende o Parque Estadual Marumbi e o entorno, na Serra do Mar paranaense. O Cosmo ministra também cursos de formação de técnicos de resgate em montanha para a sociedade civil e entidades do Estado, como o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), e a Polícia Militar, através do Corpo de Bombeiros.
A importância da integração de todos os segmentos presentes foi enfatizada por José Roberto de Toledo, diretor e 2º secretário da Associação dos Radioamadores do Paraná (ARPA). Toledo explanou sobre a estrutura e o funcionamento desse serviço, estabelecido através de uma grande rede de voluntários, e relatou as iniciativas para estimular a formação de novos operadores de rádio. “Tentamos formar o maior número possível de radioamadores, para que estejam preparados e possam atuar nos momentos de crise, quando até grandes cidades também ficam sem comunicação”, comentou. Ele chamou a atenção para a situação enfrentada, há pouco tempo, pelos moradores do Rio Grande do Sul, em consequência das enchentes que atingiram o estado. “Precisamos formar uma sociedade resiliente”, frisou.
O seminário, que lotou o espaço do Auditório Legislativo, contou ainda com as participações de inúmeras outras autoridades, representantes da iniciativa privada e voluntários que atuam no setor em diversas regiões do Brasil. O debate foi transmitido ao vivo pela TV Assembleia e redes sociais oficiais – e já está disponível no canal do YouTube. O evento deu continuidade a programação promovida no período da manhã na Casa Legislativa, quando aconteceu uma sessão solene em homenagem a agentes da Defesa Civil (Leia mais no site).
Confira o seminário na íntegra:
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