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Um levantamento inédito sobre a participação feminina no secretariado brasileiro indica que apenas 28% dos cargos são ocupados por mulheres, totalizando 341 secretárias em todo o país. Os dados são do primeiro Censo das Secretárias, realizado pelos Institutos Aleias, Alziras, Foz e Travessia Políticas Públicas, com apoio da Fundação Lemann e Open Society Foundations.
O estudo abrangeu 698 órgãos estaduais e 536 municipais, focando em secretárias que exerceram suas funções entre novembro de 2023 e março de 2024. Nesse período, apenas uma capital, Natal, e três estados — Alagoas, Pernambuco e Ceará — conseguiram alcançar a paridade de gênero. Em contrapartida, 20 estados e 16 capitais não atingiram 30% de mulheres em seus secretariados.
Os dados mostram que as mulheres estão mais presentes em áreas sociais, representando 53% nos estados e 44% nas capitais. No entanto, a participação feminina em setores considerados estratégicos, como infraestrutura (22% nos estados e 18% nas capitais) e economia (15% nos estados e 30% nas capitais), permanece limitada. As entidades envolvidas no estudo destacam que a concentração em pastas como assistência social e educação pode reforçar estereótipos de gênero, dificultando o acesso a áreas tecnológicas e de engenharia.
A pesquisa também abordou o perfil racial das secretárias. Entre as respondentes, 57,4% se identificam como brancas, 37,8% como pretas ou pardas, 3% como indígenas e 2% como amarelas. A maioria das secretárias (66%) possui 21 anos ou mais de experiência, e 61% passaram a maior parte de suas carreiras no setor público. Apesar da experiência, metade delas ocupa o cargo pela primeira vez, o que sugere uma recente inclusão feminina em posições de liderança.
A presença de mulheres com deficiência é baixa, com apenas 1,3% se autodeclarando nessa categoria. A pesquisa revela que quase metade das secretárias possui algum vínculo partidário, e uma em cada cinco já exerceu funções de direção em partidos. As secretárias que se identificam como negras relataram maior influência do ativismo feminista em suas trajetórias, sugerindo que a participação em movimentos sociais pode contribuir para a ascensão a cargos de liderança.
Em relação às intenções futuras, 77% das secretárias afirmaram que desejam continuar no setor público, mas apenas 17% manifestaram interesse em candidatar-se a cargos eletivos.
O censo recomenda a criação de leis de paridade de gênero nos secretariados e a realização de pesquisas adicionais sobre a relação das secretárias com os partidos. A segunda etapa do censo, prevista para novembro, deve abordar temas como trabalho doméstico e violência política de gênero e raça, além de apresentar uma análise final dos desafios enfrentados por mulheres em posições de liderança.
Agência Brasil
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