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Por Arquiteta Adriana Lima
Em nossa coluna já abordamos a importância da neuro e psicoarquitetura na construção de espaços mais saudáveis e produtivos. A psicoarquitetura reconhece que os ambientes têm um impacto profundo em nossas emoções e comportamento.
Para explicar melhor a profundidade desse tema, vamos trazer como exemplo um objeto decorativo muito usado em arquitetura, interiores e paisagismo, o espelho como um elemento reflexivo que pode nos trazer emoções e manipular nossas percepções, produzindo ilusões, como vimos no último post.
Vamos analisar quais os efeitos psicológicos que os espelhos podem proporcionar quando aplicados em ambientes internos e externos.
Vídeo 01 (fonte: @gastrodeias): Aqui a experiência de uma influencer a respeito da decoração do Bar Infini, que descreveu como sendo “um mundo paralelo”, marcado pelo contraste de ambientes do antigo ao moderno.
Projetado pelo escritório Futura Estudio, o Bar Infini em São Paulo, segue o conceito de Bar Speakeasy ou bar secreto. Conhecido por seu design sofisticado e inovador, utiliza espelhos de maneira estratégica para criar um ambiente amplificado, já que a repetição de espelhos nas paredes e teto dão o efeito de caleidoscópio.
O objetivo desta composição é proporcionar uma experiência sensorial imersiva, aumentando a sensação de amplitude e fazendo referência ao futuro. Embora o recurso de espelhos aliado à iluminação de led em movimento, favoreça a interação social e torne a decoração singular, pode também causar mal-estar em pessoas com maior sensibilidade.
Assim, para a psicoarquitetura, o ideal é reduzir a intensidade de repetição ou movimento) das linhas de LED para diminuir a sobrecarga sensorial.
Os espelhos são elementos versáteis na decoração, capazes de transformar visualmente um espaço e influenciar as emoções e reações dos ocupantes. Além do uso tradicional para dar o efeito de profundidade, ampliar e iluminar o ambiente, os espelhos causam diversas sensações psicológicas que muitas vezes não percebemos, mas influenciam na forma como nos comportamos nos ambientes onde estão inseridos.
A exemplo da Equinox, uma franquia de academias de luxo dos EUA, os espelhos são úteis para os alunos se observarem e ajustarem suas posturas e movimentos, promovendo uma prática de exercícios mais segura e eficiente. Psicologicamente falando, esse recurso pode aumentar a autoconfiança e a satisfação pessoal com o progresso físico de seus usuários.
Fazendo uma análise psicoarquitetônica, a fachada da loja de luxo Louis Vuitton em Paris, com a repetição de espelhos tem como objetivo criar uma sensação de continuidade e expansão do espaço ao refletir os edifícios vizinhos, mas ao mesmo tempo pode trazer a sensação de restrição e de exclusividade.
O impacto psicológico no pedestre ao ver o próprio reflexo em um contexto de luxo e design sofisticado pode elevar a autoestima e proporcionar uma experiência momentânea de glamour. Essa interação pessoal com a fachada pode criar uma conexão emocional mais profunda com a marca, tornando a visita à loja uma experiência única e personalizada.
O recurso do espelho como efeito reflexivo e suas sensações pode ser analisado além do design de interiores, como experiência imersiva para instalações de arte. Aqui, trouxemos o exemplo da instalação “Infinity Mirrored Room”, da artista Yayoi Kusama, no Museu The Broad em Los Angeles.
Nesta mostra, ela utilizou espelhos em todas as superfícies internas, para criar a sensação de infinito. Os espelhos refletem luzes LED coloridas, proporcionando uma experiência visualmente hipnotizante e emocionalmente intensa aos seus visitantes.
Para a psicoarquitetura, esta composição desafia a percepção espacial, criando uma sensação de imensidão e transcendência. Esta experiência pode evocar sentimentos de maravilha e introspecção, destacando o impacto emocional que o design espacial pode ter.
O efeito reflexivo do espelho pode ser reproduzido como atração visual em espaços comerciais, como na loja Apple Store em Nova York, projeto do escritório de arquitetura Bohlin Cywinski Jackson.
O elevador circular em conjunto com uma escada escultórica de aço inoxidável e vidro tem o propósito de estimular o engajamento e a experiência do cliente reforçando a imagem futurista da Apple, além de refletir infinitamente a paisagem vibrante do centro de Nova Iorque.
O efeito psicológico deste design e sua reflexão, trazem uma experiência sensorial única onde o cliente, com a interação da sua própria imagem no ambiente de luxo, tem a sua autoestima elevada proporcionando uma sensação de pertencimento a um grupo exclusivo de consumidores.
O uso de espelhos no paisagismo ainda é novidade. Acima a instalação artística de Jeppe Hein, na Dinamarca, cria reflexos dinâmicos do sol, da lua e da terra, proporcionando uma experiência visual contínua que muda com a luz do dia e as fases da lua.
O pavilhão reflete o ambiente natural circundante, criando uma fusão entre a arquitetura e a natureza. A experiência de ver a natureza, céu e os elementos celestes refletidos incentiva a meditação, promovendo um estado de calma e introspecção.
A experiência visual dinâmica e a mudança constante dos reflexos estimulam os sentidos, criando uma experiência envolvente. Espelhos que refletem os visitantes incentivam a interação e a observação, criando momentos de conexão e empatia entre as pessoas.
Ao utilizarmos a psicoarquitetura para analisarmos os exemplos reais apresentados no uso dos espelhos, podemos concluir o quanto as nossas escolhas de projeto podem impactar as percepções dos usuários.
Com a aplicação dos espelhos exemplificamos como o uso de maneira estratégica pode inibir comportamentos indesejados, restringir ou ampliar a compreensão do ambiente e estimular reações emocionais positivas.
Assim, através do estudo da psicoarquitetura entendemos melhor as emoções provocadas pelo design, podendo projetar de forma mais assertiva a especificação de materiais, cores, formas e função, maximizando não apenas a estética dos espaços, mas promovendo o bem-estar psicológico e emocional dos usuários, criando ambientes mais harmoniosos e funcionais.
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Arquiteta Adriana Lima
Pesquisadora em neuroarquitetura e psicoarquitetura
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https://www.equinox.com/clubs/new-york/uptown/sportsclubnewyork
https://www.tiktok.com/@gastrodeias/video/7085751081623407878
https://secretlosangeles.com/livestream-of-yayoi-kusamas-infinity-room-the-broad/
https://www.archdaily.com.br/br/925345/apple-store-fifth-avenue-foster-plus-partners
https://www.presseportal.de/pm/56850/5607328
https://jeppehein.net/project_id.php?path=publics&id=317
https://www.koeniggalerie.com/blogs/public-projects/jeppe-hein-eye-of-north
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