Por Caio Henrique Lopes Ramiro
No último dia 8 de junho faleceu Maria da Conceição Tavares. Foi uma destacada personalidade pública, economista e professora, uma das fundadoras do departamento de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Exerceu cargos públicos de relevância em sua trajetória — deputada federal entre os anos de 1995-1999 —, contudo, nos últimos tempos, os vídeos de suas aulas vinham ganhando projeção, em especial na internet.
O “sucesso” dos vídeos com recortes das aulas da professora Conceição Tavares muitas vezes é atribuído a sua “performance”. Algo como uma postura “politicamente incorreta” em tempos falsamente decentes. No entanto, pensamos que a mensagem da professora Conceição Tavares chama a atenção por sua rebeldia.
Este traço muitas vezes anunciado na aula inaugural de seus cursos, oportunidade em que os discentes tomavam conhecimento de que o curso mesmo seria rebelde, também aparece em seus escritos, algo como uma “raiva periódica” que para a professora tinha que se transformar em energia para mobilizar a crítica.
Estabeleceu inúmeros diálogos críticos, tendo como ponto de apoio Prebisch e a teoria Centro-Periferia e Celso Furtado e a questão do subdesenvolvimento e, não obstante, o horizonte de sua crítica era, em suas palavras, muitas vezes, as “considerações sociológicas” do “ex-princípe dos sociólogos”.
A professora Maria da Conceição Tavares também se colocava politicamente como crítica do fascismo. E, por diversas vezes, chamou a atenção para a articulação entre globalização e totalitarismo, o que se apresentaria como uma espécie de fusão entre a ideologia do mercado global e o utilitarismo, velha concepção ético-política apropriada pelos neoliberais.
Tomava de empréstimo a expressão de Samuelson para denunciar que esta aproximação significava um fascismo de mercado, ou seja, há, por parte deste último, uma pretensão de controle total da vida e o mito do livre mercado trabalha com implicações ideológicas como a livre concorrência, por exemplo.
Logo, torna-se imperioso notar um cenário em que há apenas um simulacro de instituições democráticas que, no fundo, conforme Maria Conceição Tavares, submetem-se ao “globaritarismo”, ou seja, um “capitalismo globalitário” em que se nega ideias como a de soberania nacional e, além disso, tem por alvo privilegiado o Estado como a encarnação do mal.
Diante deste quadro, a questão a se observar para a professora Maria da Conceição Tavares é que esta ordem “globalitária” ou, se preferirmos, do fascismo de mercado, tem um modobastante curioso de atuação, a saber, a recusa ou negação da dissidência, isto é, da liberdade e do dissenso, o que implica uma forma unidimensional de vida, significa dizer que esta última deve tomar a forma da empresa.
Por aqui, não basta a “performance” do “politicamente incorreto”, é preciso, isto sim, a coragem de ousar o pensamento, portanto, a rebeldia da professora Maria Conceição Tavares é, como se vê, uma forma de vida crítica ao fascismo, em especial da imagem econômica deste último, uma importante denúncia da ideologia do neoliberalismo.
Comentários estão fechados.