Por Larissa Warnavin e Renata Adriana Garbossa Silva
O aumento dos riscos de desastres relacionados às mudanças climáticas tem destacado a importância de conceitos antigos nas ciências ambientais, agora reintroduzidos de forma mais acessível.
Um exemplo é o conceito de cidades-esponja. A crescente concentração de pessoas nos centros urbanos, aliada à impermeabilização do solo causada por asfalto e construções, dificulta a drenagem e a absorção da água das chuvas. Isso resulta em um maior volume de água escoando para os rios, o que pode ocasionar enchentes e inundações, especialmente em períodos de chuvas intensas.
De acordo com o Censo de 2022 do IBGE, 61% da população brasileira vive em áreas urbanas. São 1.942 cidades e cerca de 8,9 milhões de pessoas em áreas de riscos de desastres, de acordo com levantamento realizado em novembro de 2023 pela Casa Civil e Ministério das Cidades.
A crescente concentração de pessoas nos centros urbanos, aliada à impermeabilização do solo causada por asfalto e construções, dificulta a drenagem e a absorção da água das chuvas. Isso resulta em um maior volume de água escoando para os rios, o que pode ocasionar enchentes e inundações, especialmente em períodos de chuvas intensas.
Para enfrentar esses problemas hidrológicos, foram desenvolvidas alternativas que tornam as superfícies urbanas mais permeáveis à água da chuva. Proposto pelo arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu, surge então, o conceito de cidades-esponja, com o objetivo de oferecer soluções que melhorem a absorção da água da chuva nas áreas urbanas, diminua a temperatura das cidades e introduzir áreas verdes que entre outras funções sejam utilizadas para lazer.
As cidades-esponja adotam diversas estratégias como:
- Infraestruturas verdes: praças, parques, jardins, telhados-verdes, recomposição de matas ciliares e outras áreas verdes que podem absorver água, estes espaços ajudam a infiltrar água no solo, reduzindo o escoamento superficial.
- Infraestruturas azuis: corpos d’água como rios, lagos e canais que estejam interligados aos sistemas de drenagem urbana, auxiliando na gestão das águas e a controlar as enchentes.
- Pavimentos permeáveis: utilização de materiais que permitam a infiltração da água como concreto permeável e asfalto poroso, ao contrário dos pavimentos tradicionais.
- Reservatórios subterrâneos: para captar e reter a água da chuva, que pode ser reutilizada ou liberada lentamente para reduzir a pressão nos sistemas de drenagem.
Alguns exemplos de cidades-esponja podem ser observados na China, que iniciou o programa em 2015 com o objetivo de transformar 80% das áreas urbanas para que possam absorver e reutilizar 70% da água da chuva até 2030.
Cidades piloto como Xiamen, Wuhan e Shenzhen estão liderando esse movimento. Em Cingapura, o conceito de cidade esponja foi adotado pelo programa ABC Waters, que integra parques, vias navegáveis e sistemas de drenagem naturalizados.
Um exemplo é o Parque Bishan-Ang Mo Kio, que reduz significativamente as enchentes e melhora a qualidade da água. Em Seul, na Coréia do Sul, foi implementada uma série de projetos de infraestrutura verde e azul que resultaram na redução das enchentes em até 25% em áreas urbanas densamente povoadas.
Também na Filadélfia, nos Estados Unidos da América, o programa “Green City, Clean Waters” que ocorre há maios de dez anos, vem instalando infraestrutura verde em 4047 hectares, para reduzir o escoamento de águas pluviais em 80% ao longo de 25 anos.
Embora os altos custos de implementação dessas soluções, como a abertura de canais e a substituição do asfalto convencional, possam ser um desafio, as cidades-esponja representam uma abordagem promissora para tornar as cidades mais resilientes às mudanças climáticas. Elas se aproximam dos ecossistemas florestais, promovendo o equilíbrio entre desenvolvimento urbano e sustentabilidade ambiental.
As cidades-esponja demonstram que é possível conciliar urbanização com práticas sustentáveis, garantindo um futuro mais seguro e equilibrado para as áreas urbanas diante das crescentes ameaças climáticas.
Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
Renata Adriana Garbossa Silva é geógrafa, pedagoga, mestre em geologia e doutora em Geografia. Coordenadora da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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