Portal de boas-vindas da Companhia de Terras Norte do Paraná para recém-chegados em Londrina, na década de 1930. | Foto: Acervo/Londrina Histórica
Com gravações no Paraná, São Paulo e, também, fora do Brasil, ‘Epopeia em Terras Roxas’ vai retratar aspectos ainda não revelados e pouco abordados sobre a empresa que ajudou a fundar mais de 60 cidades, entre elas Londrina e Maringá.
Por Redação
Durante pouco mais de 70 anos desde a emancipação política do Paraná, ocorrida em 1853, o desenvolvimento urbano e econômico do Estado ficou restrito às regiões sul, oeste e centro-oeste, onde o clima favorecia o cultivo da erva-mate, principal cultura na balança econômica até aquele momento. Na região Norte, o caminho rumo ao progresso passou a ser traçado já na segunda década do século XX.
Graças a articulação e ao engajamento de investidores britânicos que migraram para cá, em 1925 foi fundada a Companhia de Terras Norte do Paraná, que executou ampla estratégia que envolvia o desenvolvimento urbano e rural na região, dando início a colonização – termo utilizado à época para empreendimentos imobiliários, e propiciando o surgimento de mais de 60 cidades, entre elas importantes metrópoles, como Londrina, Maringá, Cianorte e Umuarama, as quais se tornaram polo no eixo de sua propriedade que somou mais de 500 mil alqueires paulistas. Ou seja, por volta de 6% do território paranaense foi propriedade da Companhia de Terras.
Quase um século depois, um documentário inédito vai contar parte da história da empresa que se fez fundamental neste enredo. Viabilizado pela Lei Rouanet, “Epopeia em Terras Roxas: O centenário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná” apresentará aspectos ainda pouco estudados, sobretudo, na fase britânica inicial da empresa. Será trazida à tona a trajetória de seus fundadores, que haviam experimentado outras iniciativas pelo mundo antes de chegar ao interior do Brasil, bem como suas relações internacionais e políticas, até a venda dos negócios para um grupo de investidores paulistas, os quais deram sequência e aprimoraram o projeto ao longo das décadas.
Atualmente na fase de pré-produção, o documentário é idealizado pelo Cidades Históricas, juntamente do Londrina Histórica e do Maringá Histórica, e conta com a direção de Miguel Fernando e produção da Cosmos Filmes. De acordo com o diretor, a produção prevê gravações não só no Paraná e São Paulo, mas também na Inglaterra e na Escócia, onde Simon Joseph Fraser, o conhecido Lord Lovat, utilizou-se de sua aristocracia e de seu prestígio para organizar um potente grupo de investidores.
“A Companhia foi a grande responsável por idealizar o grande projeto imobiliário do Norte e do Noroeste do Estado. Apenas na fase britânica da empresa, que vai de 1925 a 1944, foram mais de dez cidades fundadas, entre elas Londrina. A partir de 1944, a empresa é adquirida por empresários paulistas, que expandem seu ramo de atuação”, explica Miguel Fernando, que também assinará o roteiro.
Também na fase inicial, o grupo ainda era proprietário da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná, que visava expandir os trilhos até Guaíra. Mas, próximo ao final da II Guerra Mundial, houve intervenções internacionais e nacionais que resultaram na nacionalização dessa empresa.
Em 1951, os investidores brasileiros optam pela mudança de sua razão para Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), já que haviam ampliado o ramo de atuação. Em plena atividade, além do ramo imobiliário, a CMNP tem se dedicado ao mercado sucroenergético.
Conhecendo figuras importantes da história do norte do Paraná
Um dos aspectos principais que o documentário irá abordar está relacionado com a apresentação, ao público, de figuras importantes não só à Companhia, mas também para a história do Paraná.
“Nossas gravações fora do Brasil serão justamente para dar ao público esta dimensão. Um dos fundadores da Companhia, por exemplo, é Simon Joseph Fraser, um aristocrata escocês com título de lorde que chegou ao Brasil em 1924 para conhecer as terras profícuas de nossa região. Também abordaremos o papel de seus executivos, como Arthur Thomas, igualmente escocês que comandou o processo organizacional da empresa, bem como Antonio Moraes Barros, advogado que assumiu como primeiro presidente do grupo. Barros era neto de Prudente de Moraes, que ocupou a presidência do Brasil no final do século XIX. Outro importante personagem nessa história é Gastão de Mesquita de Filho, que, incialmente, foi responsável pelo projeto ferroviário do grupo e, mais tarde, lideraria os brasileiros na aquisição da empresa. Tratam-se de personagens cujo os nomes estão presentes no imaginário dos paranaenses e da do país. . Não há dúvidas: este será o mais importante material histórico até agora produzido na região”, disse Miguel Fernando.
O documentário tem previsão de lançamento no final de 2024. Primeiramente, o filme circulará as principais cidades do Norte e Noroeste do Paraná. Depois, será disponibilizado gratuitamente em plataformas digitais para o público em geral.
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