Por Vitor Germano
Qualquer um pode ser vítima de algum malandro na internet, e os estudos apontam que isso definitivamente não exclui os “nativos digitais” — Se você é da Geração Z, isto é, nascido em algum tempo entre o final dos anos 90 e a primeira metade da década de 2010 — Você, ou um de seus amigos, estatisticamente caiu em algum golpe ou “engenharia social”.
Aliás, de acordo com uma pesquisa financiada pela Deloitte, uma empresa de consultoria empresarial, membros da geração que cresceu com a internet são vítimas destes crimes com maior frequência que seus avós Baby Boomers.
Quão maior é esta frequência? De acordo com a pesquisa, realizada em cidadãos Americanos, até três vezes mais. Para casos de phishing, roubo de identidade, golpes em aplicativos de encontro, e cyberbullying, os números são 16% na geração Z, contra 5% da geração Boomer.
Para casos de ter uma conta de rede social hackeada os números são respectivamente 17% e 8%. 14% da geração Z também relatou ter suas informações de localização roubadas. É estimado que vítimas de menos de 20 anos tenham perdido cerca de 210 Milhões de Dólares em 2022.
“Essas pessoas são nativas digitais, então a maioria sabe sobre esses perigos”, disse Scott Debb, professor de psicologia na Universidade Estadual de Norfolk, que estudou os hábitos de cibersegurança dos jovens americanos. Em uma pesquisa de 2020, Debb e sua equipe compararam os hábitos de segurança digital das duas gerações “nativas digitais”, a Geração Z e Millennials. Enquanto a Geração Z tinha tanto conhecimento quanto sua contraparte, eles em geral se saíram pior em realmente implementar as boas práticas de cibersegurança em seus cotidianos.
E por que? Por que uma geração de pessoas que provavelmente sabe mais sobre a rede que qualquer outra é tão vulnerável a golpes e hackers?
Há algumas teorias. Com a realidade provável sendo uma combinação de todas.
Uma é que a geração Z simplesmente passa mais tempo interagindo com a tecnologia, e portanto, tem chances maiores de ser vitimizada por meio desta tecnologia.
As gerações mais velhas também compram, socializam, e buscam encontros online — Mas para todas as gerações antes da geração Z, essas tecnologias eram menos diretamente acessíveis. Há uma diferença fundamental entre alguém que tinha que usar um computador de torre em casa para acessar a internet, e comprou seu primeiro smartphone quando já era adulto, e alguém que já sabia a senha do tablet dos pais quando tinha 5 anos. — E essa segunda é bem mais próxima da vida da geração Z, e de sua sucessora que agora está crescendo, a geração Alpha.
A segunda teoria é que para uma geração que já nasceu e cresceu interagindo diariamente com o ciberespaço, há uma tendência a priorizar conveniência sobre segurança.
Uma vez logado em um App como TikTok ou Instagram, você continua logado neste App, criando um ponto de ataque óbvio, o chamado ‘roubo de cookies’ é usado para todo tipo de maldade digital. Se toda vez que o usuário decidisse usar um aplicativo ele tivesse de realizar o login novamente, ele seria mais seguro, mas também seria mais inconveniente. Enquanto gerações anteriores, até mesmo a geração diretamente antes da geração Z, aceitam esse tipo de fricção, ela é fundamentalmente desagradável para estes jovens que cresceram com tudo na palma da mão.
A terceira teoria é que a educação em cibersegurança para crianças e adolescentes tem sido insuficiente para ensiná-las práticas de segurança online de uma forma que faça sentido para a experiência vivida destes jovens na rede.
Há outro fator também: Os especialistas apontam que a responsabilidade pela segurança digital não deve cair somente sobre os ombros do usuário. Muitos dos apps e sistemas, projetados como são para serem convenientes e rápidos, podiam e deviam estar fazendo mais para proteger seus usuários. Um especialista sugeriu a ideia de plataformas de mídia social enviarem “e-mails de teste de phishing”, tal como acontece em algumas empresas.
Mas a realidade é que talvez a chave para preparar as gerações mais jovens para um mundo cheio de golpes digitais seja ajudar estes jovens a entender os sistemas que incentivam estes golpes a existir em primeiro lugar. “Por que estes golpes acontecem, quem está por trás deles, e o que podemos fazer sobre? Eu creio que estas sejam as últimas sinapses que precisamos conectar”, disse Kyla Guru, pesquisadora de Ciência da Computação.
Foto ilustrativa: Pixabay
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