Júlia Wanderley: A professora que virou nome de rua em mais de 100 municípios do Paraná

Mais de 100 anos após a sua morte, o nome da primeira professora do Paraná segue preservado na história de ruas e escolas.

  • Me lembro com detalhes daquele dia. Uma quarta-feira, 28 de agosto de 2023, exatamente às 13h23. Estava retornando de uma caminhada no Parque Ambiental, em Ponta Grossa, quando me deparei com uma placa que me parecia familiar.

    A cerca de 50m da famosa Mansão Vila Hilda, um de meus poucos pontos de referência na cidade até aqui, uma placa indicava o nome de uma rua: Júlia Wanderley. A placa já maltratada pela ação do tempo, com arbustos cobrindo parte dela, mas por que ela me chamou tanto a atenção? Simples, já havia visto aquele nome em algum lugar.

    Há pouco mais de 7 meses morando nos Campos Gerais, não esperava encontrar uma rua com o mesmo nome da rua onde morava a minha avó, em Nova Esperança, no noroeste do Estado, 400km distante de meu novo lar. Ali, fiquei decidido a buscar a história por trás do nome dessas duas ruas. Surpreso – e também feliz – me senti ao ver que as ruas Júlia Wanderley de Ponta Grossa e de Nova Esperança não eram as únicas.

    Júlia Wanderley nasceu em Ponta Grossa em 26 de agosto de 1874. Logo aos cinco anos de idade, mudou-se com a família para Curitiba, onde se tornaria, anos depois, uma das personagens centrais da Educação no Paraná. Entre o fim do século XIX e início do século XX, é válido reforçar, as mulheres não podiam frequentar as escolas sem a permissão dos maridos e, mesmo com essa autorização, não eram todas as instituições abertas a recebê-las.

    Júlia tinha um sonho: queria ser professora. Como ainda não era casada, escreveu em 1891, aos 17 anos de idade, uma carta endereçada ao Governo do Paraná, pedindo autorização para frequentar a Escola Normal de Curitiba, destinada a formação de docentes. Com a permissão para estudar, encorajou outras mulheres a também ingressarem no mesmo espaço.

    Após a formação na Escola Superior, se tornou docente e lecionou por quase 25 anos, tendo sido a primeira professora da história do Paraná, além de também ter sido a primeira mulher a integrar o Conselho Superior do Ensino Primário e diretora da Escola Intermediária de Curitiba.

    Julia faleceu aos 45 anos de idade, também na capital onde trabalhou e constituiu vida, no dia 5 de abril de 1918. Nove anos depois, em 1927, ela ganhou uma estátua em sua homenagem em frente ao campus sede da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sendo a primeira mulher a receber esse tipo de homenagem no Estado. Homenagens, essas, que não pararam por ali.

    A partir da década de 1940, se intensificaram Paraná a dentro as homenagens para a então professora em nomes de ruas e escolas. Curioso que sou, fiz um levantamento prévio com dados de Prefeituras de todo o Estado, constatando ruas com o nome de “Júlia Wanderley” em, ao menos, 139 municípios. Um movimento importante na busca por preservar a história, mas ainda insuficiente para dar as condições de vida e trabalho que esses profissionais merecem.

    Justo trazer este pequeno fragmento em 15 de outubro, Dia do Professor. Minha singela homenagem à aqueles que contribuem, todos os dias, para mudar o destino de milhares de estudantes.

    Legenda: Placa que dá nome à rua Júlia Wanderley, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais | Foto: Victor Ramalho

    Crônica escrita por Victor Ramalho. Jornalista, mestrando em Jornalismo e Repórter do Maringá Post

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