Nessa sexta-feira (25), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) chancelou o Torneio dos Campeões de 1937, vencido pelo Galo Mineiro, como título nacional. O time maringaense também venceu o torneio, em 1969, embora a competição não tenha o mesmo reconhecimento da entidade.
Por Victor Ramalho
Desde às 17h dessa sexta-feira, 25 de agosto de 2023, o Atlético-MG se autodenomina nas redes sociais do clube como tricampeão brasileiro. Campeão da primeira competição oficialmente organizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 1971, o Galo esperou 40 anos para voltar a conquistar o Campeonato Brasileiro, em 2021.
Após a última conquista, no entanto, a diretoria do clube entrou com um ofício na CBF para reconhecer o Torneio dos Campeões de 1937, vencido pela equipe mineira, como uma competição nacional análoga à Série A. A chancela da entidade máxima do futebol nacional veio nessa sexta e, agora o Atlético volta a ser reconhecido como o primeiro campeão nacional, posto antes ocupado pelo Bahia, campeão de 1959.
Mas se o Galo mineiro pode considerar o Torneio dos Campeões como Campeonato Brasileiro, o Galo maringaense também poderia? Pois é, apesar de poucos se lembrarem, o Grêmio Maringá já venceu essa mesma competição, lá em 1969. O torneio, no entanto, não tem o mesmo reconhecimento de Campeonato Brasileiro por parte da Confederação Brasileira de Futebol.
O contexto da época: Brasil sem representantes na Libertadores
Para entender a história, é preciso voltar um pouco no tempo: 1968. Naquele ano, enquanto a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) preparava a transição para o que viria a se tornar, de fato, o Campeonato Brasileiro nos anos seguintes, duas competições nacionais foram organizadas pela entidade: Taça Brasil e Taça de Prata.
A Taça Brasil, que era a principal competição nacional da época, serviria para enviar o campeão para a disputa da Copa Libertadores do ano seguinte, representando o Brasil. Problemas de calendário, no entanto, impediram que a CBD conseguisse concluir o torneio antes do início da competição continental do ano seguinte, uma vez que a Taça Brasil de 1968 só foi finalizada em outubro de 1969, vencida pelo Botafogo.
Numa tentativa de garantir a participação brasileira na Libertadores, a Confederação acabou indicando para o torneio as participações de Santos e Botafogo. No entanto, nenhuma das equipes participou da Libertadores de 1969 por conta de discordâncias entre a CBD e a Conmebol, entidade Sul-Americana.
Com o calendário brasileiro atrasado e o país correndo o risco de, por mais uma vez, não conseguir ter representantes na competição continental, foi organizado em 1969 o Torneio dos Campeões, com o mesmo nome e formato do título de 1937, reconhecido ao Atlético-MG.
O torneio ocorreu em paralelo ao término da Taça Brasil de 68 – que só foi concluída no ano seguinte -. Para o Torneio dos Campeões, a CBD designou o Grêmio Maringá, campeão do Torneio Centro-Sul 1968, Sport Recife, campeão do Torneio Norte-Nordeste 1968, Santos, campeão da Taça de Prata de 1968 e Botafogo, líder e eventual campeão da Taça Brasil de 1968.
Em um formato quadrangular, o objetivo era que a competição acabasse a tempo de se enviar o campeão para a disputa da Libertadores de 1970. Na primeira fase, o GEM eliminou o Sport Recife após duas vitórias por 3 a 0.
Pela semifinal, o time maringaense enfrentou o Santos. Após dois empates, em 1 a 1 e 2 a 2, ambos no Willie Davids, o Santos desistiu de jogar a terceira partida, que seria de desempate, por falta de datas, sendo o Grêmio o vencedor por WO e classificado para a decisão.
Na final, que seria disputada contra o Botafogo, a equipe carioca também desistiu de jogar, alegando falta de datas e também em protesto contra a CBD, por não ter enviado representantes brasileiros para a Libertadores. Com isso, o Grêmio Maringá foi declarado campeão.
Apesar disso, o time maringaense não disputou a Libertadores de 1970, que não teve equipes brasileiras, mais uma vez, por desacertos entre CBD e Conmebol.
No passado, GEM já tentou reconhecimento do título como Campeonato Brasileiro
Em dezembro de 2010, logo após a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciar a unificação da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, disputados entre 1959 e 1970, como Campeonatos Brasileiros análogos à Série A, o então presidente do Grêmio Maringá, Aurélio Almeida, chegou a anunciar que o clube também buscaria a chancela de Campeão Nacional.
“Isso não vai ficar assim, vamos atrás do que é nosso por direito. O Grêmio Maringá conquistou este título e é com respeito à história do nosso clube e a todos os torcedores maringaenses que vamos reivindicar este título”, declarou o dirigente na época.
Naquele mesmo mês, no entanto, o jornalista Odir Cunha, responsável pelo dossiê sobre as duas competições chanceladas pela CBF, declarou que torneios anteriores a 1959 dificilmente poderiam ser reconhecidos como Campeonato Brasileiro.
Cunha preparou o documento para o reconhecimento da Taça Brasil e do “Robertão” a pedido do Santos FC, uma das equipes que teve títulos reconhecidos ao lado de Palmeiras, Botafogo, Fluminense e Cruzeiro. Em entrevista ao portal Terra, no dia 30 de dezembro daquele ano, o profissional chegou a declarar, sobre o caso específico do GEM, que pedir o reconhecimento da CBF seria “forçar a barra“.
“O torneio vencido pelo Grêmio Maringá foi abortado no meio da competição e nunca mais foi repetido. Foi um fracasso e, por isso, abandonado. A CBD sequer designou um time para a Libertadores do ano seguinte”, declarou.
Além do Grêmio Maringá, de 1969, outra equipe também conquistou um torneio equivalente a Campeonato Nacional que não é reconhecido pela CBF: trata-se do Paulistano, de São Paulo, campeão da Copa dos Campeões Estaduais de 1920. Todos esses torneios são descritos no livro “Dossiê: Unificação dos Títulos Brasileiros a Partir de 1959“, lançado em 2011 pelo próprio Odir Cunha em coautoria com o ex-presidente do Santos, José Carlos Peres.
Legenda: Equipe do Grêmio Maringá que disputou o Torneio dos Campeões de 1969 | Foto: Acervo/Blog do Zé Duarte “Futebol antigo”
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