O som do “sim” é um silêncio que precede a loucura

Atrás do “sim” está o “conforme-se”, e atrás do sorriso silencioso do conformismo está o grito esganiçado da infelicidade.

  • Para o antigo autor de autoajuda: Diga “sim” sempre, é o caminho da felicidade.

    Para o coach moderno: diga “sim” e verá a mudança no seu mindset.

    Para o gnóstico místico: o símbolo da vida é o “sim”.

    Para o artista: esperança é o “Sim”.

    Peço perdão aos que construíram a história, ou mesmo aos positivos, aos pollyânicos, aos senhores superiores da felicidade incondicional, aos reis da simpatia arrogante e aos predicadores do “sim”. Mas, permita-me discordar.

    Não, senhor… Atrás do “sim” está o “conforme-se”, e atrás do sorriso silencioso do conformismo está o grito esganiçado da infelicidade. O sim incondicional, na verdade, é um silêncio de luto para a hecatombe da crença, da dignidade, do senso-crítico e da vontade.

    O minuto de silêncio pela morte do ideal é perene. Só é possível viver com ele se pudermos assassinar mais ideais todos os dias. É o ciclo vicioso do conformismo, e o vampiro faminto do “sim”, que se alimenta, através de suas presas asseverativas, daquilo que todo homem acredita – querendo ou não – e que mata voluntariamente. E com essa receita – como diria John Lennon – você pode viver essa mentira até morrer.

    O “sim” não é seu. O “sim” é alugado. A concordância só é possível para algo que você recebe de outrem, só concorda-se com aquilo que não é seu. É o seu contrato de adesão.

    O “Não” é pessoal, é faculdade, é posse e propriedade, você é capaz de dar a Sua negação, você escolhe negar por usar a Sua convicção, você retifica e autentica: dá o Seu “não” e ele tem a Sua assinatura. O “sim” entra, o “não” sai.

    Estamos na década do autoconhecimento narrativo, do conhecimento copiado, do intelecto repetido, da originalidade de papagaio, da positividade irracional. Por isso se negar é uma profundidade que assusta nosso relógio.

    Nesse sentido, onde está a esperança? A esperança está no “Não”. Está na negação ao senso-comum, na libertação da acomodação, no esclarecimento de que a dor está na mentira e não no risco da verdade.

    Não é coragem, não é revolta, não é pecado, não é dissimulação. Isso é desconstrução. A negativa pode estar na própria negativa, uma não-não, uma negação da negação, e talvez assim a coragem da verdade possa estar escondida por trás de um sim imediato por um não posterior ao não

    Mas no final das contas: você teria coragem de dizer “sim” pra esse texto?

    Imagem: Freepik / Foto criada por @nensuria

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