Por Fernando Rodrigues de Almeida
Na última semana assistimos, nos noticiários a mais um trágico episódio sobre crime envolvendo um adolescente, uma escola e vítimas fatais. Falo aqui sobre o caso em Vila Sônia em São Paulo, mas poderia estar falando de Suzano, Realengo, Aracruz, Sobral.
Esses casos tem em comum a ideia de um jovem contra colegas e professores, uma pintura que tende a ser romantizada à leitura norte-americana. O discurso do Bullying vem à tona. Pensar na ideia de um jovem, à mercê do sofrimento e da humilhação de seus colega é ao mesmo tempo que um caminho mais fácil é também menosprezar o próprio jovem.
É certo que o Bullying é uma realidade, preocupante, mas é um conceito genérico, que diferente dos filmes dos anos 1980 não é bicolor em que os motivos que criam os arquétipos entre agressor e agredido são fáceis de ler. O problema já começa aí.
Mas a leitura mais difícil é se debruçar no problema do que leva um jovem ao ódio. É somente a violência direta? Ou talvez tenhamos uma violência estrutural muito mais profunda? Então vamos deixar de desculpas fáceis e pensar o que nós, sociedade dos adultos também temos a ver com isso.
Ódio é um conceito também muito plural, mas a forma como passamos a lidar com o ódio na contemporaneidade é diferente, é massivo, é digital. A forma como o ódio passou a fazer parte da nossa vida entrou no plano social, criando barreiras e gerando atos dos menores, como famílias separadas até monumentais, como foi o caso dos atos violentos contra a democracia de 8 de janeiro. Pense, adultos, com seu horizonte de conceitos já formados, foram tomados pelo ódio.
Agora, vamos mirar nossos óculos aos jovens. Esse ódio perpassa neles, em tempos em que tudo é aumentado sobre além da vida. E aí começamos a ter movimentos.
O jovem, tendo que lidar com a frustração natural da sua vida social, se frustra, como todos nós nos frustramos, com suas primeiras relações amorosas, porém agora não é mais a tristeza superdimensionada que ele tem, é o ódio, e grupos virtuais de “acolhimento”. RedPills, Misoginia, padrões lógicos de comportamento baseados em estereótipos e conspirações. Ódio. Adoração à armas, grupos extremistas, redes sociais.
Sim, todo jovem sempre foi influenciável pelo seu meio, mas já tivemos tanto ódio assim? Na sua adolescência o ódio era tão palpável?
É porque não estamos lidando apenas com ódio, mas sim com a frustração adulta de uma falência de nosso tempo, da velha geração a que tudo foi prometido e nada foi cumprido, a velha geração que achava que ia ter tudo a seus pés e nunca teve, e se frustrou, e não soube lidar, transformou frustração em narrativa da derrota pelo ódio. Isso já adultos. Mas nossos jovens estão debruçados em nossos traumas, preconceitos e frustrações.
O ponto é, bullying existe, mas se esconder que os jovens que cometem atrocidades estão afogados no extremismo ideológico para muito além de suas relações sociais, mas também pela forma que se veem no nosso mundo adulto, é mais difícil e menos digestivo.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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