O desempenho das mulheres em quadras, pistas, areias ou na água ajuda a elevar o patamar do esporte paranaense. Elas são destaques em todas as modalidades e também na arbitragem e em funções na área de gestão. No Mês da Mulher, a Secretaria estadual do Esporte e a Agência Estadual de Notícias prestam uma homenagem a expoentes que colocaram o Paraná no cenário nacional.
Beatriz e Débora Carneiro, gêmeas da natação paralímpica; Vanessa Redes, árbitra internacional de vôlei sentado; Bethânia Inara de Oliveira, diretora da Secretaria; Joyce Baptista, ex-atleta de Basquete e profissional de Educação Física; e Marcia Naves, técnica de ginástica rítmica, falam sobre suas trajetórias, as conquistas e os grandes desafios.
Como todos os jovens de 25 anos, Beatriz e Débora gostam de passear, ir ao cinema, sair com os amigos e curtir as redes sociais, mas o que as diferencia é que elas são atletas profissionais. Nascidas em Maringá, as gêmeas da natação vêm se destacando no paradesporto brasileiro.
Ambas competem na categoria S-14, para atletas com deficiência intelectual, e já participaram de uma imensa lista de competições nacionais e internacionais como Mundiais, Parapan-americanos e até Paralímpiadas. Elas passaram pelo programa Geração Olímpica e Paralímpica, que recebe patrocínio da Copel.
As meninas começaram a nadar aos 12 anos e, desde então, o amor pelo esporte só cresceu. “A gente foi gostando e se encontrando na natação e o esporte foi abrindo portas”, comenta Beatriz.
Ela e Débora iniciaram a carreira no cenário estadual, mas não demorou para que chegassem em competições maiores. Em 2015, as duas participaram da primeira competição internacional, o Open Internacional das Loterias Caixa. Em seguida passaram a integrar o ranking mundial do Comitê Paralímpico Internacional e a trajetória de campeonatos só cresceu.
Entre os resultados que mais se destacam está o Mundial de 2017, que aconteceu no México, no qual Débora venceu nos 50 e 100 metros peito, além de ter sido vice-campeã nos 50 e 200 metros borboleta. Na mesma competição, Beatriz conquistou a prata nos 100 metros peito.
Já nos Jogos Parapan-americanos de 2019, em Lima (Peru), Beatriz subiu ao pódio três vezes, com ouro nos 200 metros medley, prata nos 100 metros medley e bronze nos 200 metros livre. Débora foi campeã nos 100 metros peito e vice-campeã nos 200 medley.
Além desses campeonatos, as gêmeas alcançaram um dos maiores sonhos de todo atleta: fazer parte da seleção brasileira nos Jogos Paralímpicos. Beatriz foi para Rio 2016 e para Tóquio 2020. No Japão, conquistou a medalha de bronze nos 100 metros peito. Débora não foi para Rio 2016 por causa de uma apendicite, mas em 2020 integrou a seleção e conquistou o bronze no revezamento 4×100 livre.
“As pessoas ainda não conseguem entender o que é uma deficiência intelectual, ficam falando mal, não entendem a nossa história. A gente ainda sofre preconceito, mas eu nem ligo mais”, comenta Beatriz. “Até hoje a gente sofre preconceito pela nossa deficiência, por não conseguir acompanhar nossos amigos na escola, ou não interpretar certas coisas que a gente não entende”, complementa Débora.
E a superação de todo e qualquer desafio acontece mediante empatia e inspiração em outras mulheres. A atleta Ana Marcela Cunha, da maratona aquática, é uma das impulsionadoras. A mãe Vivalda, que faleceu quando elas tinham 11 anos, também. “Elas nos ensinaram a ser guerreiras, enfrentar os problemas e seguir em frente”, comenta Débora.
Atualmente as atletas também são referência para diversas meninas que estão iniciando na vida esportiva. “Eu vejo as meninas olhando para a gente e pensando em disputar uma Olimpíada. Sei que a minha presença no esporte é muito importante”, diz Débora.
APITO
A relação da árbitra curitibana Vanessa Redes com o esporte começou cedo. Ainda na escola, participou de competições de handebol e seguiu com a paixão pelo esporte durante a adolescência. Quando chegou a hora de escolher um curso na faculdade, não teve dúvidas, foi de Educação Física. Durante a faculdade, um amigo falou sobre um curso de arbitragem e ela logo aderiu.
Vanessa decidiu participar apenas para conseguir horas complementares, mas o interesse foi aumentando. “Com o passar do tempo acabei me interessando, me dedicando e criei meu espaço dentro do vôlei. Em 2008 participei do primeiro curso de arbitragem de voleibol sentado e acabei seguindo a carreira no paradesporto, no qual hoje sou árbitra internacional”, conta.
O esporte permitiu a Vanessa viver diversas experiências, como viajar de avião e sair do País. “O esporte sempre esteve em minha vida, de forma amadora, por prazer, e hoje profissionalmente. Ele me deu muitas conquistas, amigos, viagens, memórias. Literalmente abriu fronteiras”, afirma.
O momento mais marcante foi a maior competição do paradesporto, as Paralímpiadas de Tóquio 2020, na qual Vanessa arbitrou a semifinal de vôlei sentado entre China e Canadá. Ela também apitou uma semifinal do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia e a final do Campeonato Masculino Série A de vôlei sentado.
CAMPEÃ PAN-AMERICANA
Uma das atletas de maior relevância no basquete brasileiro é Joycenara Baptista – a Joyce. Além de ter atuado ao lado de atletas como Hortência, conquistou junto com a seleção brasileira de basquetebol o ouro nos Jogos Pan-americanos de 1991, em Havana, foi campeã no Sul-americano de Basquete Adulto (Colômbia, 1991) e participou dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.
Joyce começou na modalidade aos 11 anos, no Clube Curitibano. Aos 16 começou a jogar profissionalmente, quando foi convocada para fazer parte da seleção brasileira juvenil.
“Fomos disputar o sul-americano em Bogotá, onde fomos campeãs. Falei para os meus pais que tinha amado e queria isso para minha vida. Fui para São Paulo jogar profissionalmente, me destaquei, fui para a seleção principal e durante quase 10 anos participei de vários campeonatos”, conta.
Depois de anos se dedicando ao esporte, ela decidiu que era hora de desamarrar os tênis e realizar o sonho de ser mãe. Durante mais de quatro anos dedicou-se totalmente à criação da filha, Amanda. “Era isso que eu queria, acompanhar as primeiras palavras, os primeiros passos”, complementa.
Joyce retomou os estudos e entrou na faculdade de Educação Física, na qual descobriu que seu amor não era só pelo basquete, mas pelo esporte como vetor da educação. Ela gosta de direcionar crianças no universo desportivo para vê-las se tornando atletas. “Sou professora de coração, eu amo ensinar, gosto quando a criança vem com aquele olhinho brilhando falando que não sabe fazer alguma coisa e eu tenho a oportunidade de ensiná-la”, afirma.
Para a ex-atleta, ser uma mulher no esporte é mostrar que tem capacidade de desempenhar diversas atividades – atleta, técnica ou gestora – e possibilitar que caminhos sejam abertos para todas as mulheres e meninas que têm o desejo de entrar neste meio. “Ainda existem mulheres sendo impedidas de praticar esporte em alguns países. Isso é muito muito triste, mas estamos lutando cada dia mais para alcançar tudo que merecemos”, arremata.
COISAS DIFÍCEIS
Bárbara Domingues é atleta desde os cinco anos. Começou na ginástica artística, depois migrou para a ginástica rítmica, já há 18 anos. Hoje com 23 anos, conquistou a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, uma marca histórica para o Brasil.
Bárbara foi oito vezes campeã brasileira e seis vezes campeã sul-americana. Em 2021, foi a primeira brasileira a participar de uma final individual no Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica. Ela ficou em 17º lugar geral, batendo seu próprio recorde de 2019.
Dentre as muitas dificuldades que já enfrentou no esporte, uma das que mais marcam a atleta é conseguir cumprir todas as exigências do código de pontuação da ginástica. “Quando eu entrei, o código não me valorizava muito, porque nunca tive muita flexibilidade na coluna e nas pernas, então tive que usar ferramentas diferentes e me destaquei ao fazer coisas difíceis”, comenta.
Para a atleta, ser mulher no esporte foi uma dificuldade adicional. “Só nós mulheres sabemos o que a gente passa dentro do esporte. Ser mulher é sinônimo de garra, de nunca desistir dos seus sonhos. Não é fácil, mas é importante acreditar e persistir”, afirma.
Ao longo dos anos ela teve ajuda da técnica baiana Márcia Naves, formada em Educação Física e moradora de Curitiba há 22 anos, que se especializou na ginástica rítmica, tendo treinado diversas estrelas da modalidade.
Ela afirma que ser técnica é desempenhar diversos papéis, que vão além do treinamento. “É ser uma espécie de heroína, porque a gente é um pouco psicóloga, um pouco mãe, um pouco médica”, diz.
Como técnica do alto rendimento, Márcia conta que muitas vezes passa mais de um mês longe de casa e que sempre tenta conciliar e administrar a vida profissional com a família. “É surreal o que a mulher é capaz de fazer, antes eu brincava que numa próxima encarnação eu queria vir homem, mas hoje não, eu quero voltar mulher porque eu sei que somos muito poderosas”, afirma.
BASTIDORES
E quando se fala em esporte, apesar do protagonismo de atletas e técnicos, o setor deve muito também aos que trabalham por trás das cortinas. A curitibana Bethânia Inara de Oliveira, de 32 anos, trabalha há 12 anos na Secretaria estadual do Esporte. Entrou como estagiária e hoje é diretora administrativa financeira.
“Para começar a trabalhar, fui totalmente contra o que meus pais queriam, porque eu morava longe e demorava em torno de 1h30 de ônibus só para chegar ao trabalho. Em 2012 comecei a atuar no setor de licitações da Secretaria, aprendi muito e me identifiquei com o Direito Administrativo”, conta.
Neste ano, depois da formação, Bethânia recebeu o desafio de assumir a área. “Há um grau a mais de dificuldade, pois depende de uma maior aceitação hierárquica e de respeito de todos, mas sei que estou fazendo um ótimo trabalho. Trabalhar com gestão no esporte é poder acompanhar histórias, crescimentos profissionais e sonhos realizados. Como mulher, me sinto honrada em contribuir com a formação de atletas que fazem o Brasil inteiro torcer em competições internacionais”, arremata.
AEN
Foto: Paraná Esporte
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