Por Wilame Prado
Esta sexta-feira, 23, vem sendo marcada pelo intenso movimento (estima-se mais de 50 mil pessoas), encontros e despedidas no Terminal Rodoviário de Maringá – Vereador Dr. Jamil Josepetti. Desde o início desta semana, aliás, a gerência do terminal já registrava um fluxo maior de pessoas, no mínimo o dobro daquelas que frequentam o local em dias comuns.
O Natal 2022 será no próximo domingo, e isso significa um feriado mais curto. Para muitos, nada mudará: apenas um fim de semana em que, talvez, o frango assado dominical sairá de cena para dar lugar ao peru natalino e as famosas uvas-passas que teimam em estar em alguma panela cheia de arroz. Fato é: curto ou prolongado, feriados de fim de ano têm por característica a viagem, o deslocamento, o encontro de pessoas queridas e que são separadas pela distância.
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Em meio ao calor, à dificuldade com as malas e à ansiedade pela condução terrestre que logo mais os transportará do ponto A para o ponto B, muitos passageiros não notaram a placa informando: “Estamos em obras”. A empresa responsável pelas obras de melhorias no terminal rodoviário de Maringá entrou em férias – não adiantava trabalhar em meio a tanto movimento. Mas a má notícia é que a obra atrasou, chegou a apenas 14% e deverá ser finalizada apenas em setembro de 2023.
Uma mãe enchia um carrinho com malas e, apressada, despedia-se da filha, que deixou o seu Volkswagen Fox de cor preta com o pisca ligado, bem em frente à entrada principal da rodoviária. Ela foi uma das que, por conta da pressa, nem visualizou placas de sinalização, sacos de cimentos em um canto ou buracos no chão cercados por cones e faixas de segurança. A pressa levou a senhora, que aparentava ter 60 anos, diretamente para bem perto da plataforma onde o ônibus dela sairia logo mais para São Paulo, cidade em que, em meio aos mais de 12,3 milhões de habitantes, um deles ela também chama de filho.
Afinal, por que a necessidade do encontro? Vale a pena a fila, o trânsito, as malas pesadas, os perigos da estrada? Para a psicóloga Dieiny Francielly Medeiros, tem beleza no gesto.
“A festa cristã do Natal remete a valores nobres, como perdão, amor e carinho. É muito subjetivo responder porque as pessoas precisam de reencontros, mas esta ação, ainda que com tantos percalços ligados aos desafios da viagem (ainda mais nesta época do ano), é bonita, representa talvez no gesto algo que a pessoa ainda sente dificuldade em dizer. No inconsciente, ela busca representar no esforço uma forma de dizer ‘eu te amo’”, diz a psicóloga.
Chegadas e partidas
Comparado aos dois últimos anos, pode-se dizer que o uso de máscaras diminuiu no terminal rodoviário, e as pessoas voltaram com os abraços nas chegadas e partidas. E, nesta época do ano, além de um “tchau” cabe muito bem um “boas festas”, ou um adiantado “Feliz Natal”. Os habitantes de uma rodoviária são parecidos uns com os outros: estão sempre ladeados por duas, três malas, uma mochila nas costas e, em sua maioria, expondo parte da sua intimidade noturna, levando travesseiros adormecidos e embalados por fronhas amarrotadas.
Para onde vão? De onde chegam? A Auto Viação Catarinense informa que os destinos mais disputados por passageiros do Terminal Rodoviário de Maringá são Curitiba, Florianópolis e São Paulo (Barra Funda). E os horários de pico são 19 horas e 22h30. Aquela típica viagem noturna de ônibus em que se tenta dormir um bocado para chegar ao local desejado nas primeiras horas do outro dia, e quem sabe poder aproveitar ainda mais ao lado de boas companhias.
Esse aumento no movimento na rodoviária é comprovado também por números da Viação Garcia/Brasil Sul, que, apenas nesta sexta-feira, deslocou 200 ônibus extras para além da sua frota habitual. Não importa a distância, os poucos dias de folga ou mesmo os custos para uma viagem: muitos, neste momento, só querem mesmo é se aproximar daqueles que amam.
Bom, pelo menos a maioria dos passageiros. Não é o caso do sr. Adaílton, que chegou a Maringá com alguns rabiscos em um pedaço de folha de caderno rasgada. Em plena sexta-feira do dia 23 de dezembro, a esperança dele era por um emprego. Pediu informação a um servidor para conseguir chegar a agências de trabalho localizadas nas Ruas Neo Alves Martins e Basílio Sautchuk. Não tinha dinheiro para táxi ou aplicativo de transporte. Iria a pé e gastaria, assim, a sola do seu sapato preto mocassim, já puído e empoeirado.
“Encontros e desencontros”, filme de Sofia Coppola protagonizado por Scarlett Johanson e Bill Murray, retrata de maneira elegante a solidão que espreita as viagens, os caminhos e os quartos de hoteis. Muitos ali, na rodoviária de Maringá, estavam encarando o seu destino solitariamente. Será que vale a pena o deslocamento, o desconforto, o calor, o frio, o peso das malas, para ir ao encontro de outros seres humanos? Ou será que estavam viajando, em pleno Natal, para fugir de algo ou de alguém?
Milagres de Natal
“Encontros e despedidas”, título desta crônica, é emprestado de uma canção do Milton Nascimento e Fernando Brant. E Milton canta que a hora do encontro é também despedida, e que a “plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar”. Despedir-se de alguém, o estar só, é também uma forma de encontro, pelo menos consigo mesmo. E algumas horas de viagem pode se configurar como um período de reflexão. No mínimo, é estando sozinho em que se nota o quanto determinada pessoa pode fazer falta.
As pessoas vão e vêm, os ônibus chegam e vão embora. É o Natal estimulando movimentos, encontros, talvez desencontros, chegadas, despedidas. É bom pensar que pessoas queridas, familiares, amigos, namorados, vão ter uma recordação boa em 25 de dezembro, repartindo a ceia, compartilhando alegrias e olhando para frente juntos, otimistas com um ano novo que se aproxima, para que o futuro seja melhor do que ontem. Eu acredito em milagres de Natal, e me emociono com rodoviárias. São lugares especiais.
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