O Pix já está integrado na vida do brasileiro. A facilidade para realizar pagamentos fez o número de transações bater na casa dos 26 bilhões e a movimentação chegar a R$ 12,9 milhões, conforme último levantamento da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Mas o volume tão grande de transferências bancárias também atrai a atenção de golpistas. Portanto, todo cuidado é pouco.
Apesar de o índice de fraudes representar 0,007% do total de transações, conforme dados do Banco Central (BC), a preocupação com a segurança dos usuários levou o BC a estudar mais medidas para evitar golpes e até abertura de contas laranjas para repasse de dinheiro fruto de ações fraudulentas.
A utilização de biometria facial aliada à análise comportamental – como hábitos do usuário, destino dos valores e dados do aparelho utilizado – são considerados hoje o melhor caminho para a prevenção de abertura deste tipo de conta e, também, para golpes decorrentes de roubo de contas financeiras ou de telefones celulares. Utilizar chaves aleatórias em vez do número do smartphone, CPF ou CNPJ também reforçam as medidas de segurança.
A análise é feita por Guilherme Bacellar Moralez, pesquisador da Unico, especializada em tecnologia com foco em identidade digital. A empresa, que estima ter evitado mais de R$ 70 bilhões em fraudes em 2021, barra uma tentativa de fraude a cada sete segundos com solução de biometria facial. Segundo ele, a tecnologia com a utilização de prova de vida é fundamental para todo esse ecossistema tornar-se mais seguro.
“Isso se deve à proteção que essa tecnologia provê ao aliar a autenticação única de cada indivíduo com a garantia da presença real do usuário no momento da captura. Isso evita fraudes comuns com reconhecimento facial, que permite a utilização de imagens e fotos de redes sociais para forjar uma captura facial e assim permitir a abertura de contas laranja e a confirmação de operações financeiras”, explica Bacellar.
Detalhes
Um dos pontos estudados pelo BC visa permitir que as instituições financeiras criem um marcador para contas laranjas ou de aluguel A solução funcionaria como uma espécie de notificação obrigatória de fraudes em CPFs ou CNPJs em que haja suspeita de uso indevido de contas. Afinal, o Pix é a forma preferencial dos fraudadores para receber dinheiro em ações criminosas, sejam elas golpes por Whatsapp, sites de comércio eletrônico falsos ou adulterando o QR Code para pagamentos presenciais.
Com este marcador, os aplicativos financeiros podem emitir um aviso antes do usuário efetivar a operação financeira e, assim, faça uma segunda verificação dos dados de pagamento ou até mesmo que não realize a transação por causa das suspeitas de uso fraudulento.
“Essa é uma excelente forma de atacar especialmente os golpes em que os fraudadores roubam ou clonam o Whatsapp das pessoas para pedir dinheiro ao inventar histórias falsas para os contatos das pessoas”, diz Bacellar.
Essa ideia de criação de bancos de dados é semelhante ao que temos no mercado segurador, o Registro Nacional de Seguros (RNS), explica a economista, professora e coordenadora de Economia/Atuariais da FMU, Natalie Verndl. “Ao criá-lo, é como se tivesse todo o registro daquela conta mostrando que ela é laranja. Então, em vez de ser um registro de sinistro, ele identifica um registro de conta fraudulenta”, acrescenta.
Educação
Os brasileiros estão entre os principais alvos de crimes digitais ou cibernéticos, que têm como principal objetivo o roubo de dados, utilizando mecanismos de phishing e engenharia social, detalha a economista e coordenadora da FMU.
“Essa engenharia social é a arte do convencimento digital. O criminoso acaba criando uma situação que deixa a pessoa muito sensibilizada com uma determinada situação. E se passa justamente por alguém que tem alta credibilidade, com o objetivo principal de conquistar os dados daquela pessoa. Quando se olha para o Pix, nesses casos, a ideia não seria fraudar o Pix em si, mas buscar os dados da vítima”, explica Natalie.
Por isso, educação financeira e cibernética são apontadas como componentes importantes na prevenção de fraudes. “Isso pode ser feito através de campanhas na televisão, na internet e através da criação de guias acessíveis que podem ser divulgadas através da mídia online para todos os usuários, finaliza o pesquisador da Unico, Guilherme Bacellar.
Estadão Conteúdo / Foto: Agência Brasil-Arquivo
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