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Como a população brasileira lida com as pautas da comunidade LGBTQIAP+ estando imersa em conservadorismo, conceitos patriarcais e tabus? A questão foi respondida em pesquisa inédita conduzida pela Hibou Pesquisas em todo o país, em junho, justamente o mês do orgulho LGBTQIAP+, quando marcas e empresas se posicionam a favor do debate das pautas. O levantamento traz à tona o desconforto da população em relação às temáticas relacionadas à pluralidade de gêneros. Inclusive, 21% não acreditam no posicionamento das marcas nessa época, e acham que não passa de campanha de marketing.
“O assunto de gêneros não é novidade, mas abordá-lo de forma aberta ainda não é muito usual pelos brasileiros, que ainda conservam tradições. No ‘Mês do Orgulho’, não seria diferente que o comércio direcionasse suas ações ao público LGBTQIAP+ e causasse desconforto em algumas pessoas. Fica claro que ainda existem dúvidas e desconhecimento sobre a importância não só das campanhas publicitárias, mas também de outros pontos que são atos de respeito e inclusão quando falamos da diversidade de gênero”, afirma Ligia Mello, coordenadora da pesquisa e sócia da Hibou.
Nem sequer falar sobre o assunto em público é uma ocasião confortável para os brasileiros, apenas 45% se sentem à vontade falando sobre a pluralidade de gêneros e suas pautas quando estão fora de casa e entre desconhecidos.
O desinteresse quanto à necessidade de abordar os temas LGBTQIAP+ é comum a 16,4% dos brasileiros. Essa parcela da população avalia a discussão da pluralidade de gêneros de três formas: comportamento errado ou contra os princípios (6,2%); com indiferença (5,4%); ou acham desnecessário, pois já cumpriu seu papel (4,8%).
No grupo dos apoiadores sobre temas multigênero, composto por 74,4% dos brasileiros, há um recorte ainda enviesado: 37,3% são favoráveis à conversa, mas acham que há exageros que desgastam a mensagem; e outros 37,1% são favoráveis, principalmente, por acreditarem na inclusão de todos na sociedade.
Brasileiros divididos
A discussão sobre banheiros em locais públicos ainda permanece nebulosa. 40,3% concordam que os espaços devem ser separados, podendo haver banheiros direcionados à diversidade de gênero. Contrários à alteração do quadro tradicional, 39,4% optam por manter a divisão em “masculino” ou “feminino”. Flexíveis ao tema estão 17,3%. Entre eles, 9,4% não vêem a necessidade de polêmicas e 7,9% não se opõe aos banheiros unissex, desde que existam cabines individuais.
Todes?
A aplicação da linguagem neutra na fala e na escrita também causa polêmicas entre os brasileiros, que não acreditam em sua importância para a comunidade LGBTQIAP+. O uso das letras “E” ou “X” em substituição às letras “A” ou “O” leva 72,9% dos brasileiros a fazerem defesa do idioma como está, antes de entender a importância dos termos neutros para a comunidade multigênero.
Dentre essa parcela da população, 45% não veem necessidade da neutralização da linguagem. Seguindo com o mesmo pensamento tradicionalista, 27,8% consideram o uso das palavras alteradas um erro de grafia e que elas não fazem parte do Português.
Apenas 2,8% concordam que o uso da adequação das palavras como um ato inclusivo e que deveria ser obrigatório. Eles defendem a substituição das palavras “todos”, “todas” ou “todos/as” por “todxs” ou “todes” para identificar os diferentes gêneros. 15,5% se mostram flexíveis à substituição dos termos, sendo que 5,4% não se opõem, uma vez que novas palavras são inventadas a todo tempo; e 10,1% são indiferentes, pois cada um escreve como preferir.
“Os artigos que representam gêneros vão além das palavras, eles correspondem à identidade da pessoa. Mesmo que a sociedade ainda considere difícil se referir à comunidade LGBTQIAP+, é importante compreender que as palavras e a referência de gênero fazem parte da empatia e do respeito ao próximo, à multipluralidade de gêneros”, explica Ligia.
“Estamos passando por mudanças sociais e a diversidade de gênero, pluralidade de opiniões e posicionamentos estão vindo à tona. A curva de aprendizagem ainda é lenta, mas é importante que a temática seja pautada pela sociedade. Ao retirar temas como o movimento LGBTQIAP+ das sombras e trazê-los para a roda de conversa, estamos proporcionando dignidade à comunidade e preparando um mundo mais respeitoso, empático e compreensivo para as próximas gerações”, finaliza.
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