O combo de nossas escolhas – Parte 1

Escolher é difícil. Mas ainda mais difícil é lidar com as consequências das nossas escolhas. Porque tudo aquilo que fazemos tem alguma implicação.

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    Por Edson Calixto Junior

    Do útero às urnas: como o mundo se molda em cada passo que damos

    Escolher é difícil. Mas ainda mais difícil é lidar com as consequências das nossas escolhas. Porque tudo aquilo que fazemos tem alguma implicação. Desde o nascimento, lidamos com esse processo como se fosse algo natural. E a vida vai “tomando forma”, sendo moldada de acordo com as decisões que tomamos dia após dia. E isso define quem e o que nós somos.

    Podemos dizer, na verdade, que somos o fruto de cada escolha que fazemos desde o ventre de nossa mãe. Sim, porque talvez até inconscientemente, é lá que começamos a busca pelo hedonismo, essa característica inerente à quase 100% dos seres humanos.

    Nós escolhemos a posição mais confortável pra viver naquele pequeno receptáculo chamado ventre. Recebemos os nutrientes necessários para aquilo sobreviver e nos acomodamos de tal forma que quando saímos, nos sentimos acuados, assustados, como se sair da nossa “zona de conforto” fosse algo aterrorizante. E, convenhamos, imagine você ficar protegido, quentinho, sendo alimentado e podendo se movimentar à vontade, sem qualquer interferência num local propício à vida… e de repente, alguém te puxa para um mundo completamente desconhecido, complicado, cheio de problemas e tendo que lidar com decisões que vão impactar diretamente todo o nosso futuro. E assim, ali, nos braços do obstetra, tomamos a nossa primeira decisão em vida. Escolhemos chorar. Sim, porque o choro acaba sendo um alerta, um cosmos, quem sabe, um pedido de socorro.

    O que fizeram comigo? Que lugar estranho é esse? Eu quero voltar para a minha “casinha”.

    Mas aos poucos nos acostumamos. E de escolha em escolha, vamos descobrindo que precisamos de outras pessoas. Entendemos que neste ambiente novo, convivemos com pessoas que amamos e vamos descobrindo os pequenos segredos da vida, do convívio em sociedade.

    Na medida em que crescemos, continuamos escolhendo. As decisões que antes eram “devo chorar pra conseguir mais alimento” ou talvez “vou balbuciar alguma coisa pra ver se alguém me dá atenção” dão lugar pra escolhas mais complicadas. E descobrimos que rabiscar a parede da sala ou morder o rabo do cachorro pode trazer sérias consequências.

    Os anos passam. E as decisões vão se tornando uma espécie de jogo de xadrez. Alguém já falou pra você do tal “Efeito Borboleta”? Aquilo que você faz aqui no ocidente, pode ter consequências do outro lado do planeta. E quando olhamos a geopolítica internacional, percebemos com clareza o impacto das decisões governamentais. E é por esse motivo que cada vez mais eu entendo que decisões erradas podem alterar de forma catastrófica os rumos de uma vida, de uma cidade, de um país… ou até mesmo do planeta.

    Nascido em Brasília, mas criado em Governador “Valadólares” (apelido dado àquela cidade de porte médio no interior de Minas Gerais que concentra mais de 50 mil nativos na “Terra do Tio Sam” e que cresceu à sombra dos recursos oriundos de imigrantes brasileiros na América), cresci ouvindo acerca do imperialismo estadunidense. E olha que acompanhei a ascensão de líderes históricos como Ronald Reagan e Bill Clinton. Nesse período, a América era até simpática. Mas a Era Bush trouxe medo. Veio Obama, um divisor de águas, o primeiro líder negro na nação mais poderosa do mundo. Mas depois dele, as coisas se tornaram sombrias.

    Quando os Estados Unidos da América escolhem colocar na cadeira de presidente um ser humano acostumado desde sempre ao poder, de moral questionável e com as ideias mais estapafúrdias possíveis, voltamos à era imperialista. E as decisões que são tomadas no Salão Oval da Casabranca, respingam em cada canto do planeta. Porque a opressora política externa do “homem laranja” afeta sim, a todos nós.

    No mais amplo sentido da palavra, Donald Trump desconhece o conceito do que chamamos de democracia. Vive numa bolha, tomando decisões com base na sua abastada experiência como magnata do ramo imobiliário. Não conviveu com as minorias. Talvez jamais tenha lido a Declaração dos Direitos Humanos. Desrespeita as Constituições, a boa governança, oprime qualquer nação como se ela fosse uma mera filial de sua matriz chamada Estados Unidos da América. Decisões, decisões, decisões…

    Mas… e se os estadunidenses tivessem escolhido Kamala Harris? O que teria mudado? Voltando ainda mais no tempo… e se a reforma protestante não provocasse o êxodo dos colonizadores britânicos para a América, fundando as 13 colônias? São escolhas, sempre são escolhas…

    Se você leu esse texto até aqui, agradeço pela escolha de nos acompanhar nessa narrativa. Quase que de forma autômata, você já fez dezenas de escolhas hoje. E elas vão acompanhá-lo até o seu último dia de vida.

    Nossas escolhas têm total relação com o que queremos para os próximos minutos ou para os próximos anos. Tal qual as grandes decisões da vida, casar ou permanecer solteiro, medicina ou jornalismo, e por aí vai. Podemos, enfim, concluir que tudo o que você fez, desde o dia em que nasceu, contribuiu para que você se tornasse a pessoa que você é e estivesse onde você está neste exato momento, com a decisão de ler estas pequenas considerações.

    A vida é mesmo isso: uma sucessão de escolhas. Algumas pequenas, outras definitivas. Algumas conscientes, outras nem tanto.Mas todas com algum peso, algum impacto — seja em nós mesmos, seja no mundo ao nosso redor.

    Escolher é inevitável. Fugir das escolhas… é também uma escolha. E viver, no fundo, é caminhar entre perdas e ganhos, certezas e dúvidas. Então, que estejamos atentos. Que sejamos honestos com aquilo que escolhemos todos os dias.

    Porque a vida — essa coisa linda, confusa e frágil — é o “combo” de todas as nossas escolhas. E, gostemos ou não, somos o que decidimos ser.

    EDSON CALIXTO JUNIOR é escritor, teólogo e jornalista. Trabalhou na Rádio CBN, Diário do Rio Doce e Rede Novo Tempo de Comunicação. Foi assessor de imprensa na Assembleia Legislativa do Paraná (2003 – 2010). Bacharel em Administração de Empresas pela FGV, com MBA em Gestão, atualmente é servidor público federal.

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