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Por Marcos Guerreiro
Maringá/PR – Todos os dias nos movemos de casa para o trabalho, levando os filhos à escola, fazendo compras, passeando no parque, indo a uma consulta médica etc. Carro ou ônibus, quais os motivos que levam a maioria de nós a escolher um meio de deslocamento em detrimento do outro? Como experiências de outras cidades podem nos apontar um caminho onde todos cheguem mais rápido, sem continuarem presos no trânsito maringaense?
Não é de hoje que no Brasil tem se ventilado a percepção de que deixar de pagar pelo bilhete do transporte é a grande solução dos problemas que enfrentamos diariamente no trânsito pelas cidades. Como mostra a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria¹, para 25% das pessoas que não usam os coletivos, passariam a optar pelos ônibus caso as tarifas fossem mais baixas. Porém, 24% mudariam se houvesse menos espera e 18% fariam o mesmo se aumentassem as linhas e percursos, ou seja, 42% dos entrevistados revelam que os motivos que os fazem escolher por determinado meio de transporte é o tempo necessário para se deslocarem, e não o custo em si.
O veículo particular passou a ser preferência por proporcionar menor tempo de viagem, pontualidade, conforto e segurança, porém a um custo muito maior e com necessidade de vias e estacionamentos abundantes.
Porém, esta opção tem se mostrado insustentável, pois a maior parte das vias não cabem mais carros e motos, e todos estamos perdendo muito tempo com isso, qualidade de vida e até a própria vida, considerando que o trânsito é o que mais ceifa a vida dos brasileiros. Vivemos em cidades justamente porque entendemos que juntos conseguimos resolver mais fácil e com um custo menor nossos problemas. Entretanto, como nossos gestores públicos não demonstram vontade política para começar a priorizar o transporte de massa e torná-lo rápido e eficiente, os que ainda resistem nos ônibus é apenas por falta de opção, e nem os subsídios que a prefeitura investe têm sido suficientes para aumentar a quantidade de usuários, como demonstra a reportagem.
Isso foi constatado em Tallinn, na Estônia. Implantaram a tarifa livre no transporte coletivo da cidade. Perceberam que houve um aumento no número de usuários, porém, a quantidade de veículos privados circulando pelas vias continuou a mesma. Foi aí que perceberam que quem começou a utilizar o transporte coletivo, eram os pedestres. Diante disso, implantaram novas iniciativas: criaram corredores exclusivos de ônibus e também a aumentar os valores de estacionamentos para carros. Como resultado, diminuíram 10% o número de carros circulando pela cidade, conforme aponta o Summit Mobilidade.
Nova York teve uma experiência parecida: após a pandemia o número de usuários diminuiu nos transportes coletivos (ônibus, trem e metrô). Implantaram o pedágio urbano e colheram rapidamente as melhorias: menos veículos, ônibus mais pontuais nos horários, menos trânsito e aumento da velocidade, inédito desde a pandemia, e de usuários em todos os modais coletivos (ônibus, trens e metrô), conforme a reportagem do New York Times.
No Brasil, tem o caso emblemático de Caucáia no Ceará. Quando foi implantado o passe livre, o número de usuários aumentou quase 4x, de 510 mil para 2,3 milhões. Por conta disso, a frota precisou ser aumentada de 48 para 70 veículos. Porém, com a mudança de gestão veio a surpresa: a empresa de ônibus não estava sendo paga e queria começar a cobrar novamente pelos serviços ao usuário.
Em novo acordo, a prefeitura se comprometeu a quitar os débitos, mas a frota precisou diminuir: agora são 54 veículos, apenas seis a mais que o número inicial. Ou seja, provavelmente o serviço vai piorar com a menor quantidade de ônibus circulando, segundo o jornal O Povo.
Como é sabido, os municípios ficam com a menor parte da arrecadação de impostos, dependendo da União e do Estado de repasses para custear suas despesas. Maringá não é diferente, praticamente 50% do nosso orçamento depende de repasses do Estado e União. Com a reforma tributária, isso tende a piorar, a autonomia dos municípios será ainda menor. Mesmo diante deste cenário controverso de dependência orçamentária, lideranças políticas na cidade estão apostando que a catraca livre será a bala de prata para resolver a Mobilidade na Cidade Canção.
Por que propor um sistema que dependa totalmente de recursos públicos, se podemos começar a testar melhorar o que temos, como foi evidenciado nos casos apresentados acima, atraindo novos usuários, o que ajudaria a equilibrar a viabilidade financeira do transporte coletivo, além de prevenir altas constantes do preço da passagem? Este caminho, porém, exigiria uma vontade política e disposição para esperar os resultados que o maringaense tanto espera.
Marcos Guerreiro é arquiteto urbanista (UFSC)
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