Com a Apple injetando IAs generativas no iPhone, a Microsoft querendo integrá-las ao Windows, e os motores de pesquisa da Google e Bing ambos integrando a nova tecnologia dos Grandes Modelos de Linguagem (LLMs, em inglês), para quem não tem interesse em abraçar a invenção, seja por suas muitas falhas técnicas, por suas ineficiências energéticas, por preocupações éticas, ou só por achar esquisito – Evitar LLMs parece cada vez mais difícil.
Rara é a tecnologia que se propagou (ou, talvez mais adequado, foi propagada às forças a custo de bilhões de dólares) tão rápido, e cercada de tanta controvérsia e ansiedades. Uma pesquisa feita nos EUA indica que 59% dos americanos temem que IAs irão agravar o problema do desemprego, e 71% temem que conteúdo manipulado por IAs pode ser usado para influenciar eleições (uma preocupação compartilhada por gente de ambos os lados da política). A reação negativa dos consumidores é tal que um mercado vê uma oportunidade aí.
Em Abril, a empresa de cosméticos Dove descreveu a tecnologia em um press release como “a maior ameaça à representação da beleza real”. A empresa celebrava o 20º aniversário de sua “Campanha pela Beleza Real”, uma campanha de marketing que buscava representar mulheres sem retoques digitais. A empresa marcou a ocasião prometendo “nunca usar IAs para representar mulheres reais”. O objetivo, claro, era o marketing, e deu certo: Logo vieram as manchetes elogiosas.
Mais ou menos ao mesmo tempo, o banco digital americano Discover também publicou um comercial com um claro posicionamento anti-IA. “Esses robôs soam mais realistas a cada dia!” diz a atriz em uma chamada ao Call Center, e o ator do outro lado da linha responde “Na Discover, todo mundo pode falar com um representante humano.”
Vindo de uma subsidiária da Unilever e uma grande empresa financeira, seria tolice pensar que estes comerciais representam algum tipo de posicionamento moral – Mas as decisões de marketing respondem a ansiedades que são reais. E não é só na esfera do marketing de empresas. Cara, uma rede social e aplicativo de portfolio para artistas, explicitamente proíbe usuários de postarem criações geradas por IA desde a sua fundação em 2023. E tem recebido um enorme fluxo de usuários recentemente, após notícias de que a Meta, dona do Instagram, estava automaticamente ingerindo todas as postagens públicas para treinar uma IA. O app da Cara brevemente foi o quinto mais popular na loja de apps do iOS, e foi de 40.000 a quase 1 milhão de usuários em poucos dias.
“Quero uma plataforma que protege imagens de serem usadas por robôs por padrão, que não vai hospedar nenhuma mídia de IA até os conjuntos de dados serem de origem ética, e leis tenham sido aprovadas para proteger a obra de artistas”, disse a fundadora da Cara, Jingna Zhang. Usuários parecem concordar, em um post em 2 de Junho uma artista disse “Não consido nem explicar o quão bom é estar aqui e saber que o que eu estou vendo foi feito por pessoas.” O post já acumulou mais de 10.000 likes.
Conforme a IA conquista a internet, temos visto algumas empresas, marcas, e criadores têm explicitamente divulgado seus produtos como sendo “feitos por humanos”, tal como os rótulos de “alimentos orgânicos” que adornam produtos em supermercados há varios anos. Organizações formais e informais, bem como indivíduos, têm colocado declarações de “Nenhuma IA foi usada” em blogs e websites, e redes sociais vêem a proliferação de hashtags como #noAI, que tal como a antiga #noFilter, que descrevia a imagem como não tendo tratamento digital, marca imagens que não são tratadas por IAs.
por Vitor Germano para o Maringá Post
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