Testes nucleares e (Sobre)Vivência

Na coluna desta semana, mergulhe nas implicações dos recentes testes nucleares e a mensagem de paz de Hiroshima.

  • Por Caio Henrique Lopes Ramiro

    No último dia 21 de fevereiro foi noticiado que o mais recente teste nuclear da Inglaterra não obteve êxito. De acordo com a notícia veiculada pela CNN, houve uma “anomalia” no míssil balístico “Trident 2”. O teste foi realizado na costa da Flórida a bordo do submarino nuclear HMS Vanguard, oportunidade em que se registrou a segunda falha dos armamentos britânicos em oitos anos.

    A partir deste noticiário parece interessante retomar um tema que já foi objeto de reflexão neste espaço, a saber, a questão do sentido de nossa vida, caracterizada pelo filósofo alemão Günter Anders — em suas Teses para a era atômica —, como a vida daqueles que se encontram na última era da humanidade e, portanto, são os ainda não inexistentes. Contudo, talvez seja importante refletir sobre a ideia de testes balísticos envolvendo armas nucleares. Não parece irrazoável levar a sério tal questão em um tempo cravejado por guerras e ameaças de uso destes armamentos.

    Por aqui, vale recordar, também, da última mensagem de Hiroshima. Na sexta-feira da semana passada, Takashi Morita, um sobrevivente do ataque nuclear dos Estados Unidos, completou 100 anos. Este espaço já dedicou algumas linhas ao importante livro do Sr. Morita. Não parece arbitrário retomar sua mensagem. Com o fim da 2ª Guerra, Takashi Morita não só saiu de seu país natal após ajudar na reconstrução de Hiroshima, mas, também, tornou-se um ativista pela paz. Desse modo, fundou, há quarenta anos, a Associação Hibakusha Brasil pela Paz, que reúne também as vítimas de Nagasaki.

    O ponto fundamental destacado pelo Sr. Morita diz respeito a questão da guerra. Ressalta que a guerra é o inimigo. Considerando, ao que parece com acerto esta questão, há em sua forma de vida no pós-guerra algo como uma ética do testemunho, significa dizer que é preciso falar sobre os horrores da arma atômica, para que as pessoas possam dimensionar o tamanho da ameaça, uma vez que Morita destaca em sua mensagem vinda de Hiroshima que uma imagem do inferno já esteve entre nós e os habitantes da cidade japonesa já estiveram diante dele no dia 6 de agosto de 1945, isto é, neste dia houve um sentimento apocalíptico de que o mundo havia acabado.

    Assim, a mensagem de Hiroshima, considerada conjuntamente com o noticiário de testes nucleares, permite que se retome a questão moral básica para Günther Anders, a saber: iremos sobreviver? O tempo do fim que se inicia com a era atômica, no entender do filósofo alemão, é o tempo em que qualquer lugar do planeta pode ser transformado em Hiroshima. No caso do fracassado teste balístico da Inglaterra, é possível pensar que o oceano Atlântico e as formas de vida não humanas foram as vítimas da vez.

    Foto: Arquivo Pessoal/Bianca Brito

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