CRÔNICA – Nada pode dar errado, ou sobre a sorte de ligar o rádio na hora certa, na canção que eu queria

Em terras sertanejas, nunca fez tanto sentido ouvir Humberto Gessinger no rádio do carro garantindo: “Vai por mim, nada pode dar errado.”

  • “Vai por mim, nada por dar errado”: nunca fez tanto sentido uma frase escutada pelas ondas sonoras do rádio. Mais uma canção a ser apresentada para o meu filho, ainda que numa JBL plugada no Spotify do celular

    Por Wilame Prado*

    Escutar a música que gosta na estação de rádio provoca uma boa sensação de coincidência e sorte. Tive sorte hoje pela manhã quando tocou no rádio do carro “No Delta dos Rios”, uma música nova do Humberto Gessinger raramente emplacada em emissoras radiofônicas da nossa região super sertaneja. Prova disso são as atrações da Expoingá, principal festa da cidade. Todas ou quase todas sertanejas. Sucesso de público garantido.

    A música nova do Gessinger tem uma estrofe boa e propositalmente contraditória: “Vai por mim, nada pode dar errado./ A não ser, o que pode dar errado.” Na realidade, nada e tudo pode dar errado ao mesmo tempo. Portanto, ao pessimista cabe o copo meio vazio, e ao otimista cabe o copo meio cheio. Deixando a filosofia de lado, penso que o músico está dando um recado para alguém, e esse alguém possivelmente seja a filha única dele, que casou recentemente e mora no exterior. Como que ele dizendo para a Clara Gessinger: “pode ir, filha. Vai dar tudo certo. Mas, se der merda, o pai tá aqui.”

    Reforça esse recado outra estrofe: “Vai por mim, estarei por ti se der errado./ Vai por mim, estarei aqui, braços abertos”. Que sensação incrível ouvir isso no rádio do carro, que respiro em meio ao caos cotidiano! Claro, poderia ter colocado a música específica para tocar no Spotify, mas seria diferente. O próprio Gessinger já escreveu e cantou sobre isso na bela canção “Outono em Porto Alegre”, outra pancada de otimismo para ninguém botar defeito: “Nem tudo está perdido./ Nem sinal de pedra no peito./ O horóscopo do jornal arriscou um belo dia./ Liguei o rádio na hora certa. Era a canção que eu queria./”

    Sou ouvinte assíduo de emissoras de rádio, e isso aproxima a gente da localidade onde se está. Se você está em São Paulo, ouve rádios, sotaques, gostos musicais e até comerciais do universo paulistano. Em Maringá, você ouvirá também a tradução do que é a nossa cidade, e um radialista de mão cheia chamado Beija-Flor, amigo meu, comentou justamente sobre ouvir a música na estação de rádio e não em um computador, no fone de ouvido de um smartphone ou em um app de streaming de música e vídeos. “É simplesmente diferente”, resumiu bem o radialista.

    “Vai por mim, nada por dar errado”: nunca fez tanto sentido uma frase escutada pelas ondas sonoras do rádio. Mais uma canção a ser apresentada para o meu filho, ainda que numa JBL plugada no Spotify do celular. Pelo menos nesse caso, o meio (rádio) é importante sim, mas a mensagem é fundamental: ao cantarmos juntos “No Delta dos Rios”, quero dizer para ele tentar quantas vezes for preciso, até dar certo. Se der errado, braços abertos do pai por aqui eternamente, até quando Deus permitir.

    *Wilame Prado atua como repórter e colunista do Maringá Post e editor na RIC Record TV Maringá. No site wilameprado.com, escreve crônicas, contos, reportagens e artigos de opinião.

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