Em parceria com o núcleo maringaense do Observatório das Metrópoles, vinculado à Universidade Estadual de Maringá (UEM), o Maringá Post inicia nesta semana a série “Observatório das Metrópoles nas Eleições”, onde especialistas da instituição abordarão, em artigos semanais, aspectos sobre o desenvolvimento urbano de Maringá nos últimos anos, bem como os desafios para o futuro.
O artigo inaugural é assinado pelo professor Ricardo Luiz Töws, Doutor em Geografia pela UEM, Pós-Doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ e, atualmente, Docente e Diretor do Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Astorga.
Segregação socioespacial na Região Metropolitana de Maringá: o que é, o que mudou e o que precisa mudar?
Maringá é polo de uma região metropolitana com 26 municípios, cuja última alteração legal de inclusão de novos municípios ocorreu há mais de 10 anos, em 2012. Embora essa alteração tenha sido realizada dois anos após o Censo de 2010 (IBGE), apenas o município de Nova Esperança foi agregado ao conjunto de municípios, o que permite construir um paralelo de análise praticamente integral, no quesito população, comparando os Censos de 2010 e 2022.
De fato, estudos, inclusive do próprio Observatório das Metrópoles, demonstraram que a Região Metropolitana de Maringá (RMM) cresceu acima da média das demais regiões metropolitanas do estado do Paraná, com crescimento superior a 18,8%. A Região Metropolitana de Londrina, por exemplo, no mesmo período, teve crescimento de 8,8%.
Os municípios de Floresta (76%), Mandaguaçu (59%), Sarandi (42%), Iguaraçu (34%), Marialva (30,9%), Cambira (30,7%), Paiçandu (27%) e Maringá (14,7%) foram os que mais cresceram na nossa região, todos os quais, exceto por Cambira, fazem divisa com Maringá, o que sugere um fluxo significativo da população para a região. Essa dinâmica demográfica merece atenção especial. Por outro lado, destaca-se que nove municípios da Região Metropolitana de Maringá (RMM), predominantemente situados em distâncias consideráveis do município central, apresentaram taxas de crescimento populacional abaixo de 4%, e alguns inclusive registraram índices negativos. Seria coincidência que as cidades que mais cresceram são as mais próximas de Maringá? E o que isso pode significar?
O debate sobre a “pobreza ao lado” – que já foi exposto pela Professora Ana Lúcia Rodrigues, socióloga e pesquisadora do Observatório das Metrópoles, e hoje Vereadora em Maringá – continua em evidência nos estudos dedicados à cidade e sua região metropolitana, especialmente quando o assunto é a “segregação socioespacial”, conceito que descreve a divisão e separação de grupos sociais com base em classe e renda, o que é evidenciado nas condições e localidades de moradia. No contexto urbano, por exemplo, a segregação socioespacial pode manifestar-se na organização de bairros e na distribuição de moradias de acordo com o status socioeconômico dos residentes.
Embora seja um assunto relevante para analisar a desigualdade existente na cidade de Maringá, evidente entre seus bairros, é importantíssimo entender como a segregação socioespacial impacta diretamente toda a dinâmica da Região Metropolitana de Maringá, gerando consequências importantes.
O aumento populacional em Maringá revela a atração e centralidade da região, destacando a cidade polo. Isso é evidenciado pelo planejamento que valoriza o solo em Maringá, com custos mais elevados, em comparação com as demais cidades do aglomerado e com a RMM. Apesar do discurso de qualidade de vida, Maringá atrai para os municípios vizinhos uma população de renda mais baixa, o que explica o crescimento populacional acima do observado na própria cidade de Maringá. Algumas cidades, como Sarandi, Paiçandu, Mandaguaçu, Floresta e Marialva, mantêm características de “cidade dormitório”, as quais se caracterizam por uma parcela significativa de seus habitantes realizarem a maioria de suas atividades diárias, como trabalho e comércio, predominantemente em Maringá.
Por ser um ano eleitoral em que as disputas serão concentradas no poder municipal, é necessário aproveitar esse debate e incluir essas pautas na agenda, em destaque as relações de Maringá com as cidades da região metropolitana. Portanto, o que precisa mudar?
Aponto aqui as principais perspectivas de políticas públicas emergentes, ou seja, em progresso ou buscando evolução para a Região Metropolitana de Maringá (RMM):
- Implementação efetiva e aprimoramento do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado, priorizando uma gestão metropolitana do território.
- Exploração de consórcios e outras formas de cooperação entre entes federativos para executar um abrangente plano de mobilidade, considerando diversos modais, especialmente em áreas com movimento pendular intenso, como Sarandi – Maringá e Paiçandu – Maringá.
- Execução de instrumentos do Plano Diretor alinhados ao direito à cidade, assegurando que a população de baixa renda tenha acesso à moradia em Maringá sem ser afetada pelos custos elevados.
- Manutenção e ampliação de programas habitacionais para reduzir a lista de famílias em busca de moradia própria.
- Promoção de infraestrutura e estímulo a atividades econômicas e sociais nas áreas periféricas de Maringá, distritos e cidades vizinhas que receberam o Programa Minha Casa, Minha Vida.
- Transformação do Contorno Sul de Maringá em uma avenida urbana e criação de um novo contorno fora da cidade, conectando as cidades de Paiçandu à Marialva, para reorganizar fluxos, integrar modais e descentralizar o tráfego.
- Continuidade do debate sobre a gratuidade do transporte coletivo, expandindo a discussão para toda a RMM, visando proporcionar condições favoráveis à população de baixa renda em bairros e municípios mais afastados.
- Estímulo a políticas de desenvolvimento que promovam a empregabilidade além dos setores de serviços e agronegócio.
- Formulação de políticas que priorizem uma cidade voltada para as pessoas, evitando a mera transformação em grandes empreendimentos imobiliários ou parques de negócios, conforme alertado por pesquisas científicas.
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