Nunca antes um presidente demorou tanto para nomear o Procurador-Geral da República

Tamanha hesitação não é só desconcertante, mas coloca em xeque a habilidade do presidente tomar decisões cruciais.

  • A procrastinação de Lula em nomear o novo Procurador-Geral da República (PGR) alcançou marcos históricos, tornando-se a maior demora em mais de três décadas. A indecisão do presidente, agora em seu terceiro mandato, atinge um mês nesta quinta-feira (26). 

    Tal atitude não apenas prejudica a imagem do Ministério Público da União, mas também levanta questionamentos sobre a capacidade de governança do mandatário.

    A demora de Lula em nomear um novo titular para a PGR mostra um presidente indeciso. Um governante que, aparentemente, se encontra perdido em meio a um turbilhão de decisões, o que não é condizente com a imagem de um líder experiente. Afinal, Lula sabia, muito antes de assumir a presidência, que teria que nomear um procurador.

    Não se trata de um detalhe inesperado. Tamanha hesitação é não só desconcertante, mas coloca em xeque sua habilidade de tomar decisões cruciais. Na prática, um presidente em seu terceiro mandato deveria ter clareza e determinação, ao invés de parecer um líder receoso.

    O impasse atual tem origens após Augusto Aras deixar o cargo, sendo substituído interinamente pela subprocuradora-geral Elizeta Maria de Paiva Ramos. A interinidade de Elizeta traz consigo uma atmosfera de instabilidade, pois ela pode ser substituída a qualquer instante pelo presidente.

    Esta incerteza se torna ainda mais preocupante, considerando-se o papel essencial da PGR, que inclui a capacidade de denunciar o presidente ao Supremo Tribunal Federal.

    Vale ressaltar que especialistas e advogados têm expressado suas preocupações quanto ao impasse. Renato Stanziola Vieira, presidente do IBCCrim, observou que essa demora é “um recado de desestímulo, de insegurança” para procuradores. Da mesma forma, Marina Coelho Araújo ressaltou que a indefinição deixa a instituição “acéfala e sem rumo”.

    Os cientistas políticos têm opiniões divergentes sobre a motivação da demora. Para alguns, Lula está tentando manter Elizeta no cargo, para outros, está vinculado à experiência anterior de Lula com a Lava Jato e à sua recente saúde fragilizada.

    Independentemente das razões, o cenário é claro: a demora na indicação do PGR não é apenas um simples atraso burocrático. É uma representação da indecisão presidencial que pode ter implicações duradouras para a confiança e a estabilidade do órgão. Afinal, um governante deve mostrar não apenas vontade, mas também capacidade de agir, e até agora, Lula tem se mostrado aquém das expectativas nesta questão.

    Ah… até o momento, o petista ainda não indicou o substituto(a) da ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, que se despediu do cargo há quatro semanas.

    Segue abaixo o levantamento da Folha S. Paulo sobre indicações anteriores para a PGR.

    TEMPO PARA INDICAÇÃO DE PGRS DESDE A CONSTITUIÇÃO DE 1988

    Aristides Junqueira Alvarenga
    Indicado por José Sarney (MDB)
    Data da indicação: 20.jun.89
    Tempo: 34 dias após a saída do PGR anterior

    Geraldo Brindeiro
    Indicado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
    Data da indicação: 13.jun.95
    Tempo: 15 dias antes da saída do PGR anterior

    Cláudio Fonteles
    Indicado por Lula (PT)
    Data da indicação: 5.jun.03
    Tempo: 23 dias antes da saída do PGR anterior

    Antonio Fernando Souza
    Indicado por Lula (PT)
    Data da indicação: 14.jun.05
    Tempo: 15 dias antes da saída do PGR anterior

    Roberto Gurgel
    Indicado por Lula (PT)
    Data da indicação: 29.jun.09
    Tempo: um dia após saída do PGR anterior

    Rodrigo Janot
    Indicado por Dilma Rousseff (PT)
    Data da indicação: 17.ago.13
    Tempo: dois dias após saída do PGR anterior

    Raquel Dodge
    Indicada por Michel Temer (MDB)
    Data da indicação: 28.jun.17
    Tempo: 81 dias antes da saída do PGR anterior

    Augusto Aras
    Indicado por Jair Bolsonaro (PL)
    Data da indicação: 5.set.19
    Tempo: 12 dias antes da saída do PGR anterior

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