Clara Zetkin e o Antifascismo, cem anos depois (II): A interpretação da social democracia

A análise do fascismo apresentada por Clara Zetkin se faz por um viés de crítica que recupera a importante noção de luta de classes.

  • Por Caio Henrique Lopes Ramiro

    Na última semana nos aproximamos da trajetória e da reflexão política de Clara Zetkin, em especial de seu texto A luta contra o fascismo. Ainda parece importante alguma consideração acerca da biografia desta professora e política alemã.

    Zetkin é formada em direito e tida como uma das precursoras da luta pela emancipação das mulheres, fundamentalmente por sua ação política nos partidos no período da República de Weimar, com específica atenção aos direitos de participação política, como, por exemplo, o direito ao voto, sendo esta, talvez, a sua principal bandeira de luta.

    Não obstante, conforme mencionado no último ensaio, a análise do fascismo apresentada por Clara Zetkin se faz por um viés de crítica que recupera a importante noção de luta de classes. Em seu texto, o diálogo com a social democracia é personificado e dirigido a Otto Bauer, destacada liderança do Partido Social Democrata alemão (SPD).

    Em linhas gerais, o argumento de Zetkin lança forte crítica contra aquilo que ela chama de concepção reformista. Na realidade, neste ponto do texto, Clara Zetkin faz duas definições importantes, a saber: a) social democracia é sinônimo de reformismo e; b) fascismo é equivalente a reação mundial.

    Ora, por esta via fica claro que a concepção de Zetkin acerca do fascismo é a de que se trata de uma força de reação da burguesia ao proletariado e suas organizações.

    Neste sentido, o equívoco de Otto Bauer e da social democracia reformista está em considerar que o fascismo é uma consequência direta – algo como um terror burguês que se apresenta como reação -, da revolução russa de 1917.

    A tese que é personificada em Otto Bauer afirma que os comunistas russos são aqueles que dividem os partidos e os sindicatos e, além disso, são os responsáveis pelo terror e a violência fascista, o que é objetado por Zetkin quando afirma que “seria esperado que dessa observação ele apresentasse a conclusão de que a força deve ser combatida com a força”.

    No entanto, ressalta a pensadora alemã que a lógica reformista segue regras próprias, sendo estas últimas algo indecifráveis como as da providência divina.

    Dessa maneira, Clara Zetkin busca evidenciar que a social democracia (não só Otto Bauer) não pretende o enfrentamento com a burguesia, significa dizer que a ação política social-democrata se apresenta algo misteriosa – pois detém a leitura iluminada acerca da reação burguesa -, e deve ser realizada dentro do parlamento e em alguns outros espaços (partidos, sindicatos), contudo, sem colocar no horizonte a luta de classes e a revolução.

    Trata-se de uma leitura acovardada e derrotista, haja vista que reconhecem a “força inabalável da ordem capitalista e do domínio de classe da burguesia”.

    Assim, de acordo com Clara Zetkin a caracterização da social democracia acerca do fascismo é uma melancólica visão política que afirma o fascismo como “uma expressão da inabalável e toda poderosa dominação da classe burguesa”.

    A aproximação entre fascismo e dominação burguesa parece correta, todavia, a compreensão de que a classe trabalhadora não esteja à altura da luta contra o fascismo é o equívoco acovardado da social democracia, o que expõe a fé inabalável dos reformistas na ordem capitalista e no domínio de classe da burguesia, impondo ao proletariado a esperança em quietude de que no futuro às migalhas serão repartidas pela via da democracia parlamentar e das reformas.

    A luta continua…

    Foto: uidder.org

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