Olá! Como você está, leitor? Mais uma terça-feira e mais um LiteraturaPost! Está animado para nossa conversa de hoje?
Com a enxurrada de filmes Hollywoodianos, com narrativas que se repetem, assim como personagens estereotipados: Mocinha isolada na escola, competição feminina, triângulos amorosos, o escolhido machão. Porém, quando bem executados, ou não escritos de forma clichê, esses tropos podem ser reinventados e ressignificados.
Digo isso porque algumas destas situações são tão recorrentes nos gêneros literários que os leitores aguardam ávidos por eles na narrativa.
Em um livro de fantasia Jovem adulto, por exemplo, há uma grande chance do protagonista ser o estereótipo de O escolhido (aquele que irá salvar o mundo). Se a história for protagonizada por uma personagem feminina, é muito possível que terá um triângulo amoroso para que a trama tenha mais reviravoltas e tensão entre os personagens, pois é uma expectativa daquele público alvo os personagens passarem por aquela situação. o que dita se o trecho será banal ou clichê é criatividade do autor para subverter e ressignificar essas situações.
Outro exemplo são os livros de romance romântico, onde os casais têm a troca de olhares, primeiro beijo, finalmente ficam juntos, surgem as dificuldades, a separação e no fim o reencontro. A Fórmula é a mesma, o que dita se o livro será bom ou não são a execução da e os personagens.
Porém, há muitos estereótipos que, em pleno 2022, não há mais espaço para serem reproduzidos em novas obras literárias por questão de bom senso, pelo “espírito do tempo” e pela exigência dos leitores. Além de que histórias que seguem padrões antigos de narrativas estereotipadas tendem a envelhecer mal e não servir ao propósito da atualidade e dos novos leitores e consumidores do entretenimento, que tanto consomem de forma consciente e quanto executam o linchamento virtual, mais conhecido como “cancelamento” ao primeiro descuido, mesmo que bem intencionado, dos autores.
Sendo assim, vou te mostrar alguns destes estereótipos abaixo, e espero avidamente sua opinião sobre eles.
Mary Sue
Sabe aquelas personagens que são lindas, perfeitas, e que só existem nos sonhos do autor, pois nenhuma mulher de verdade seria daquela forma? É uma personagem pouco desenvolvida, perfeita demais e com falta de realismo e assim deixando de ser interessante. Normalmente é uma projeção dos desejos do autor.
Todos nós temos qualidades e defeitos, então os personagem também devem ter.
Maniac pixie dream girl
É a Mary Sue, acrescida com os defeitinhos na medida certa. Ela é descolada, podendo até beber socialmente, curtir um futebol.Também é fora do padrão, muitas vezes tendo tatuagem ou cabelos coloridos, é bem resolvida sexualmente, porém não é hiperssexualidade e, claro, é daquelas bonitas sem esforço.
O problema com o estereótipo da MPDG é que ela é sempre a âncora mágica de um homem que está passando por dificuldades ou crises existenciais, surgindo na vida dele para salvá-lo da infelicidade. Por isso é, em tradução literal, ela é a “fada maníaca garota dos sonhos”, surgindo do nada, se apaixonando pelo personagem problemático, mudando magicamente sua vida, e desaparecendo com a mesma velocidade que apareceu.
Mesmo sendo um estereótipo melhor do que a Mary Sue, ainda é problemático ao dar a responsabilidade de consertar a vida do parceiro. Basicamente o mito da mulher “ Casa de reabilitação” para marmanjos perdidos na vida, colocando na mulher a responsabilidade desta mudança, e criando a ilusão que quando o homem encontra a mulher certa, ele muda da água para o vinho. Assim como as fadas, a Maniac pixie dream girl só existe na imaginação, como uma projeção dos desejos de quem escreveu e que retira de si a responsabilidade pela própria felicidade e da solução de seus problemas.
Personagens que têm profissões estereotipadas por sua cor, classe ou condição social
O que empregada doméstica negra, Bandido morador de periferia, Travesti espalhafatosa, Cabelereiro Gay, Lésbica com roupas masculinizadas e o nerd deslocado têm em comum?
Os estereótipos mostrados em novelas.
Mas, Josi, porque personagens descritos ou interpretados dessa forma estão errados?
O erro mora no fato que esses personagens, em sua grande maioria, são rasos, são planos, sem uma curva de aprendizado ou uma construção significativa de suas características psicológicas de seu passado. Eles são apenas a sua função. As pessoas têm personalidade, sonhos, trejeitos, modos de vestir.
Nem todo mundo que mora na periferia é bandido. Em meio à vida sofrida, há pessoas estudando e buscando um futuro melhor, mães trabalhadoras, policiais , como também voluntários que acreditam na transformação social.
Uma mulher negra poderia ser empregada doméstica e cantar em barzinhos no fim de semana. Qual é o passado dessa mulher, quais seus sonhos, como é sua personalidade, seu modo de vestir? Ela tem manias? Na história ela cumpre apenas uma função vazia ou é um personagem bem construído?
O problema está na generalização que deixa o personagem vazio, apenas cumprindo um papel.
Típico do racismo estrutural e da invisibilidade social que afeta essas minorias e vela o olhar das pessoas para olhar com carinho e tentar entender as história por trás das dificuldades vividas por essa parcela da população.
Outro erro muito cometido ao colocar apenas um personagem de uma minoria é transformá-lo em vilão ou morrer ser a sua única função na história. Claramente foi conduzido como um personagem descartável para a história, ou demonstrando um preconceito velado.
Romantização de relacionamento abusivo / Personagem com passado traumático de abuso sexual para se tornar uma pessoa mais forte.
Abusos não são fáceis de superar, muito menos como em um passe de mágica. Na vida real um mafioso não vai se tornar um príncipe encantado só por conhecer uma mulher “de sua vida”. Mulheres morrem todos os dias por promessas vazias em relacionamentos tóxicos.
Assim, narrativas com uma visão imaturas e romantizadas de situações perigosas podem gerar expectativas erradas da realidade para pessoas sem experiência de vida. Quando mal executados na literatura, reforçam a normalização e perpetuação desses do que a reflexão e libertação destes relacionamentos abusivos.
Animosidade feminina e disputa no amor
Quantos filmes, séries e livros mostram personagens femininas disputando o mesmo garoto, que, coincidentemente é o garoto popular com atitudes tóxicas? Narrativas assim perpetuam e incentivam a disputa entre as garotas, que deveriam ser apoio umas para as outras além de lutar contra relações abusivas.
O amigo gay e os personagens que apenas cumprem uma “quota”
É nobre a disposição em acrescentar nossas cores e traços às narrativas que até décadas atrás tinham apenas personagens brancos com características européias.
Porém, não ocasionalmente, esses personagens fora do padrão são personagens secundários que seguem o protagonista com todas suas características clássicas. Muitas vezes são personagens que suas atitudes não fazem diferença para narrativa, estão lá apenas para que a história esteja cumprindo seu papel na inclusão. Como disse, incluir personagens é um início, mas passando desde primeiro momento, é necessário ter personagens bem trabalhados para que as pessoas se sintam representadas e respeitadas.
A literatura e a indústria do entretenimento estão evoluindo aos poucos, e muito disso por exigência dos consumidores que estão ávidos por personagens mais reais que os representam em sua diversidade. Mas a estrada para a mudança ainda é longa, porém fico muito feliz que os primeiros passos foram dados.
E você, leitor, que acha deste estereótipos? Muitos estereótipos ficaram de fora, o que daria para uma segunda parte.Já tinha notado algum deles em filmes, livros, séries ou novelas? Conhece outros? Comenta aqui abaixo.
Bom, espero que tenha curtido o conteúdo, acompanhado de sua bebida favorita.
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Até o próximo LiteraturaPost!
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