André Vianco é escritor nacional do gênero terror com vários livros best-sellers, dentre eles:
Sétimo, Os sete, Vampiro Rei, O turno da noite, Penumbra, O senhor da chuva, Sementes do gelo, A noite maldita, Estrela do amanhã e diversos outros livros aclamados pelos leitores e pela crítica.
Se tornou best-seller em um momento onde a literatura nacional contemporânea era preterida à Literatura internacional, mudando a forma como as pessoas veem a literatura de gênero aqui no Brasil. É considerado o pioneiro do Fantasismo e suas obras flertam com o terror, o místico e o sobrenatural.
Além de romancista é roteirista e professor na Hardcover Storytelling Academy.
Olá, Vianco. Primeiramente gostaria de agradecer por prestigiar o LiteraturaPost.Bom, em suas lives e webnars você conta sobre o início de sua carreira, que em um salto de fé você usou o dinheiro do seu seguro-desemprego para investir em seu primeiro livro.
Me conte como foi que você se descobriu autor: você sentiu um chamado, sua intuição dizia que iria dar certo ou foi mais como uma necessidade de se expressar?
Acho que bem no começo, Josi, foi um pouco de tudo. Eu já amava as palavras e escrever. Sou leitor desde a alfabetização que, no início dos anos 80 na “1ª série”. O caminho para amar as palavras foi um pouco tortuoso, pois eu hiperativo, sofria do transtorno de déficit de atenção e ansiedade. Coisas que não eram diagnosticadas no Brasil naqueles tempos. Depois de apaixonado por palavras e, principalmente, por histórias comecei a pisar num caminho sem retorno.
Em sua carreira como escritor, qual foi:
O seu momento mais difícil?
Acho que viver a angústia dos meus protótipos. Dois livros que escrevi antes de escrever “O Senhor da Chuva”, que está voltando pela Citadel, e este considerei meu primeiro romance. Os nãos, as cartas com negativas das editoras não eram um problema. Sempre enxerguei essa fase inicial do processo como aprendizado e vivi grandes transformações do mercado… sou um ser pré-internet… como é que isso funcionava? Guia 4 Rodas na mão para ir a um lugar desconhecido.
E o momento mais sublime?
Foram tantos e tantos. Tantas cartas de leitores, depois e-mails. Ver a obra O Vampiro-Rei adaptada para o Playcenter em forma de teatro musical. Ter meu livro A casa adotado para o programa de Língua Portuguesa na Academia de Colorado Springs… ter comprado minha casa com dinheiro de livros. Sou grato a muita coisa em razão de ter apostado minhas fichas.
Com um currículo invejável, carreira sólida e dezenas de títulos, qual é a sua obra que você tem mais apreço? E seu personagem favorito dentre aqueles que criou?
Quando um escritor diz que é difícil responder essa pergunta é porque é mesmo. É como escolher um filho. Tudo não é uma coisa só. Cada livro te levou, de forma magistral, a pisar mais forte no campo do outro, a ousar mais. Com os personagens acontece algo muito parecido, mas me marcam demais as vampiras Raquel e Calíope.
Você é um grande incentivador de histórias que se passam no Brasil. Nos conte como foi a decisão de usar a cidade de Osasco como um dos cenários onde a trama de Sétimo se passa?
Foi totalmente natural. Eu é que me pergunto por que diabos autores nacionais querem contar histórias em Nova York, em Londres se não tem no sangue o pulso da cidade. Contudo, sempre ressalto, Josi, que a imaginação não tem estribos nem normas. Cada um escreve como quiser, coloca a vida dos personagens onde quiser. Não é proibido conceber histórias em outros países. Já fiz isso e farei de novo. O que conta, no fim mesmo, é o que se passa por dentro de seus personagens e não onde eles estão. O que importa é que escolha seus personagens farão para estarem em movimento e levar o leitor arrestado por sua criação.
O que o leitor ganha quando os autores escrevem histórias que passam em território nacional? Qual é a importância dessa valorização e o que impactará nas próximas gerações?
Ah, aí se abre um mundo. A razão de criarmos contos em bailes de formaturas em escolas Norte Americanas vem da hegemonia estadunidense no audiovisual e na ficção escrita. A importância é que não será mais estranho sermos nós mesmo nas páginas dos livros, sem estranhamento nenhum. A famosa e gloriosa frase atribuída ao Russo Tolstói é uma das mais belas: “Se queres ser universal, comece por pintar tua aldeia”. A mim faz TODO o sentido do mundo. Leitores já se mobilizaram em excursões fora do estado para visitar Osasco… onde, sinceramente não há nada para se ver. Para os leitores existem os cenários, as ruas onde o pau quebrou, onde Inverno fez nevar e etc…
Como você cria personagens tão verossimilmente com a realidade? Qual é o segredo para deixar até personagens sobrenaturais tão humanos e críveis?
Poderíamos ficar dias falando sobre isso (descobri no caminho que amo ensinar o nosso ofício), mas o coração do personagem é que ele deve ser humano em demasia… ou seja, ter desvios mentais, partes incompletas de si mesmo em sua mente, estar numa constante jornada de transformação. Simplificando: Como nós os personagens precisam ter mais defeitos que virtudes.
Mesmo que no meio internacional seja de praxe a profissionalização dos escritores com cursos, universidades e muita técnica, aqui no meio nacional ainda existe um estigma que as técnicas podem engessar a criatividade e a inspiração. O que você diria para eles?
Cresçam. Se pararem para ouvir o passado talvez, algum dia criem ficção dramática digna de ser algumas linhas.
Qual a importância e como você se inspira no storytelling clássico em suas histórias?
Alguns têm altares para Cristo, outros para Buda, outros para Shiva… eu acendo uma vela para Aristóteles e outra para Horácio e peço licença na hora de entrar descalço nas veredas do Storytelling que nele já aprendi muito e ainda pouco sei. É escrevendo todo dia que se aprende mais.
Vianco, você é um escritor com uma missão que vai além das linhas escritas: você quer transformar a literatura nacional mostrando tudo o que ficava às escondidas no processo de criação de um livro, seja nas técnicas, criação de personagem e até mercado literário. Como professor e idealizador da Vivendo de inventar, qual é o seu maior propósito?
Não é nada tão grande, mas se nos encontrarmos no mundo de contar histórias estarei segurando uma candeia para iluminar o caminho a frente. Planto uma semente hoje quiçá vingue. Não grande projeto nem grande missão. Só amo escrever e ensinar como os grandes usaram estrutura para nos “iludir”.
Como está sendo adaptar o conceito de sala de roteirista para a literatura na Wolfpack? Como esse formato revoluciona a literatura e a forma que o autor trabalha?
Tem sido eletrizante conseguir mesclar a práxis das salas de roteiristas com a salas de narradores. Sempre tive o instinto de que funcionaria bem. E funciona mesmo. Tem sido empolgante.
Você acha que o mercado nacional e contemporâneo da literatura se encontra em ascensão, já que um dos termômetros é quantidade de séries baseadas em livros nacionais sendo lançadas nos streamings? Você acredita que com a profissionalização do escritor os leitores estão mais abertos para os livros nacionais contemporâneos?
Está em ascensão, sim. Na verdade observo mais portas e janelas abertas do que antes. Ainda é preciso que o autor invista tempo na divulgação da sua obra como era feito antes. E o melhor investimento é contar histórias bem contatadas que todo mundo quer ler novamente, ouvir novamente, saber o que acontece na próxima página. As empresas de streaming precisam de novidades todos os dias, mas vão buscar o biscoito fino, o que foi bem feito, o que foi imaginado para conquistar o leitor.
Como você se sente ao inspirar tantos escritores?
Acho incrível. Não estava na minha lista de desejos. Aconteceu. Para mim é um orgulho ouvir de tantos autores e autoras que a vontade de pular no mundo das letras veio depois de um livro meu. Agradeço.
Conta pra gente as novidades: Qual seu próximo lançamento? Qual o próximo evento que você irá participar?
Próximo evento é a Bienal. Dia 04 de julho, às 16hs.
Você poderia deixar um recado para os autores e leitores que admiram seu trabalho?
Vão! Escrevam! Contem suas histórias. Seu leitor já existe e está esperando para te ler.
Agradeço demais sua participação, professor Vianco!
E você, leitor? Gostou da entrevista? Deixa um recado para André Vianco nos comentários!
Adorei o espaço e as perguntas. Todos que tiverem afinidade me procurem no instagram @andrevianco e lá encontrarão o link para o meu WhatsApp. Beijos.
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