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Por Ronaldo Nezo | Maringá Post
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) subseção Maringá está passando por um processo de renovação e busca constante de aproximação com os profissionais da advocacia e com a comunidade. Quem garante isso é o presidente da entidade, Pedro Henrique Souza, que completa pouco mais de seis meses à frente da gestão e acumula quase duas décadas de envolvimento com a instituição.
Em entrevista ao podcast Ponto a Ponto, do Maringá Post em parceria com o V Mark Estúdio, Pedro Henrique traçou um panorama sobre desafios, conquistas e planos que devem impactar diretamente não apenas os advogados, mas a sociedade maringaense.
O desafio de envolver a advocacia
Maringá e região somam atualmente cerca de 7.500 advogados distribuídos em oito comarcas. Para o presidente, o grande desafio da OAB é alcançar esse contingente de profissionais, muitos dos quais acabam se mantendo distantes da entidade.
“Estamos trabalhando para mostrar que a instituição pertence a todos os advogados e também tem compromisso com a sociedade”, enfatiza Souza. Parte dessa estratégia é oferecer atividades online e projetos que facilitem a participação mesmo de quem atua em cidades menores ou bairros mais afastados.
A OAB Maringá conta hoje com cerca de 60 comissões temáticas, responsáveis não apenas por promover atualizações jurídicas, mas também por fomentar ações sociais. São essas comissões, por exemplo, que têm atuado em situações como denúncias sobre problemas na alimentação de presos na PEM (Penitenciária Estadual de Maringá) ou irregularidades em abrigos infantis da cidade.
“Quase tudo que acontece dentro da OAB nasce nas comissões temáticas. Elas não apenas defendem interesses da advocacia, mas também estão na linha de frente para resolver questões da comunidade”, explica o presidente.
Desagravo em Nova Esperança expôs violações às prerrogativas
Entre os casos que exigiram ação firme da entidade recentemente está o episódio envolvendo duas advogadas de Maringá, que atuavam em Nova Esperança. Após denunciarem suspeitas de tortura contra um cliente na área criminal, as profissionais foram alvo de indiciamento por denunciação caluniosa — algo que Pedro Henrique classificou como uma tentativa de silenciar a advocacia.
“É inadmissível. Advogado está ali para defender direitos alheios e não pode ser calado. O desagravo não é algo que desejamos fazer, porque mostra que as prerrogativas da advocacia foram gravemente feridas. Mas foi necessário”, explica. O desagravo foi aprovado em tempo recorde: apenas três dias após ser protocolado.
Escola de Liderança para mulheres advogadas
Outro destaque da atual gestão é o projeto ELMA – Escola de Liderança da Mulher Advogada, criado para preparar advogadas para o exercício da profissão em todas as dimensões, inclusive gestão de escritórios, precificação de serviços e liderança.
Pedro Henrique destaca que, apesar de serem maioria na advocacia, as mulheres ainda enfrentam barreiras para alcançar posições de protagonismo. “A mulher advogada ainda não tem o mesmo espaço. A ELMA é uma forma de preparar essas profissionais para liderarem e, também, conscientizar os homens sobre essas dinâmicas”, explica.
O projeto, que surgiu em Maringá, já está sendo replicado em outras regiões do Estado. A primeira turma conta com 80 advogadas e há fila de espera para novas edições. Além de cursos técnicos, a ELMA promove rodas de conversa e iniciativas como clubes do livro, discutindo temas relevantes à mulher na profissão e na sociedade.
Inteligência artificial: desafio e oportunidade
A chegada da inteligência artificial (IA) também vem transformando profundamente a rotina da advocacia, exigindo preparação para evitar usos indevidos — como já ocorreu em casos em que profissionais protocolaram peças jurídicas com jurisprudências inventadas por sistemas automatizados.
“Não é para ter medo da IA, mas precisamos aprender a utilizá-la com responsabilidade”, afirma Pedro Henrique. A subseção, em parceria com a Escola Superior de Advocacia, está promovendo cursos para ensinar advogados a usar as ferramentas digitais de forma ética e eficiente.
Além de preparar a advocacia para os desafios da Inteligência Artificial, a própria OAB Maringá está planejando implantar soluções em IA para melhorar sua comunicação interna e externa. “Detectamos que a nossa comunicação ainda falha em vários pontos. Estamos implantando sistemas para aproximar ainda mais o advogado da OAB, com informações rápidas e acessíveis”, explica.
Conjuri e Semana da Advocacia Participativa
Maringá também se prepara para sediar, em outubro, a 17ª edição do Conjuri – Congresso Jurídico Integrado, considerado o maior congresso jurídico do Brasil promovido por uma subseção da OAB. O evento reúne juristas renomados, filósofos, professores e estudantes, e deve atrair milhares de participantes. Entre os nomes confirmados está o do presidente da OAB Paraná, Fernando Casagrande Pereira.
Pedro Henrique adianta que a novidade para este ano é a tentativa de integrar parte do Conjure com a Semana da Advocacia Participativa, projeto que oferece atendimento jurídico gratuito à população, com participação de advogados voluntários e estudantes de direito.
“O objetivo é transformar parte do congresso em projetos de extensão, aproximando ainda mais a sociedade da advocacia. Mesmo se não conseguirmos implementar totalmente neste ano, a Semana da Advocacia Participativa vai acontecer em agosto, no terminal urbano, com vários serviços à população”, explica.
Baile do Rubi, tradição e integração
Outro evento de destaque é o tradicional Baile do Rubi, celebração do Dia da Advocacia. Pedro Henrique reforça que a festa deixou de ser algo restrito à classe. “Queremos que seja uma celebração da advocacia com a sociedade. Convidamos autoridades, clientes, amigos. É um momento festivo, mas também de diálogo e fortalecimento de laços.”
Neste ano, a festa trará atrações musicais diversificadas, incluindo MPB e pagode, para atender os diferentes gostos do público. A expectativa é reunir cerca de 600 pessoas.
Construção coletiva
Apesar dos desafios — desde a necessidade de comunicação mais eficiente até as transformações tecnológicas e as pautas sociais — Pedro Henrique mantém o otimismo. “Nada se faz sozinho. Tenho uma diretoria fantástica e contamos com advogados e advogadas comprometidos. Nosso objetivo é sempre fortalecer a advocacia e servir à sociedade.”
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