Vozes do rádio maringaense contam histórias da profissão: “Absorvi tudo que ele me trouxe de bom”

Nesta terça-feira (15), a primeira transmissão de rádio da história de Maringá completa 74 anos. Locutores há mais tempo no ar em uma mesma emissora na cidade, Amarildo Legal a Alexandre Carioca falaram sobre suas trajetórias na profissão, a relação com os ouvintes e arriscaram projetar o futuro: “O rádio nunca vai acabar”.

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    A história de Maringá se funde com a chegada, ao norte do Paraná, de um tradicional meio de comunicação. Há 74 anos, em 15 de julho de 1951, ia ao ar a primeira transmissão de rádio da Cidade Canção. Estamos falando da rádio Cultura AM, de propriedade de Samuel Silveira e que, na época, foi convencido por dirigentes da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná a instalar o empreendimento na recém-fundada cidade e não na já consolidada Mandaguari.

    Francisco Dias Rocamora, experiente radialista, foi quem disse as primeiras palavras daquela transmissão: “Senhores, senhoras, esta é a ZYS-23, rádio Cultura de Maringá, em 1520 kHz, inaugurando as atividades”. Mais de sete décadas se passaram e a Cultura já não existe mais. O rádio, no entanto, que tantas vezes falou-se que ia acabar, segue mais vivo do que nunca.

    Em Maringá, especialmente, as ondas que chegam aos ouvintes todos os dias têm a marca registrada de profissionais que fizeram dos microfones mais do que um trabalho, mas uma forma de deixar um legado. O Maringá Post conversou com dois radialistas que estão em suas emissoras há mais de duas décadas na cidade, vozes tão marcantes que se tornaram uma espécie de ‘marca registrada’ das rádios em que trabalham.

    Estamos falando de Amarildo dos Santos, ou popularmente Amarildo ‘Legal’, da Maringá FM, e Alexandre ‘Carioca’ Mota, da Jovem Pan Maringá. Somados, ambos tem quase 50 anos de rádio apenas na Cidade Canção. E depois de tanto tempo no ar, não escondem o quanto o rádio é especial em suas vidas, se arriscando até a profetizar o futuro: “o rádio não acabou e nunca vai acabar”.

    De uma brincadeira entre amigos ao sonho de ser locutor

    Amarildo Legal é o sinônimo de ‘a cara da empresa’. Andando nas ruas diariamente, o locutor é facilmente reconhecido por conta do trabalho desenvolvido diariamente na Maringá FM, onde é voz inconfundível há 26 anos.

    Natural de Londrina, ele mudou-se para Maringá na juventude para trabalhar em uma fábrica de pipocas, no Jardim América. Fã de rádio e da própria Maringá FM, ele conta que começou a brincar de imitar os locutores quando serviu ao Exército, em 1989. Da brincadeira, foi encorajado por amigos a tentar a sorte na profissão.

    Amarildo
    Amarildo Legal: voz da Maringá FM há 26 anos | Foto: Victor Ramalho/Maringá Post

    “Eu morava em Maringá, já e eu ouvia muito a Rádio Cultura, na época, inclusive, eu ouvia demais os locutores da época e eu falei, “poxa, como é legal o rádio”, gostava demais. E aí, quando eu fui para o quartel, servir o exército em Curitiba, lá eu ficava imitando o locutor, narrava jogo, imitava o locutor, da Maringá FM na época e aí o pessoal falou: “Amarido, pô, você tinha que trabalhar em rádio”, relata.

    Logo após o retorno do serviço militar, o futuro radialista embarcaria para uma viagem até Tupã, no interior de São Paulo. Lá, conheceu a companheira com quem divide a vida até os dias atuais, e foi ela inclusive que o ajudou a conseguir um teste em uma emissora de rádio no município paulista, o primeiro emprego do profissional no meio.

    “Passou uma semana, eu estava trabalhando na fábrica de pipoca, recebo uma ligação. Aí atendia e era ela, falando “meu pai conhece o dono da rádio em Tupã, você não quer fazer um teste aqui?” E eu fui para Tupã fazer um teste e acabei sendo aprovado. Comecei no rádio em 1 de outubro de 1990. Dia 11 eu já estava namorando ela também, pedi ela em namoro, minha esposa até hoje. E lá comecei minha história no rádio, então lá eu aprendi a fazer tudo, porque eu trabalhava AM de manhã e FM à tarde, porque ele tinha duas rádios lá o dono. Para mim foi uma escola, o AM, aprendi a fazer uma entrevista, fui repórter de futebol muito tempo e fazia o FM à tarde, então lá foi uma escola”, relata.

    O sonho de voltar à Maringá e trabalhar na Maringá FM, emissora que o inspirou no passado, falaram mais alto. Com o auxílio de uma fita demo, Amarildo foi contratado pela emissora maringaense em 1994, ficando até 1997 antes de retornar para o interior de São Paulo. Mas, como o bom filho à casa torna, em 2002 o locutor retornaria para a Cidade Canção, onde permanece até os dias atuais.

    Em 35 anos de profissão, Amarildo relembra alguns momentos marcantes. “Eu tenho muita história bacana, muita entrevista que eu fiz, assim, marcante. Eu entrevistei aqui na Maringa FM o Ray Conniff, um cara que marcou a história da música no mundo. Fiz muitas entrevistas com políticos, entrevistei Mário Covas em cima de um trator, lá em Tupã. Uma entrevista que marcou para mim foi com os Mamonas Assassinas, uma entrevista coletiva que eu fiz e tem isso em vídeo, inclusive, que é uma coisa relíquia”, resgata.

    Para o radialista, a profissão ajuda a contar a sua própria trajetória de vida. “O rádio só me trouxe coisas boas. Eu acho que eu tentei absorver tudo o que o rádio me deu para mim, para a minha vida pessoal, minha vida profissional e eu acho que eu consegui, graças a Deus, atingir o meu auge”, finaliza.

    Do Rio de Janeiro para a Cidade Canção

    O apelido ‘Carioca’ não é por acaso. Natural do Rio de Janeiro, Alexandre Mota fez parte de uma das primeiras equipes da Jovem Pan no Rio quando a rádio foi fundada no estado, em 1994. Após ter iniciado a profissão pela rádio Transamérica do Rio, em 1992, o locutor chegou a JP de Niterói em 1995.

    No processo de expansão da emissora pelo Brasil, Carioca foi convidado a conhecer Maringá no fim da década de 1990 e faz parte da Jovem Pan Maringá, de forma interrupta, desde 2002. Ele conta que o rádio sempre foi um sonho de infância, que batalhou para transformar em realidade.

    Carioca
    Alexandre ‘Carioca’ Mota: 22 anos de Jovem Pan Maringá | Foto: Victor Ramalho/Maringá Post

    “Eu sempre fui para as boates na juventude, mas o meu interesse não era a mulherada (risos), eu queria ver os DJs trabalhando, falando no microfone, operando os equipamentos. Foi assim que comecei a aprender e aí fui pegando o gosto pela coisa. Agora, estamos aí, 22 anos no ar, quase 23, e o rádio pra mim representa tudo”, resumiu.

    Mota é um dos primeiros a chegar na emissora, todos os dias, por volta das 5h30. Além de ser o responsável por operar a programação, também segue no ar como locutor em muitos momentos do dia. Só deixa a ‘caixinha’ por volta das 20h30. Mas ele não reclama da rotina.

    “Eu sou apaixonado por isso aqui, é a minha vida. O rádio é algo maravilhoso e só quem faz isso de paixão sabe do que estou falando”, conta o radialista.

    Em mais de duas décadas no ar em Maringá, Carioca lista algumas histórias que o marcaram e fala da relação com os ouvintes. Muitos deles, inclusive, viraram amigos do profissional. “Minha relação com os ouvintes é ótima. A galera me reconhece na rua, tem uns que até pagam café pra mim (risos). É algo muito legal, muito gratificante. Quando começou esse negócio de podcast, falaram que o rádio ia acabar. Não acabou e nunca vai acabar. Eu amo isso aqui, essa ‘caixinha’, como a gente chama”, disse.

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