Tempo estimado de leitura: 5 minutos
A trajetória de Rafael Cecato, presidente da Abrasel Noroeste, é marcada por fatos curiosos — de servidor público no Tribunal Regional Eleitoral ao comando de bares tradicionais de Maringá e da principal entidade do setor na região. Em entrevista ao podcast Ponto a Ponto, gravado no W Mark Estúdio, Cecato compartilhou bastidores de sua escolha profissional, os desafios de empreender em Maringá e a transformação que a Abrasel trouxe para o segmento.
A decisão de ir além da atuação no serviço público para abrir o Firula Bar em 2012, segundo Cecato, foi impulsionada por uma antiga vontade de empreender. “Eu sempre gostei muito de gestão de pessoas. Apesar de ter formação em Direito, percebi que minha vocação não era seguir na área jurídica”, disse. O bar surgiu como opção viável por operar no período noturno, o que não conflitaria com seu expediente diurno no tribunal, onde segue trabalhando.
Pandemia mudou a lógica do negócio
À frente do Firula há 12 anos e do Mariaki há 3, Cecato destaca que poucos setores sofreram tanto na pandemia de Covid-19, em 2020, quanto o de bares e restaurantes. “Meu faturamento caiu para menos de 25% do habitual por dois ou três meses seguidos. Só consegui sobreviver porque tenho renda fixa do meu cargo público, mas quase fechei as portas. Foram meses em que tive de pensar como salvar 15 a 20 famílias que dependem do negócio.”
Nesse cenário, a atuação da Abrasel foi decisiva, afirmou. “Muitos empresários se sentiram acolhidos na entidade. A Abrasel teve papel fundamental para evitar um prejuízo ainda maior ao setor, articulando medidas como o Benefício Emergencial, que ajudou a manter empregos, e linhas de crédito para empresas.”
Setor precisa abandonar o improviso
Segundo Cecato, a pandemia também expôs o improviso que ainda marca o setor. “Muita gente acha que abrir um bar ou restaurante é simples, basta alugar um ponto e comprar uma fritadeira. Mas nosso ramo exige profissionalismo, gestão, planejamento, marketing, tudo para sobreviver em meio à concorrência feroz.”
Em Maringá, ele observa um movimento crescente de busca por capacitação, embora ainda haja espaço para evolução. “Estamos levando muitos cursos em parceria com o Sebrae, inclusive sobre delivery, que virou realidade para muitos. Mas ainda tem quem não perceba que cada real investido em marketing gera retorno.”
Clima mais colaborativo
Além de estimular a profissionalização, Cecato enxerga a Abrasel como responsável por quebrar barreiras entre empresários antes vistos como rivais. “Quando fundamos a Abrasel aqui em 2015, o clima era de concorrência dura, quase hostil. Hoje, o segmento está mais unido, há mais cooperação e visão de que o mercado é amplo o bastante para todos.”
Maringá: mercado aquecido, mas custos altos
Cecato avalia Maringá como uma cidade em ascensão no cenário gastronômico. “Maringá virou polo. Vemos grandes marcas chegando, como Coco Bambu e Outback. Mas o custo de manter negócios está alto: energia, aluguel, insumos subiram muito. Nem tudo dá para repassar ao cliente, porque o produto encarece demais.”
O presidente da Abrasel também pontua mudanças no comportamento do público pós-pandemia, como a preferência por sair mais cedo e pela conveniência do delivery — algo que impacta diretamente bares e restaurantes que apostavam no movimento noturno prolongado.
Empreender exige estudo e resiliência
Para quem deseja entrar no ramo, Cecato é enfático: “Empreender é maravilhoso, mas exige estudo, planejamento e profissionalismo. Se eu pudesse falar com o Rafael de 2013, diria: faça pesquisa de mercado, estude antes. Teria sofrido muito menos.”
Ainda assim, para ele, o setor mantém seu charme. “Atender clientes é algo que me realiza profundamente. É gratificante ver o cliente feliz.”
Mão de obra fluida é desafio
Uma dificuldade que preocupa o segmento é a mão de obra cada vez mais avessa à rigidez dos vínculos formais. Cecato cita pesquisas da Abrasel mostrando que mais de 50% dos trabalhadores do setor preferem atuar como autônomos ou freelancers. “Isso força o empresário a estar preparado para essa flexibilidade. O mercado mudou, e precisamos nos adaptar.”
Cecato encerra com um alerta: sem profissionalismo, o risco de fechamento em poucos anos é alto. “O índice médio de manutenção no ramo gira em torno de quatro anos. Só fica quem realmente faz gestão séria.”
Serviços:
- Podcast Ponto a Ponto com Ronaldo Nezo está disponível no nosso canal do Youtube.
- Abrasel Noroeste possui hoje 268 associados e segue expandindo ações de capacitação na região.
Comentários estão fechados.