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Quando planejou Maringá, o urbanista Jorge de Macedo Vieira destinou uma área central da cidade para concentrar os principais órgãos públicos, como o Paço Municipal, o Fórum Estadual e a Câmara de Vereadores. Ao longo das décadas, no entanto, os prédios se tornaram obsoletos, e o aumento no fluxo de veículos no centro da cidade tornou o acesso mais difícil.
Desde 2009, durante a primeira gestão municipal de Silvio Barros, teve início um processo de transferência dessa centralização de instituições para a região do antigo aeroporto, na Avenida Gastão Vidigal, projetando o local como um novo Centro Cívico. A ideia é que a região reúna, de forma planejada, as sedes de instituições governamentais em um único complexo urbano, moderno, acessível e conectado. Localizado na Zona 8, o projeto avança aos poucos e já mostra resultados concretos.
Hoje, a região do antigo aeroporto abriga o Fórum Trabalhista, o Fórum Eleitoral e o Hospital da Criança. A Delegacia Cidadã está finalizada e deve ser inaugurada ainda neste ano. Também estão em andamento as obras da nova sede do Ministério Público do Paraná.
Mas o principal destaque deste projeto é a intenção de construir as novas sedes da Prefeitura de Maringá e da Câmara de Vereadores. Os lotes para ambas as obras já foram doados ao município pela União e pelo Governo do Estado.
E não é só. Outros órgãos já confirmaram a instalação no local, como a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Federal e o Corpo de Bombeiros. Uma nova unidade do Instituto Federal do Paraná (IFPR) também está prevista: com terreno reservado e projeto em elaboração, a instituição deve atender cerca de 3.200 alunos, com centenas de professores e servidores.
Para o prefeito Silvio Barros, a consolidação do Novo Centro Cívico é um movimento estratégico que reorganiza a cidade e melhora o acesso da população aos serviços públicos. “A concentração dos órgãos facilita tanto o atendimento ao cidadão quanto a interação entre instituições”, afirmou em entrevista à CBN Maringá, no dia 23 de junho.
Ainda segundo o prefeito, as tratativas para a criação do Novo Centro Cívico começaram após a definição de que a área do antigo aeroporto pertenceria à União. A Prefeitura apresentou um projeto de uso público e negociou a doação dos terrenos com o governo federal, destinando-os exclusivamente para instituições públicas. “Na época, havia pressão para transformar a área em loteamento popular. Sabíamos que não era o ideal para uma região tão nobre. Apostamos em um polo de serviços públicos que gerasse impacto duradouro”, disse.
Nova Prefeitura e Câmara Municipal
Uma das metas da atual administração municipal é iniciar a construção da nova sede da Prefeitura no Centro Cívico ainda nesta gestão. Segundo o atual prefeito, o projeto está sendo definido com base em quatro estudos simultâneos.
O primeiro mapeia todos os prédios atualmente alugados pela administração. O segundo identifica quais secretarias realmente precisam de presença física no novo Paço. “Não faz sentido trazer estruturas operacionais, como pátios de caminhões, para uma área nobre. Queremos uma Prefeitura mais inteligente e eficiente”, aponta Silvio.
O terceiro estudo trata da digitalização dos serviços. “Se o cidadão puder resolver tudo online, não precisa vir até aqui. Isso impacta diretamente na área construída. Precisaremos de menos espaço físico se muitos serviços forem digitais”, explica o prefeito.
Por fim, o quarto estudo avalia a adoção do trabalho remoto entre os servidores municipais. “Queremos saber quantas pessoas realmente precisam estar presencialmente todos os dias. A ideia é implantar o modelo de estações de trabalho rotativas: um servidor usa a mesa num dia, outro no seguinte”, complementa.
A lógica do novo Paço Municipal, segundo ele, é aumentar a entrega de serviços à população, mas com uma estrutura física mais enxuta. “Não é quantidade de metros quadrados, mas sim eficiência e disponibilidade. Com serviços digitais, conseguimos atender 24 horas por dia, sete dias por semana.”
Barros também revelou que o projeto do novo prédio da Prefeitura, se for lançado nesta gestão, será construído com foco total em sustentabilidade. “Será um prédio carbono negativo. Vai sequestrar mais carbono do que emitir. Será feito em madeira e terá geração própria de energia, eficiência energética e hídrica. Todos os selos de sustentabilidade estarão ali.”
Sobre a construção de uma nova sede para a Câmara de Vereadores no Centro Cívico, a atual presidente da casa, Majorie Catherine (Majô), destaca a importância da mudança para a modernização dos serviços públicos. “A aprovação do novo Centro Cívico pelo Legislativo de Maringá representa um compromisso com o planejamento urbano e com um futuro mais eficiente. É um projeto muito além de um bairro, é um projeto que mostra a organização e também a preocupação dos gestores públicos com o desenvolvimento da cidade. Nós estamos visando eficiência para deixar o novo Centro Cívico mais apropriado para que todos os maringaenses tenham acesso aos equipamentos públicos em um só local.”
Transformação da Zona 8
Com a instalação de instituições-chave na região, a expectativa é que a Zona 8 se torne o pivô do desenvolvimento de um novo polo urbano em Maringá, fomentando tanto o segmento imobiliário quanto o desenvolvimento econômico da cidade com a abertura de empresas no local.
Essa transformação já é perceptível. Para Marco Tadeu Barbosa, presidente da diretoria regional Noroeste do Secovi e integrante da Câmara Técnica de Urbanismo do Codem, o impacto é evidente: “A ida do Centro Cívico para a Zona 8 atraiu um setor de serviços que não existia consolidado ali. Escritórios de advocacia, seguradoras e empresas voltadas à área jurídica estão abrindo e sendo transferidas para o local. Esse movimento já começou e está transformando o perfil do bairro”, afirmou em entrevista ao Maringá Post.
Para o imobiliarista Téo Granado, CEO da Imobiliária Pedro Granado, o Novo Centro Cívico está se tornando uma das grandes atrações da cidade. “Uma das razões é que ele está ao lado do Eurogarden. E essa ligação entre viver, trabalhar e usufruir dos serviços públicos é algo especial — não se encontra em qualquer lugar. Poder resolver questões do dia a dia com facilidade — ir à Prefeitura, ao fórum, tirar um passaporte — tudo isso a poucos metros de casa ou do trabalho, seja a pé ou de bicicleta, será um diferencial enorme.”
José Carlos Barbieri, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim), também destacou os benefícios sociais e econômicos do projeto. Para ele, “Maringá vive um momento histórico com a implantação do novo Centro Cívico. Mais do que uma mudança geográfica, estamos testemunhando a criação de um novo centro econômico que fortalece o comércio, estimula investimentos e abre espaço para novas oportunidades. A junção de serviços públicos, estrutura moderna e habitação qualificada atrai empresas, gera empregos e valoriza toda a região”.
Representando o Hospital da Criança, já instalado na região, o superintendente da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil, mantenedora do hospital, Carlos Emanuel Rocha de Melo, destacou que “estar no Centro Cívico de Maringá representa a integração de um ecossistema onde há eficiência no uso do bem mais precioso do ser humano, que é o tempo. O tempo bem utilizado se reverte naquilo que você mais precisa, que é qualidade de vida”.
Desenho urbano
O projeto do Novo Centro Cívico deve seguir uma lógica urbanística moderna, inspirada em modelos internacionais e adaptada às características de Maringá. A proposta, de acordo com Silvio Barros, substitui o parcelamento tradicional por superquadras, com espaços generosos, integração entre os prédios públicos e estímulo à convivência. Além disso, há a previsão de um Parque Linear público, com mais de 2km, com equipamentos para uso da população.
Barros reforça que o modelo foi inspirado em experiências bem-sucedidas, como em Campo Grande, onde todos os órgãos governamentais se concentram em uma única região. “Além de facilitar a vida do cidadão, isso gera sinergia entre as instituições. Se o fórum vem para cá, os cartórios, escritórios e outros serviços tendem a se instalar nas proximidades, gerando um novo eixo de desenvolvimento.”
Infraestrutura e mobilidade
A implantação do Novo Centro Cívico também está articulada com investimentos em infraestrutura viária. A duplicação do Contorno Sul, já anunciada pelo Governo do Estado, vai ampliar o acesso à região, que deverá contar ainda com terminal ferroviário de passageiros no futuro.
Para Marco Tadeu Barbosa, o bairro tem estrutura para esse crescimento. “A Zona 8 é bem conectada com o restante da cidade, principalmente pelas avenidas Gastão Vidigal e Brasil. O bairro comporta esse crescimento, está preparado para isso”, aponta.
Apesar da ampliação viária, a ideia é incentivar o uso do transporte público e de meios alternativos. “Nosso objetivo é reduzir a circulação de veículos. Os novos prédios terão número limitado de garagens. A proposta é apostar em transporte coletivo e veículos compartilhados”, afirma o prefeito.
Ele cita como referência bairros planejados na Europa com sistemas internos de locomoção, como veículos elétricos autônomos e modais leves de aluguel, como bicicletas e patinetes. “A ideia é que o cidadão possa desembarcar no terminal e se deslocar internamente com conforto, sem depender de carro.”
Um museu para pensar a cidade
Outro projeto que pode se tornar realidade no novo Centro Cívico é a criação de um museu da cidade no antigo terminal de passageiros do aeroporto. A proposta, sonhada por Silvio Barros, é oferecer um espaço de educação cidadã. “Não será um museu histórico tradicional, mas um lugar para mostrar como a cidade funciona: da captação de água ao destino do lixo, da mobilidade ao orçamento público.”
Segundo ele, o objetivo é provocar reflexão. “Queremos que a pessoa entre no museu e saia diferente. Que ela entenda o impacto que suas atitudes têm no funcionamento da cidade. Que ela valorize o que é invisível.”
A definição do uso do prédio, no entanto, ainda passará por processos de escuta da população, dentro do conceito de urbanismo colaborativo. “Vamos apresentar propostas e deixar que a população escolha o que deseja. A cidade precisa ser construída com participação”, conclui.
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