Prefeitura de Maringá paga R$ 4,7 milhões em metodologia que promete ensinar crianças a ler em quatro meses

Sem licitação, município firmou um contrato com uma empresa de Brasília para a compra de livros e treinamento de professores para a aplicação do ‘Método IntraAct’, que promete formar leitores fluentes a partir de técnicas de neurociência. Secretário de Educação diz que, no município, apenas 25% das crianças do 1º e 2º ano do fundamental são consideradas leitoras fluentes.

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    A Prefeitura de Maringá vai desembolar R$ 4,7 milhões na compra de uma metodologia que promete ensinar crianças a ler em até quatro meses. Trata-se do ‘Método IntraAct’, técnica alemã que diz ensinar os alunos a partir da neurociência e do processo de repetição de palavras.

    Sem licitação, o município firmou contrato com uma empresa de Brasília, que é a responsável pela distribuição dos materiais didáticos e do treinamento dos docentes para aplicação do método no Brasil. O termo foi assinado no dia 17 de abril, segundo o Portal da Transparência.

    Pelo contrato, a empresa fornecerá livros para 7.555 alunos da rede municipal dos 1º e 2º anos do fundamental, divididos em 309 turmas. O valor engloba ainda o treinamento online de 360 professores. Os treinamentos deverão ter início em um prazo de 20 dias.

    Em sua página na internet, o IntraAct Brasil afirma que, com o método, “80% dos alunos aprendem a ler em 4 a 5 meses com até 1 hora de ensino diário”. Em 1 ano, “80% das crianças estão alfabetizadas”.

    Na justificativa da contratação, a Prefeitura de Maringá argumenta que a “Avaliação de Fluência
    Leitora (Final) aplicada pelo CAED”, em 2024, nas crianças da rede municipal, atestou que apenas 25% dos alunos do 1º e 2º ano do fundamental na cidade são leitoras fluentes, índice abaixo do pactuado pelo Compromisso Nacional da Criança Alfabetizada, que é de 100%. O indicador foi confirmado pelo próprio secretário de Educação de Maringá, Fernando Brambilla.

    “Nós tivemos, a prova feita pela Secretaria Estadual de Educação, que avalia a fluência leitora das crianças. Nós temos um pacto com o Governo Federal, que é o Compromisso Nacional da Criança Alfabetizada, onde se deveria, no final do segundo ano, todas as crianças saber ler, escrever e ter uma compreensão textual. Porém, em Maringá, apenas 25% das crianças tem a fluência leitora. Então, nós tivemos essa informação, esse resultado que nos preocupou. E a nossa contratação do IntraAct é para que a gente possa fazer uma recomposição, uma recuperação dessa aprendizagem, dessa alfabetização”, disse.

    Metodologia controversa

    Ainda na justificativa da contratação, a Prefeitura de Maringá ‘cases’ de sucesso do método em algumas cidades que já utilizaram o IntraAct anteriormente, como Joaçaba/SC e Alta Floresta/MT. No caso do município matogrossense, a própria cidade afirma ter alcançado um índice de 83% de alfabetização de crianças nesta faixa etária. O percentual, no entanto, não é chancelado por nenhum indicador do Ministério da Educação (MEC).

    O próprio secretário de Educação de Maringá admite que a metodologia contratada não está cadastrada para avaliação e análise do MEC, o que não invalidaria a contratação. Segundo ele, técnicos da cidade visitaram pessoalmente municípios que adotaram a metodologia.

    “Nossa equipe entrou em contato, fizemos algumas visitas em alguns municípios que utilizaram a metodologia Interact, para a gente ver realmente quais foram os resultados reais que eles escolheram. E os resultados foram muito bons. Nós tivemos municípios que com quatro meses já tiveram bons índices, e municípios com mais seis ou oito meses também tiveram alto rendimento. […] Relacionado ao MEC, esse material não foi cadastrado para uma avaliação ou análise do Ministério da Educação. Porém, isso não quer dizer que o material não tenha uma eficácia. É a mesma situação que escolas particulares Brasil a fora, elas não adotam ou só compram materiais pedagógicos e didáticos que estão aprovados e cadastrados no MEC. Eles fazem as análises deles e vê aquilo que lhe encaixa para poder proporcionar um ensino de qualidade”, explicou.

    De acordo com o secretário, a meta é ter todas as crianças nesta faixa etária como leitoras fluentes até o fim do ano. O Maringá Post entrou em contato com o Ministério da Educação para comentar o assunto e aguarda um retorno.

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