Morre Daniele Oliveira Sussay, estudante pioneira na luta pelo direito ao nome social na UEM

Ela foi uma voz ativa na defesa dos direitos das pessoas trans, sendo protagonista na conquista do direito ao nome social na instituição.

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    A estudante de Geografia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Daniele Oliveira Sussay, morreu na noite de terça-feira (4), aos 32 anos. Mais do que uma universitária, ela foi uma voz ativa na defesa dos direitos das pessoas trans, sendo protagonista na conquista do direito ao nome social na instituição.

    Segundo a professora voluntária do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE), Eliane Rose Maio, Daniele estava internada em um hospital de Sarandi devido a complicações intestinais, que se agravaram e resultaram em problemas cardiorrespiratórios.

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    Daniele Sussay e a professora Eliane Maio / Foto: UEM

    A conquista do direito ao nome social veio durante sua primeira licenciatura em Pedagogia, concluída em 2016, quando ela e Naomi Neri se tornaram as duas primeiras mulheres transexuais a se graduarem pela UEM. A professora recorda o primeiro encontro com Daniele. “Eu a conheci quando ela participou, pela primeira vez, de uma reunião do Nudisex (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Diversidade Sexual). Ao final do encontro, Daniele esperou todos saírem para conversar comigo e pedir permissão para ingressar no grupo. Ela foi acolhida e, junto com um coletivo de docentes e discentes, iniciamos a luta pela regulamentação do nome social na UEM. Em 2010, Daniele foi a primeira a protocolar o pedido, e a questão foi oficialmente regulamentada pela Resolução 030/2013 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP)”, relembra Maio.  

    A professora frisa que embora ela não tenha atuado como docente na UEM, Daniele deixou um legado significativo como aluna de Pedagogia. “Atualmente, ela estava no último ano do curso de Geografia e sonhava ingressar no mestrado no próximo ano. Sua partida precoce deixa uma grande lacuna e entristece todos que tiveram a oportunidade de conhecê-la. Força à família e aos amigos.”

    Maio também recorda que a trajetória de Daniele foi tema de um vídeo que conquistou o primeiro lugar no Prêmio Educando para o Respeito à Diversidade Sexual, em 2013. O concurso nacional, idealizado pela The Global Alliance for LGBT Education (GALE), tem como objetivo reconhecer, valorizar e incentivar iniciativas que promovam o respeito à diversidade sexual no ambiente educacional no Brasil.

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    Foto: UEM

    “Fomos receber o prêmio em Curitiba, e lembro da imensa emoção que Daniele sentiu. Não foi apenas pela premiação, mas também porque, naquele momento, ela vivenciava uma experiência inédita: era a primeira vez que se hospedava em um hotel”, conta Maio.

    Atualmente, Daniele atuava como diretora da Escola Municipal Professor Paulo Freire, em Sarandi, cidade onde residia com seu esposo, José Cláudio Sussay, técnico administrativo da UEM. Sua morte gerou grande comoção na comunidade local.

    “Ela e o esposo estavam na fila de adoção e prestes a receber duas crianças, um casal de irmãos. Mais um sonho interrompido: o de ser mãe”, lamenta Maio.

    O velório ocorreu nesta quarta-feira (5) na casa de sua mãe, em Santa Inês, onde Daniele foi sepultada no cemitério local.

    Homenagem da UEM

    Segundo a professora da PPE, a UEM prestará uma homenagem a Daniele Sussay durante o IX Simpósio Internacional de Educação Sexual (Sies), que será realizado nos dias 9, 10 e 11 de abril de 2025.

    O evento é voltado a pessoas pesquisadoras da área da Educação, docentes de todos os níveis de ensino e discentes de graduação e pós-graduação que se dedicam aos Estudos de Gênero, Corpo e Sexualidade em seus diversos espectros e perspectivas teórico-ativistas.

    O IX SIES contará com uma programação diversificada com mesas redondas, pessoas convidadas do Brasil e exterior, apresentações de trabalhos científicos, debates e atividades culturais.

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