No primeiro trimestre de 2024, 3.009 exames para dengue foram realizados no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análises Clínicas (Lepac), localizado no câmpus sede da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Destes, 1.331, ou 44%, tiveram resultado positivo. Além de evidenciarem o agravamento da epidemia, os números comprovam o papel crucial da UEM no combate à dengue em Maringá e região.
Os dados representam o maior número de exames de dengue em um único trimestre no Lepac ao menos, desde 2021, quando teve início um levantamento realizado pelos pesquisadores do laboratório. Em relação ao mesmo período do ano passado, o número mais que quintuplicou – foram 569 testes realizados entre janeiro e março de 2023, segundo a supervisora do Lepac, Fabiana Nabarro Ferraz.
De acordo com o mais recente Informe Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), divulgado na última terça-feira (2), a epidemia segue crescendo no estado. Na última semana, o Paraná registrou 23.396 novos casos de dengue, maior índice semanal de todo o período epidemiológico, iniciado em julho de 2023. Na 15ª Regional de Saúde, sediada em Maringá, o número de casos confirmados ultrapassa 12,7 mil, com três óbitos, desde o início da epidemia.
Com equipamentos de ponta para a realização de exames de dengue e outras doenças, o Lepac é um laboratório de referência para a macrorregião Noroeste do Paraná, que abrange 115 municípios. No caso da dengue, são analisadas amostras coletadas por unidades de saúde dos 30 municípios que compõem a 15ª Regional de Saúde. Os exames são gratuitos e os resultados, que ajudam no monitoramento da doença na região, ficam prontos entre sete e 15 dias após a testagem.
A professora do Departamento de Análises Clínicas e Biomedicina (DAB) e coordenadora do laboratório, Regiane Bertin de Lima Scodro, afirma que o Lepac atua junto às redes estadual e nacional de saúde, em especial ao Laboratório Central do Estado (Lacen), para suprir a demanda durante a epidemia.
“Mesmo com o aumento significativo da procura por exames para o diagnóstico da dengue, o Lepac tem mantido comunicação direta com o Lacen Paraná, de forma a garantir a continuidade dos exames para este diagnóstico”, destacou. “O Lacen e o Ministério da Saúde buscam essa descentralização, para que todas as regiões tenham um acesso mais rápido ao diagnóstico, e o Lepac vem contribuindo com a macrorregião Noroeste do Paraná”, completou.
Um dos diferenciais do Lepac é a realização de testes por meio de diferentes técnicas, a depender do tempo de infecção e dos sintomas do paciente. Em 2024, mais de 2,5 mil diagnósticos foram obtidos por testes de sorologia, também chamados de Elisa (sigla em inglês para “ensaio de imunoabsorção enzimática”).
O método é capaz de identificar anticorpos e proteínas virais presentes no organismo.Já o exame denominado “pesquisa de arbovírus” usa equipamentos de ponta para detectar e diferenciar o material genético dos vírus causadores de dengue, zika e chikungunya, todas transmitidas pelo mesmo mosquito. O termociclador em tempo real QuantStudio 5 e o extrator TANBead, ambos cedidos pelo Ministério da Saúde, são os aparelhos usados no procedimento, realizado quase 500 vezes pelo Lepac neste ano.
Crescimento esperado
A alta nos casos de dengue em todo o Brasil – e em diversas partes do mundo – tem um motivo principal: o aquecimento global. Conforme o professor do DAB e coordenador do setor de Virologia Clínica do Lepac, Dennis Armando Bertolini, as mudanças climáticas globais ajudam a explicar o crescimento da população do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e de outras arboviroses.
“O aumento na temperatura, associado com as chuvas e a umidade, favorece a proliferação do mosquito da dengue. Considerando já a realidade de aumento de criadouros do inseto, que vem se repetindo ano após ano, isso tem favorecido, e muito, o crescimento da epidemia”, explicou.
Nesse contexto, a prevenção passa por ações de combate aos vetores da dengue. A eliminação de focos de água parada, onde podem se desenvolver as larvas do mosquito, é um dever de todos. “Entre 90% e 93% dos criadouros do inseto são culpa do homem. São objetos como vasos, bandejas, garrafas plásticas, embalagens, pneus, dejetos de material de construção civil, que fazem a reserva de água. Então, o que a população pode fazer é diminuir esses criadouros. Nesse momento em que nós estamos, também seria importante a utilização de repelentes, especialmente no período diurno”, reforçou.
A vacinação de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos de idade, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), também é uma medida essencial para a desaceleração do crescimento da doença no país.
Bertolini alerta que, em caso de suspeita de dengue, é importante procurar atendimento médico o quanto antes. Os principais sintomas são febre, mal-estar, dores no corpo, na cabeça e atrás dos olhos e, em alguns casos, manchas vermelhas na pele. O tratamento, realizado com acompanhamento médico, tem foco no controle dos sintomas, para evitar que a doença evolua a um quadro grave, que pode levar à morte.
Estudo e pesquisa reforçam combate à dengue
Além dos serviços prestados à população, Lepac e DAB contribuem com o combate à dengue por meio da realização de pesquisas e da capacitação de futuros profissionais.
O Lepac serve como ambiente de estudo e aprendizado para graduandos em Biomedicina e Farmácia, que desenvolvem atividades práticas e estágios profissionais no local. Além disso, junto a outros laboratórios do departamento, o Lepac dá suporte a projetos de pesquisa para o desenvolvimento de novas ações e tecnologias que auxiliem no controle da dengue.
Também coordenado pelo professor Dennis Armando Bertolini, o laboratório de Virologia Clínica, vinculado ao DAB, desenvolve pesquisas que dão suporte à tomada de decisão do poder público. “Estamos trabalhando, atualmente, para tentar padronizar uma metodologia que detecte o vírus já no inseto. A ideia é disponibilizar essa ferramenta aos municípios, para que, quando detectarmos a presença de insetos em determinadas regiões, capturando esse inseto, conseguiríamos verificar se ele está ou não infectado com o vírus”, ressaltou.
Em parceria com os departamentos de Geografia (DGE) e Estatística (DES), pesquisadores do DAB também realizam o mapeamento dos casos de dengue em Maringá. “Nós temos projetos que fazem levantamentos, em tempo real, de onde os casos de dengue estão acontecendo, para que o município possa atuar de forma mais imediata no controle do vetor. Também estamos trabalhando na elaboração de um controle mais informativo para os gestores de toda a 15ª Regional de Saúde”, completou.
Novas pesquisas, segundo Bertolini, estão em fase de captação de recursos. Os projetos envolvem a detecção de biomarcadores para os casos graves da doença e o monitoramento da diversidade genética do vírus.
Outras ações, como os atendimentos do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), a campanha “UEM contra a Dengue”, realizada pelo Gabinete da Reitoria (GRE), e o Projeto de Revitalização do Câmpus Sede, reforçam o compromisso da Universidade com o controle da epidemia.
Serviço
Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análises Clínicas (Lepac)
Localização: Bloco K-10, no câmpus sede da UEM.
Atendimento: de segunda a sexta-feira, entre 7h20 e 11h30 e 13h e 17h.
Telefone para contato: (44) 3011-4317.
Fotos: UEM
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