Dezenove bares de Maringá estão participando da etapa regional do Comida di Buteco 2023. Além do reconhecimento nacional, o concurso é uma oportunidade de olhar os estabelecimentos por uma ótica histórica e cultural.
Na boca do povo, os botecos ‘raiz’ são considerados patrimônios culturais do brasileiro. Não há cidade neste país que não tenha ao menos um bar famoso pela boa comida, a cerveja e as eternas amizades que ali são feitas. Eles são ponto de encontro, símbolo de união e palco de grandes histórias. E em Maringá, não seria diferente.
Dezenove bares da Cidade Canção estão participando da etapa regional do “Comida di Buteco 2023”, um dos concursos gastronômicos mais famosos do Brasil e que vai eleger o Melhor Boteco do país. Em Maringá, o concurso vai até dia 30 de abril.
Conhecer a história por trás do surgimento de cada portinha talvez possa aguçar, ainda mais, a vontade de saborear os deliciosos petiscos servidos pelos estabelecimentos participantes – afinal, esses bares também ajudam a contar a história da cidade. Hoje, você vai conhecer as histórias de cinco bares participantes, que estão entre os mais antigos da cidade.
Pescador Bar: um surgimento fora do roteiro
Imagine você ser de uma área de atuação completamente diferente e, de repente, resolver ‘brincar’ de tocar um bar com seus amigos. E, nessa brincadeira, perceber que a paixão pelo balcão tomou conta de si. Esse roteiro de filme é real e conta o surgimento do Pescador Bar e se funde a história do seu Osmar, proprietário do local há 37 anos.
Ele conta que se envolveu com a profissão pela primeira vez tentando encorajar os amigos que queriam, de fato, montar um bar, mas enfrentavam dificuldades no começo do negócio.
“Aluguei um salão comercial para alguns amigos que queriam montar um bar, percebendo a dificuldade deles em gerenciar o comércio resolvi dar uma ajuda e mostrar que o bar tinha potencial. A brincadeira ficou séria quando percebi que estava gostando da experiência, decidi então abrir mão das outras atividades para me dedicar ao bar”, contou ele.
O nome “Pescador” vem de outra paixão do proprietário: a pescaria. “Sempre gostei de pescar, de estar entre amigos, de cozinhar e foi em uma pescaria que decidi juntar tudo e dar vida ao Pescador Bar. Aqui no bar tive a alegria de marcar muitas pescarias, apresentando esse hobby para alguns clientes, que acabaram se tornando amigos de pescaria”, relata.
O carro-chefe do local também vem da pescaria: um ceviche de tilápia marinada no limão e com cebola roxa, cebolinha e pimenta dedo-de-moça. O Pescador Bar fica na Avenida Guaiapó, nº 365, no Jardim Liberdade, e o petisco concorrendo no Comida di Buteco é o Ceviche do Pescador.
Bar do Ponce: Uma tradição de família
Em maio de 1991, o eterno senhor Lourival Ponce e sua esposa, Rozana Ponce, fundaram na Avenida Tuiuti, nº 1.518, o que viria a ser um dos mais conhecidos bares de Maringá. O Bar do Ponce juntou a expertise de quem tinha conhecido no mercado de açougues com a necessidade de surgir, naquela região da cidade, um ponto de encontro para amigos e descontração.
Antes de comprarem o bar, o casal foi proprietário de um açougue, daí a ideia de tornar o local um ponto de venda de embutidos, que segue até hoje como um dos mais conhecidos da Cidade Canção, não só pela qualidade dos produtos, mas também pelos preços acessíveis.
Em janeiro de 2018, o bar mudou de endereço, na mesma região. Hoje fica na rua La Paz, nº 1055. E, como era de esperar, o prato mais tradicional da casa é a porção de linguiças artesanais, acompanhadas de molho chimichurri caseiro. Para o Comida di Buteco, foram incluídos ingredientes especiais na iguaria, como a erva doce.
Segundo a família, o propósito do estabelecimento segue o mesmo até os dias atuais: atender bem e oferecer momentos de descontração para todos os clientes.
Primos Lanchonete: referência maringaense em espetinhos
O ano era 2000. José tinha acabado de perder o emprego e ainda não sabia bem o que viria depois. Certo dia, estava almoçando com o primo, Sidney, que na época era frentista de posto de gasolina, em um restaurante nas proximidades da Marechal Floriano Peixoto.
Ao descobrir que o local estava à venda, veio a ideia: “precisamos comprar”. Mais uma história de bar maringaense que surgiu do acaso e, lendo agora, até parece, justamente, aquelas histórias de mesa de buteco, mas não.
No começo, a Primos Lanchonete servia cerveja e uma pequena quantidade de espetinhos para clientes que, em sua maioria, eram moradores do próprio bairro. Com o tempo e graças a criatividade dos proprietários, a clientela foi aumentando e, atualmente, é um dos bares mais famosos de Maringá.
“A gente começou servindo cerveja e espetinho. Os espetinhos a gente fazia numa churrasqueira pequena, por conta da demanda. Com o tempo, fomos inventando espetinhos diferentes, que foram chamando a atenção. A clientela foi crescendo e, graças a Deus, hoje temos um bar que bastante gente conhece”, orgulha-se.
A Primos Lanchonete segue no mesmo endereço em que foi fundada, na rua Marechal Floriano Peixoto, nº 1256, na Zona 7. Para o Comida di Buteco, apostaram na tradição: mix de espetinhos acompanhados de mandioca cozida.
Wandão Petiscaria: onde o carro-chefe é o amor ao que faz
É quase como se fundar um bar não estivesse nos planos dos participantes. Ou talvez o “acaso” seja um ingrediente indispensável ao sucesso? A reflexão pode ser feita ao ouvir a história do Wandão Petiscaria, referência em porções de boteco da região central de Maringá.
Quando Wanderley, o Wandão, começou, ele não tinha experiência prévia no setor. Trabalhou como mecânico, tentou ser vendedor e, por fim, o destino fez com que ele comprasse uma lanchonete dentro de um posto de gasolina, encorajado pelo antigo chefe e por um grupo de amigos.
“Eu tentei trabalhar com vendas, mas peguei uma época ruim, onde a inflação do período limitava bastante o mercado. Um dia, fui tomar um café com meu antigo chefe da oficina e ele me deu a ideia de comprar a lanchonete do posto. Falei ‘como vou fazer isso? nunca trabalhei com isso’. Mas ele me encorajou, disse que eu aprenderia, assim como aprendi a ser mecânico. Então eu fiz, vendi meu carro e comprei. Trabalhei com muito amor para fazer dar certo”, conta.
No começo, a estrutura era limitada e não havia funcionários. Apenas o Wandão e a vontade dele em servir às pessoas. Foi o pontapé inicial. “Fui aprendendo a fazer espetinho, porção. Os primeiros espetinhos eu fiz no fogão mesmo, porque não tinha churrasqueira. Só quem provou os primeiros espetinhos, lá no começo do bar, sabe o quanto eu melhorei (risos). Mas a gente nunca desistiu, graças a Deus”, relata.
Com o tempo, a Wandão Petiscaria mudou de endereço. Hoje está na Avenida Independência, nº 303, na Zona 04. Com mais de 50 opções de porções, o local tem como prato mais atrativo o famoso “torresmo do Wandão”, servido com pimenta dedo de moça – petisco inscrito no Comida di Buteco.
Mesmo com o crescimento dos últimos anos, o lema do bar segue o mesmo: atender bem e propiciar momentos inesquecíveis.
Bar do Rafa: o ponto do Mocotó de Maringá
Já são quase quatro décadas de atividade. Como um bar consegue sobreviver por tanto tempo? A resposta pode estar na magia do local, a atmosfera criada com os amigos, as histórias contadas e, principalmente, a boa gastronomia. Esses são alguns dos ingredientes que fazem parte da formação do famoso “Bar do Rafa”, em atividade em Maringá desde 1987.
Quando o fundador do histórico estabelecimento veio para a cidade, em 1984, ele inicialmente arrendou um bar na antiga rodoviária de Maringá, conhecido como “Monte Líbano”. Dali, passou para um novo endereço, na Avenida Pedro Taques.
O Bar do Rafa, já com o nome novo, foi nascer ali e ainda passaria por uma nova mudança de endereço, nos anos 2000, quando se instalou no Jardim Alvorada. Em 2022, o boteco mudou- se para a Avenida Colombo, onde segue atualmente.
O carro-chefe do local é o caldo de mocotó, receita que o fundador aprendeu em um de seus antigos bares. O sucesso é tanto que o local ficou conhecido em toda a cidade justamente por conta do prato. E, é claro, a estreia do Bar do Rafa no Comida di Buteco não poderia ser com outra receita. Além do Mocotó, o cardápio contempla rabada e dobradinha, com gostinho de comida feita em casa.
Foto: Comida di Buteco
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