Com o tema “Fraternidade e Fome”, o lançamento da Campanha da Fraternidade 2023 ocorre nesta Quarta-feira de Cinzas. Segundo o Arcebispo Emérito de Maringá, “qualquer discurso religioso sem uma prática de vida coerente torna-se vazio”
Por Victor Ramalho
Após duas décadas de projetos nas áreas de segurança alimentar e nutricional, o Brasil saiu, em 2014, do “Mapa da Fome” da Organização das Nações Unidas (ONU). Era a primeira vez que o país não apresentava um quadro de insegurança alimentar desde meados de 1990. No entanto, o Brasil voltou para a lista em outubro de 2022.
De acordo com a ONU, há atualmente cerca de 33 milhões de brasileiros em situação de fome. Os números são confirmados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Ainda de acordo com o Mapa da Fome, quase 60% dos brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar, seja ele leve, moderado ou grave.
Os dados alarmantes mobilizaram a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o planejamento da Campanha da Fraternidade 2023. Com o tema “Fraternidade e Fome”, o lançamento oficial ocorre na manhã desta Quarta-feira de Cinzas, simultaneamente em Brasília e em várias comunidades católicas pelo Brasil.
Em Maringá, o lançamento oficial ocorre em solenidade no Centro Social Arquidiocesano Santa Dulce dos Pobres, no Jardim São Jorge. De acordo com a CNBB, o objetivo da campanha neste ano é “propor aos fiéis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano”.
Na Cidade Canção, o tema da Campanha vem de encontro com um assunto em alta: pessoas em situação de rua. Embora não existam dados oficiais sobre pessoas em situação de insegurança alimentar em Maringá, são cerca de 500 pessoas vivendo nas ruas da cidade, segundo dados do Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
De acordo com o Arcebispo Emérito de Maringá, Dom Severino Clasen, é “urgente” cuidar de quem tem fome. Ele lembra que o caminho para mudar esse cenário é colocar em prática os ensinamentos de Cristo.
“Com este alerta do evangelho, o chamado da Campanha da Fraternidade nos sensibiliza sobre a urgência para cuidar de quem tem fome, frio e é excluído, além de refletir sobre os paradoxos de viver em um país chamado de ‘celeiro do mundo’, enquanto nele também crescem os números de desperdício e se multiplicam os números de quem tem fome”, disse.
Ainda segundo Dom Severino, muito além de conscientizar as pessoas, é preciso que os discursos religiosos virem ações concretas. Esse é um dos objetivos da Campanha da Fraternidade 2023.
“Mudar este contexto está também no exercício da fraternidade e do amor que Cristo nos ensinou. Não existe fé sem obras e qualquer discurso religioso sem uma prática de vida coerente torna-se vazio. Por isso, o lema da Campanha da Fraternidade deste ano segue uma ordem de Jesus”, afirmou o Arcebispo.
Em 2023, a Campanha da Fraternidade chega a sua 60ª edição. Neste ano, a organização também carrega o lema bíblico, extraído de Mateus 14, 16: “Dai-lhe vós mesmo de comer!”.
Legenda: Dom Severino Clasen durante encontro com Papa Francisco. Líder da Igreja Católica é um dos principais incentivadores do tema da Campanha da Fraternidade 2023 | Foto: Arquivo/CNBB
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