O projeto “Escala Cultural” traz para Maringá na quarta-feira (20/07) o renomado grupo Lume Teatro com seu mais recente espetáculo, “Kintsugi, 100 memórias”, que tem dramaturgia de Pedro Kosovski e direção do argentino Emilio Garcia Whebi. A apresentação é às 20h no Teatro Barracão, com entrada gratuita.
Kintsugi é uma técnica japonesa de restauração de cerâmica que utiliza uma mistura de laca e pó de ouro. Na cultura japonesa, as peças que recebem esta reparação comumente são mais valorizadas do que as que estão intactas. Ao invés de se envergonhar pelas “feridas” expostas, eles as embelezam para que sejam uma celebração constante da vida cotidiana – dos pequenos e grandes erros a possibilidade que se tem de aprender com isso.
O espetáculo “Kintsugi, 100 memórias” tem início com um vaso de cerâmica quebrado. Durante os 120 minutos de duração da montagem, os atores Ana Cristina Colla, Jesser de Souza, Raquel Scotti Hirson e Renato Ferracini vão tentando colar os pedaços, em uma conexão metafórica com as memórias e marcas assumidas pelo coletivo criado em 1985 em Campinas/SP.
A pesquisa que levou o Lume a este espetáculo vem sendo desenvolvida há alguns anos, quando a atriz Ana Cristina Colla se deparou com uma reportagem sobre a cidade de Angostura, na Colômbia, onde mais de 12% dos cerca de 12 mil habitantes têm uma mutação genética que leva a um tipo raro e precoce do Alzheimer. Para ela, a memória é um tema sempre presente nas montagens que reúnem os quatro atores, como “Café com Queijo” (que esteve no Escala em 2018) e “O que Seria de nós sem as Coisas que não existem”. “A doença foi um disparador para colocarmos a memória como algo valioso e por isso a sua perda é irreparável. Usamos isso como uma costura dramatúrgica e ampliamos as memórias pessoais, mas sempre tensionando a fronteira entre o que é real e ficcional”, diz.
Já o ator Jesser de Souza conta que a montagem dá continuidade à linha de pesquisa do Lume, mas foge um pouco da estética dos espetáculos anteriores. “Como nossos projetos são gestados por muito tempo, acabamos por não realizar trabalhos datados que dialogam imediatamente com a contemporaneidade, mas acredito que a peça leve ao público uma reflexão mais atual sobre o descaso com a memória e seus apagamentos deliberados na história e na política”, enfatiza.
A partir da ideia de memória surgiu o conceito de cicatriz. No processo, o grupo trabalhou com as cicatrizes pessoais de cada ator e também com as cicatrizes do grupo. Então, entre a memória pessoal, a memória do grupo e a memória política ou histórica, consolidou-se o núcleo temático da peça. Assinada por Pedro Kosovski (vencedor do Prêmio Shell de melhor autor pelo espetáculo Caranguejo Overdrive), a dramaturgia reúne depoimentos e relatos dos atores, disparados por objetos pessoais e objetos próprios do Lume, com uma fabulação ficcional.
O LUME é um núcleo interdisciplinar de pesquisas teatrais da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e, ao mesmo tempo, é um coletivo de sete atores e atrizes que se tornou referência internacional para artistas e pesquisadores. Ao longo de mais de 34 anos, tornou se conhecido em mais de 26 países, tendo atravessado quatro continentes, desenvolvendo parcerias especiais com mestres da cena artística nacional e mundial. Criou mais de 20 espetáculos e mantém 14 em repertório, com os quais atinge públicos diversos. Com sede no Distrito de Barão Geraldo, Campinas (SP), o grupo difunde sua arte e metodologia por meio de oficinas, demonstrações técnicas, intercâmbios de trabalho, projetos itinerantes, trocas culturais, assessorias, simpósios acadêmicos, reflexões teóricas e publicações de livros, que celebram o teatro como a arte do encontro.
O Escala
Realizado pela 2 Coelhos Comunicação e Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e o patrocínio de diversas empresas, o Escala busca selecionar espetáculos teatrais de grupos que estejam participando de festivais e mostras ou realizando apresentações isoladas por meio de editais, fazendo com que eles deem uma “paradinha” por aqui, inserindo o município em seus roteiros.
Nesta edição, a curadoria é assinada pelo jornalista e crítico teatral Valmir Santos, de São Paulo e pela produtora cultural Rachel Coelho. Santos é doutorando em teoria e prática do teatro pela Universidade de São Paulo, editor e fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que existe desde 2010.
O Escala teve início em 2018, contou com uma edição online em 2021 e desde abril deste ano retomou o formato presencial. A iniciativa sempre priorizou grupos teatrais de referência, como o renomado Grupo Galpão, o Lume Teatro, a Cia do Tijolo, o Grupo Magiluth, entre outros.
Serviço
Espetáculo teatral “Kintsugi, 100 memórias”
Lume Teatro (Campinas / SP)
Dia 20 de julho de 2022 (quarta-feira) às 20h
Teatro Barracão – Entrada gratuita
Classificação: 16 anos
Duração: 120 minutos
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