“Arcana”, obra cênica de Kênia Bergo e Joyce Midori, estreia no próximo domingo, 28, no Teatro Barracão e realiza seis apresentações gratuitas até o dia 8 de dezembro, sempre às 20 horas, com patrocínio do Prêmio Aniceto Matti.
A montagem aborda questões do feminino a partir das personagens Medeia e Ofélia, escritas por Eurípedes e Shakespeare, respectivamente. Medéia, a primeira personagem feminina com psicológico amplamente desenvolvido, representada como uma feiticeira poderosa, temida, vingativa e infanticida. Ofélia, personagem secundária na história do herói Hamlet, retratada como frágil, louca e, por fim, assassinada em um rio de forma a parecer um suicídio. Inspirada nestes clássicos, foi construído um texto autoral visando a refletir sobre a representação da figura da mulher na dramaturgia.
Com forte influência de pesquisas corporais voltadas para o teatro físico, fio condutor dos ensaios, que tiveram início em janeiro deste ano, as atrizes também se utilizaram de experimentações por meio da dança-teatro e de dispositivos para a criação de cenas, tais como partituras corporais e textos pessoais.
Arcana significa mistério, algo que não se pode desvendar. As cartas do tarô são chamadas de arcanos (maiores e menores) e essa é apenas uma das influências que o jogo trouxe para a cena. “O tarô guiou a nossa criação. Tiramos cartas para ver como seria a personalidade de cada personagem. O espetáculo também é todo inspirado nas cores do tarô e a gente tem muitas imagens e fotogramas que surgiram a partir dascartas. Quem tem esse conhecimento vai conseguir identificar e quem não tem, tudo bem”, explica a atriz, dramaturga e diretora Kênia Bergo, que também é taróloga.
A dramaturgia parte, principalmente, do seguinte questionamento: até quando veremos as trágicas histórias de mulheres que vieram antes se repetindo em nós e nas que virão depois de nós? Para tanto, as dramaturgias de Eurípedes e Shakespeare foram revisitadas sob uma perspectiva arquetípica e simbólica, evocando arcanos antigos para criar novas nuances e olhares sobre a obra, buscando questionar a opressão e invalidação das vozes das mulheres. ‘Arcana’ traz um espaço paralelo onde ecoam Medeias eOfélias mas, para além dos ecos dessas personagens, as atrizes dividem com o público fragmentos íntimos de cada uma.
“Neste processo trabalhei meu autoconhecimento e refleti sobre nosso lado sombrio. Além das personagens, a gente ver a nossa sombra, as nossas guerreiras e o nosso lado Medeia e Ofélia, foi um mergulho intenso e um grande desafio também”, comenta Joyce, que considera este seu primeiro trabalho profissional.
A pandemia dificultou os trabalhos e por muito pouco essa estética mística não precisou ser apreciada através das telas. As atrizes cogitaram estrear de forma online, mas nos últimos meses os decretos permitiram sessões presenciais. Ainda assim, o atual contexto impactou no desejo inicial, que era o de ter o público mais perto da cena, a exemplo do espetáculo anterior de Kênia, o solo Psicose, em que o público tem papel importante na encenação.
Além das apresentações, o projeto também vai oferecer a oficina teatral “Corpo anímico”,exclusiva para mulheres. O objetivo é compartilhar com 10 participantes uma pequena parte do processo criativo, por meio de exercícios de corpo e partitura com influência do tarô.
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