Morre Eduardo Celidonio, criador do Cemitério Parque de Maringá

Amante das corridas de carro, Eduardo foi piloto quando morava em São Paulo e era amigo de pilotos com José Carlos Pacce e Emerson Fittipaldi

  • Está sendo velado na Capela Prever do Cemitério Parque o empresário Eduardo Ribeiro Celidonio, idealizador e executor do Cemitério Parque de Maringá, um dos primeiros nesse estilo a ser implantado no Brasil e um dos primeiros cemitérios particulares do Paraná. Ele tinha 78 anos e era proprietário também da E7, ou ECET, iniciais de Eduardo Celidonio Escola de Tênis, que funciona no mesmo terreno de sua casa, na Vila Vardelina.

    Eduardo Celidonio mora em Maringá desde o final da década de 1970 porque recebeu do pai, o corretor da Bolsa de Valores de São Paulo Ruy Celidonio, a incumbência  de dar destinação às fazendas de café da família, que tinham tido todo o plantel destruído pela geada negra de 1975.

    Eduardo Celidonio
    Foto: Facebook

    Uma carreira no automobilismo

    Como a família tinha muitos negócios, todos muito bem-sucedidos em outras regiões brasileiras, Eduardo levava uma vida de luxo,  teve os melhores carros que se podia desejar na época, foi piloto de corrida, amigo de gente como Emerson Fittipaldi e José Carlos Pacce, era amante também do tênis de campo e dava-se ao luxo de ir à Europa ou Estados Unidos ‘simplesmente’ para acompanhar a final de alguma competição importante de tênis.

    Eduardo Celidonio
    Em seus tempos de piloto, o autódromo de Interlagos era como uma segunda casa para Eduardo Celidonio em São Paulo Foto: Album pessoal

    Mas, a vida de luxo foi interrompida quando o pai o mandou para Maringá.

    Outras propriedades de Ruy foram vendidas, mas o cafezal que ele tinha na Estrada Mandacaru, próximo à Vila Progresso, era o xodó da família, que morava em um bairro nobre de São Paulo e nas férias vinha para a fazenda em Maringá. Mas, com as geadas de 1975, tudo virou então um emaranhado de galhos secos. Sem chance de recuperação, os milhares de pés de café foram arrancados e queimados, as centenas de trabalhadores que moravam na propriedade foram embora. A bem cuidada fazenda virou um grande vazio.

    Na época, as terras do Paraná estavam desvalorizadas e várias alternativas foram pensadas para manter pelo menos a propriedade da Mandacaru. E Eduardo, que era futurista e tinhas idéias meio loucas, para a visão da época, foi propor à família construir um cemitério particular. Quase apanhou.

     

    Cemitério sem mármore, granito e estátuas? Isto não existe

    Um cemitério sem aquelas carneiras gigantescas, estátuas de santos e de anjos, granito e mármore para todo lado? Era muita viagem. Acharam que Eduardo estava louco, mas, com jeito e muito tempo, ele começou a fazer a cabeça do pai. Ruy Celidonio era homem que conhecia as coisas, pesquisou, perguntou por aí e ficou sabendo que em Belo Horizonte se construía um cemitério parque. No Morumby, em São Paulo, também.

    A fazenda da Mandacaru foi loteada, terrenos vendidos e assim nasceram vários bairros e parte do terreno, a que tem um bosque com essências nativas da Mata Atlântica ficou para a implantação do cemitério. Mas, não foi fácil.

    A população não queria sepultar seu parentes em um cemitério que na verdade era apenas um gramado com pequenas lápides. O prefeito da época, João Paulino, se negou a autorizar o funcionamento do cemitério. Só após a eleição de Said Ferreira é que Eduardo encontrou apoio para obter as licenças da prefeitura.

    A ajuda de Ayrton Senna

    Hoje o Cemitério Parque de Maringá é um modelo que inspirou várias cidades brasileiras e, com 7 mil jazigos ocupados, é bem aceito pela comunidade. Mas, para chegar a este ponto, a família Celidonio sofreu prejuízos por vários anos. As pessoas achavam o ambiente bonito, ‘mas não tinha cara de cemitério’ e preferiam enterrar seus parentes no tradicional Cemitério Municipal.

    Aberto em 1985, o Cemitério Parque era considerado um investimento que não deu certo por quase 10 anos. O sepultamento do tri-campeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna,  que parou o Brasil e durante um dia inteiro deixou milhões de pessoas acompanhando as imagens da televisão, foi decisivo para que o público entendesse o conceito de cemitério parque.

    As TVs e as fotos das revistas e jornais exploraram a beleza do cemitério parque do Morumby. A ausência de túmulos na superfície, o bem cuidado gramado, flores e árvores levavam a uma boa sensação, diferente da que provocavam os cemitérios tradicionais.

    Eduardo Celidonio diz que a decisão dele e do pai tomada logo após a geada negra de 1975 foi acertada. Apesar das dificuldades iniciais, a iniciativa deu a Maringá um cemitério moderno, bonito, um modelo para o futuro.

    E é nesse lugar que ele gostava tanto, onde todos os dias ia acompanhar os serviços dos funcionários, apesar das limitações físicas desde que sofreu um AVC, este lugar onde já está sepultada sua mãe, que Eduardo Celidonio será sepultado nesta segunda-feira, 22 de novembro. Possivelmente fosse seu desejo ficar nas terras que já eram de seu pai quando ele nasceu.

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