Pesquisadores das universidades estaduais do Paraná realizaram um estudo sobre o novo coronavírus que ajuda a compreender como os sistemas naturais de defesa do organismo humano reagem à Covid-19. A pesquisa destaca a interação do genoma do vírus e dos pacientes acometidos pela doença.
O estudo envolveu a revisão de cerca de 90 trabalhos científicos, publicados até julho de 2021, relacionados às variantes do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em países como Estados Unidos, Inglaterra, Irã, Itália e Suíça, entre outros. Entre os resultados, foi possível classificar os grupos de risco de pessoas infectadas para além da idade e das comorbidades associadas a outras doenças.
A doutora em Genética Ilce Mara de Syllos Cólus, que atua como professora no Departamento de Biologia Geral do Centro de Ciência Biológicas (CCB) da UEL, explica que o DNA humano passou por muitas mutações ao longo da evolução, fixando algumas dessas alterações nos genes, que são os responsáveis pelas características físicas e biológicas das pessoas.
“O mapeamento das variações genéticas relacionadas à infecção pelo novo coronavírus evidencia, em parte, o fato de as pessoas reagirem de forma diferente à doença, ou seja, a genética dos pacientes influencia significativamente na forma como o corpo reage à Covid-19”, pontua a pesquisadora.
Ela esclarece que as principais variantes genéticas presentes nos genomas dos pacientes são, particularmente, focadas nos genes ACE2, responsável pela regulação da pressão arterial do corpo humano; e TMPRSS2, referente à entrada e disseminação viral. Essas variantes impactam na predisposição à infecção do vírus e na gravidade da doença.
Para a doutora em Genética Toxicológica, professora Juliana Mara Serpeloni, que também atua no Departamento de Biologia Geral do CCB da UEL, entender as variações genéticas do vírus e das pessoas é importante para o monitoramento e controle da doença.
“As variantes influenciam diretamente na taxa de infecção, na quantidade de vírus que adentra nas células humanas, na capacidade de o vírus escapar do sistema imunológico e nas manifestações clínicas da doença”, aponta.
GRUPOS DE RISCO – Aspectos como faixa etária e comorbidades são insuficientes para explicar a patologia e as reações da doença no organismo humano. Por isso, as variantes genéticas descritas na pesquisa e os fatores moleculares envolvidos na interação genômica entre vírus e paciente favorecem a definição dos grupos de risco.
O estudo sugere a avaliação de hábitos como o tabagismo e o consumo de álcool, assim como fatores genéticos dos pacientes, para melhor classificação dos grupos de risco – também chamados de populações-chave para a dinâmica da pandemia e resposta ao vírus.
Os resultados demonstram, ainda, que o tipo sanguíneo influencia nas reações fisiológicas das pessoas: o tipo “A”, por exemplo, apresenta mais risco de infecção, enquanto o tipo “O” apresenta menos risco. A pesquisa também constatou que infectividade e letalidade não estão diretamente relacionadas. A letalidade é alta se comparada a doenças de vírus da mesma família.
PARCERIA – O estudo foi realizado em parceria com pesquisadores das Universidades Estaduais de Maringá (UEM), de Ponta Grossa (UEPG) do Oeste do Paraná (Unioeste), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e do Instituto para Pesquisa do Câncer de Guarapuava (Ipec).
INTERNACIONAL – A partir desse estudo, as pesquisadoras produziram ainda um artigo acadêmico, publicado na revista holandesa Immunobiology – periódico centenário, considerado referência na divulgação de conteúdos científicos de imunobiologia, sorologia, hematologia, alergia, doenças infecciosas e transplantes.
Comentários estão fechados.