MP pede esclarecimentos à Rede Cross sobre tratamento contra Covid-19 oferecido em Maringá

Decisão foi tomada após a divulgação de um áudio afirmando que a Rede Cross tem ofertado tratamento precoce aos pacientes

  • Em despacho emitido pela promotora Michele Nader, da 14ª Promotoria de Defesa da Saúde, o Ministério Público determinou que a Rede Cross, empresa privada que tem oferecido tratamento gratuito para pessoas com sintomas leves da Covid-19, explique detalhadamente o tipo de tratamento que está sendo ofertado e o interesse em fornecer esses cuidados de forma gratuita.

    Na decisão emitida na quinta-feira (11/3), a promotora também pede que a Rede Cross especifique quais medicamentos são ofertados e as comprovações científicas que amparam a utilização no tratamento contra a Covid-19.

    Nas redes sociais, a Rede Cross publicou uma nota confirmando que está atendendo “pacientes carentes com suspeita de Covid-19”. No texto, a empresa afirmou que se trata de uma iniciativa de empresários em parceria com hospital para tentar ajudar a população que precisa desse atendimento.

    A decisão do MP foi tomada após chegar até a promotoria um áudio atribuído a um empresário maringaense afirmando que no hospital seria oferecido tratamento precoce aos pacientes. O áudio e a nota publicada pela Rede Cross não especificam o tipo de tratamento e os medicamentos que seriam utilizados. Confira a transcrição do áudio:

    “Pessoal, nós em 6 empresários ai se reunimos e… estamos passando… fazendo a… pagando é… dois médicos, dois enfermeiros e medicamentos para pessoas carentes que tem sintomas de Covid. Nós vamos fazer o atendimento lá com… medicamento precoce… Se a pessoa tá com sintomas de Covid, dor de cabeça, dor na garganta ou alguma coisa… Vai até a Rede Cross. O atendimento deles é a noite, que a gente conseguiu lá dois plantonistas para atender a noite. eles vão dar esses medicamentos gratuitamente pra todo mundo, então a… a Rede Cross está entrando com o espaço, nós com a parte financeira e… e o dr. Lima, que é uma das pessoas envolvidas, tá conseguindo os medicamentos. Então o que a gente precisa: como tá começando o hoje, a gente precisa de gente pra mandar pra lá.  Que hoje vão estar os plantonistas lá, só que ninguém sabe disso.  Então quem divulgar na… nos meios sociais, na… é… voltada ao público carente, não é para outras pessoas, é mais para o público carente.  Se tá com sintomas, vai pra lá, recebe todo o atendimento gratuito. Detalhe: não tem internamento, tá?”

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    Nota da Rede Cross divulgada nas redes sociais / Reprodução – Facebook

    Além do esclarecimento, a promotora determinou que em regime de urgência, no prazo de cinco dias, a Vigilância Sanitária realize uma inspeção no estabelecimento para confirmar se o local está em conformidade com as leis sanitárias.

    Dentro do prazo de 15 dias, o Conselho Regional de Medicina do Paraná também deve realizar vistorias na unidade da Rede Cross em Maringá. O objetivo é averiguar as condições e condutas médicas dos profissionais e se eles estão atuando conforme o exercício ético da medicina.

    Procurada pelo Maringá Post, a Rede Cross informou que já prestou esclarecimentos ao Ministério Público, mas não deu outras informações para a reportagem. O espaço está aberto para manifestações.

    Vereadora questiona tratamento da Rede Cross

    Na quinta-feira (11/3), a vereadora Ana Lúcia Rodrigues (PDT) enviou ofícios solicitando posicionamentos em favor do sistema público de saúde. O documento foi enviado ao secretário de saúde Marcelo Puzzi, ao prefeito Ulisses Maia (PSD) e ao Ministério Público.

    Procurada pelo Maringá Post, a vereadora afirmou que pediu esclarecimentos pois a Rede Cross estaria adotando tratamento que contraria os protocolos que a saúde pública segue. Confira na íntegra a nota enviada pela vereadora:

    “Sou vereadora e devo fiscalizar e zelar pelo bem-estar de todos os maringaenses. Por isso, cobrei aos agentes públicos municipais que viessem a público explicar porque uma empresa particular está oferecendo um serviço de saúde à população, que contraria os protocolos que a própria Saúde Pública segue: 1º) consulta; 2º) teste e 3º) monitoramento 24 horas das pessoas com suspeita de Covid. Tenho certeza que os empresários têm as melhores intenções, mas a chamada é para pessoas que já estão com os sintomas e, assim , um tratamento não recomendado pelas autoridades sanitárias pode levar o paciente a dispensar ou não ir atrás do auxílio adequado dentro do tempo necessário para a sua recuperação, podendo causar agravamento do seu estado e gerar impactos irreversíveis à sua saúde pois, veja, trata-se de pessoas que já se encontram debilitadas pelos sintomas iniciais que as levaram a buscar o atendimento gratuito da Rede Cross. Estão com febre, o que indica que quadro pode estar grave, e necessite ser internada. Como a Rede Cross avisou que a pessoas apenas receberiam remédios sem sequer um Exame ou internamento, não pude me calar. Sim, cobrei daqueles que tenho a obrigação de cobrar, das autoridades públicas e continuarei cobrando.”

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