Já pensou misturar samba e imposto? Pois uma dupla da Universidade Estadual de Maringá (UEM) fez isso! A ideia surgiu para dar apoio ao projeto de extensão “Música e Poesia para falar de Cidadania”, que mobiliza servidores e professores da UEM.
Os autores do samba são: o professor Marcílio Hubner de Miranda Neto, vinculado ao Departamento de Ciências Morfológicas (DCM) e coordenador do Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi/UEM); e o servidor técnico e músico do Grupo Abaecatu, José Ribeiro da Costa, mais conhecido como Tijolo por toda a comunidade universitária.
“Eu e o Tijolo sempre pensamos em fazer uma música sobre imposto, sobre orçamento público e a necessidade do cidadão realizar o controle social dos gastos públicos. Nós trabalhamos essa temática, desde 2003, junto ao Programa Nacional de Educação Fiscal e temos sempre buscado criar estratégias para que as falas sobre o tema ‘imposto’ sejam atrativas para o cidadão, porque a maioria das pessoas não quer ouvir a respeito desse assunto. Há um grande percentual de brasileiros que não tem um entendimento real do quanto paga e nem a consciência de que são pagantes”, contou o professor Marcílio.
Segundo o docente, quando uma pessoa não se sente pagadora de impostos, não consegue se sentir verdadeiramente cidadã. Ao achar que a escola pública é gratuita, que a universidade pública é gratuita, que a saúde pública é gratuita, não exige do administrador nem do servidor público que se encontra nesses setores um serviço de qualidade, uma aplicação do dinheiro público de qualidade e o bom atendimento ao usuário. “Por quê? Porque, afinal de contas, é de graça mesmo. Como é que vou exigir alguma coisa do que é gratuito? É preciso, então, que as pessoas tenham a percepção de que nada do que é público é gratuito. Ao contrário, é pago com antecipação e por todo mundo, inclusive, por quem não usa”, destaca o professor da UEM.
“Samba do Imposto”
O “Samba do Imposto” traz exatamente essa ideia de que todos pagam impostos e que o bom uso desses recursos pode melhorar a vida dos indivíduos e o mau uso pode piorar, sem transmitir a sensação de que todo dinheiro público é roubado, e sim, de que parte dele é mal utilizado.
A letra mostra que a culpa não é só do servidor público, nem só do político eleito, ela é de cada cidadão que não se propõe a ter uma atuação ativa, fiscalizando o que acontece com o dinheiro dos impostos que paga.
“É muito fácil dizer que qualquer governante rouba e que o serviço público é ruim. Mas, agora, o que você está fazendo para melhorar? Você está fiscalizando as contas públicas? Você está cobrando do servidor público que ele trabalhe direito”, questiona Marcílio Hubner.
Tijolo acrescenta que ele e o professor Marcílio acreditam que a música pode ajudar muito a construir essa visão sobre cidadania. Conta que os dois estavam reunidos para finalizar um trabalho que iriam apresentar em um evento de educação fiscal, quando Hubner teve a ideia de escrever uma música sobre o tema.
Optaram pelo samba porque entendem que tem bastante apelo popular no Brasil, que é um ritmo que mexe com o imaginário do brasileiro e há muitos sambas críticos na história.
“Atuar nesse projeto é muito prazeroso, mesmo se tratando de um tema que tem muito a ser trabalhado para que as pessoas tenham consciência sobre os tributos que pagam, que não são poucos. Por isso, fizemos um samba simples, com linguagem simples, para que todo mundo pudesse, por meio da letra, refletir um pouco sobre como estão aplicando o dinheiro dos nossos impostos e o que nós fazemos para que eles sejam bem utilizados”, conclui o músico.
Ouça e Confira a Letra
Me diga seu moço pra que tanto imposto?
Pago imposto no açúcar no café e no sabão em troca de uma promessa da nossa Constituição de que eu terei em troca saúde, segurança e educação.
Mas o noticiário do rádio e da televisão me faz sentir um otário, que tira do bolso pra dar ao ladrão.
Ai meu Deus, que desgosto, ver o uso errado que fazem do imposto.
Pra esquecer essa tristeza só tomando uma lá no bar da Tereza.
Mas veja, seu moço, até a bebida perdeu sua graça. é enorme no valor do imposto embutido no preço da nossa cachaça.
Nela ainda me desculpo, porque é um vil líquido que não serve de alimento.
Mas o que dizer da água, que o imposto é mais de trinta por cento?
Ai meu deus que desgosto de saber que o pobre paga tanto imposto.
Dizem que contribuir é o melhor que eu posso fazer, pois parte desse dinheiro é que paga a polícia pra nos proteger.
Mas, lá no lugar que eu moro, a polícia não passa e o povo se cala que pra não morrer.
Aí meu deus que desgosto ver o uso errado que fazem do imposto.
Seu moço eu me perguntava o que um pobre coitado podia fazer para não ser roubado por um amigo político que acabou de se eleger.
Tudo isso me causou uma grande indignação.
Resolvi ir à luta, não ficar só na escuta e partir para a ação
Fiscalizar as contas públicas e colaborar com a educação.
Já não me sinto um otário não, quero ser roubado exijo respeito, pois sou um cidadão. Vamos lá meu povo exigir o bom uso do nosso imposto.
Interpretação de Tijolo, ao violão, e Enéas Ramos de Oliveira, na percussão
Abaecatu/UEM
Idealizado pelo professor Marcílio Hubner de Miranda Neto, o projeto de extensão “Música e Poesia para falar de Cidadania” é ligado ao Museu Dinâmico Interdisciplinar da UEM.
Fazem parte da iniciativa os músicos e cantores Enéias Ramos de Oliveira e José Ribeiro da Costa (Tijolo), a poetisa e declamadora Marcia Clotilde Facci Capelette e a cantora, compositora e percussionista Mari Tenório.
Todos pertencem ao grupo Abaecatu, que utiliza a arte e a ciência na conscientização dos direitos e deveres do cidadão, visando a construção de um país mais ético e solidário.
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