A história do pequeno João Bernardo, 9, vai muito além da tentativa de compra de uma casa no site de compras e vendas online, OLX. Em entrevista ao Maringá Post, Daiana Campiolo, 38, mãe de João Bernardo, fala sobre a repercussão do fato e o que motivou o menino a tomar a atitude inusitada que tanto repercutiu nas redes sociais.
A mãe explica que após publicar a reprodução da conversa de João com a vendedor da casa na rede social, foi informada pelas irmãs que a história começou a se espalhar rapidamente.
Além disso, Daiana viu que houve diversas menções na página Razões Para Acreditar, agência de conteúdo humanizado, onde foi criada uma vaquinha para realizar o sonho de João e proporcionar a compra da casa própria para a família.
Até as 15h desta sexta-feira (1/10), foram arrecadados quase R$ 170 mil, valor superior à meta inicial estipulada pela plataforma. A vaquinha vai continuar aberta a doações por mais 18 dias.
A história da família vai muito além dessa recente conquista. Em meados de 2019, o pai de João Bernardo foi mais uma vítima da depressão.
“O pai dele estava com depressão e chegou a ficar internado pra fazer tratamento. Estava tomando remédios controlados, mas não conseguiu terminar, porque a clínica que ele ficou internado aqui em Maringá, que é pelo governo, ele começou a reclamar de estar sofrendo maus tratos. Bastante coisas horríveis que acontece lá que, realmente, um monte de gente relata mesmo. E a gente teve que tirar ele antes, e logo aconteceu isso, a morte”.
Daiana Campiolo conta que com a morte do companheiro na casa onde moravam, tiveram que se mudar às pressas para uma quitinete. Com espaço reduzido, o filho mais velho de Daiana, foi morar com os avós, pais do primeiro companheiro de Daiana, e ela ficou apenas com João Bernardo.
Ela também explicou que não pode se comprometer com um trabalho fixo por precisar estar sempre à disposição do filho de nove anos.
“Ele faz tratamento, pra pânico, pra depressão, por causa da morte do pai. Então, a noite é a hora que ele me dá mais trabalho. Ele tem medo da noite. Eu tenho que deitar pra dormir com ele, conversar, acalmar. É sempre um ritual. Porque ele dormia só com o pai, e ele teve um sonho antes, um sonho horrível, antes da morte, já prevendo a morte, e também depois da morte ele teve também um outro sonho horrível. Ele tem medo de dormir, ele fala que não quer sonhar de novo aquelas coisas. Então ele fica segurando pra dormir”, revela a mãe.
Daiana diz que a assistência as famílias enlutadas é precária. Responsável pelo sustento da casa, a mãe não conseguiu o suporte financeiro e continua em luta pelo amparo.
“Não sei dizer o sentimento certo, é que mesmo provando que o meu marido estava doente, em internamento, receitas médicas, tomava remédio controlado, eu não consegui receber pensão por morte, mesmo tendo filho menor, porque eles alegam que ele não estava trabalhando registrado. E outra coisa, você não tem apoio de nada, se fala muito do Setembro Amarelo, do suicídio, mas as famílias enlutadas pelo suicídio, elas não tem apoio nenhum. Eu demorei 8 meses para conseguir o tratamento psicológico pra ele [João Bernardo], pelo governo. E eu que tive que ir atrás, praticamente me rastejando, porque eu estava morta, com tudo que tinha acontecido”.
A expectativa da família é que agora, com a casa sonhada por João Bernardo, uma nova história possa começar a ser escrita por mãe e filhos.
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