“A pandemia revelou e agravou algo que já existia na nossa sociedade”, destaca a advogada Tatiana Pitta

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Com o isolamento social imposto pela epidemia do novo coronavírus, as relações familiares têm se tornado uma preocupação para os profissionais da área familiar. Em entrevista, a professora e advogada da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Tatiana Pitta, e a psicóloga e professora da PUC-PR, Letícia Cavalieri, apontam as principais causas que têm impactado as famílias durante o convívio restrito.

Para Tatiana Pitta, “a pandemia revelou e agravou algo que já existia na nossa sociedade”. Segundo a advogada, a responsabilidade da mulher aumentou durante o período de isolamento, porque elas se tornaram as únicas responsáveis pelo cuidado dos filhos e atividades domésticas.

Com as atividades suspensas, as mulheres se encontram divididas entre o trabalho, algumas ainda em situação de home office, e os filhos, que ainda permanecem com os estudos a distância.

Além disso, a advogada aponta o aumento da violência contra mulher, intensificado pelo convívio no mesmo espaço. “Infelizmente não vemos medidas eficazes para mulheres pedirem ajuda, já que muitas estão em isolamento com seus agressores”.

Para a psicóloga e professora da PUC-PR, Letícia Cavalieri, a vítima de violência doméstica durante a pandemia se encontra mais fragilizada e impossibilitada em buscar ajuda.

“Como todos estão convivendo muito de perto, os problemas tendem a se acirrar, e quando já existe uma situação de violência, ela aumenta. Por quê? Porque o estresse, as dificuldades, e não há uma visibilidade dessa violência. Se antes, eu estava em casa em alguns momentos e eu ia pro meu trabalho, eu ia pra escola, eu tinha espaços para viver outras situações e para receber apoio, pra fazer denuncia. Nessa situação de isolamento, isso tudo se perde”, explica Cavalieri.

Em entrevista a agência pública de notícias da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Agência Brasil, a presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Renata Brasil Araújo, também alerta sobre o aumento do consumo de álcool durante o período de isolamento social provocado pela pandemia.

A psicóloga ressalta que a bebida alcóolica se tornou meio de alívio do estresse e da ansiedade desenvolvida na quarentena. No entanto, quando o sujeito se encontra em desequilíbrio emocional e faz o uso dessa substância, que proporciona um comportamento impulsivo, episódios de violência contra a mulher e crianças podem ocorrer.

Com esse fator, Letícia Cavalieri explica que a violência contra a criança, ser em desenvolvimento, é mais impactante, pois além do episódio vivenciado, haverá repercussão na vida futura da vítima.

“Além de internalizar esse modelo, esse padrão de comportamento mais agressivo, ela também pode a passar a estabelecer relações com outras pessoas em outros ambientes de maneira receosa ou agressiva, justamente porque no processo, o cuidador, a família que deveria dar pra ela suporte para um desenvolvimento de relações e de si mesmo, da sua subjetividade, da sua personalidade. Não dando esse suporte adequado, compromete a sua relação com eu e com o outro. Isso não é algo momentâneo. É algo que tem repercussão no futuro desse indivíduo.”

De acordo com a advogada Tatiana Pitta, o índice de violência contra criança caiu. Isso se deve ao fato de que os principais denunciadores são as escolas. “Não sabemos o que está acontecendo com as crianças, porque estão isoladas e como em média, 90% dos casos o agressor é alguém da família ou conhecido.”

Além disso, a psicóloga diz que as relações são essenciais as crianças, não apenas por gerarem momentos marcantes, mas por serem de extrema importância para o desenvolvimento cognitivo e físico.

“Quando há uma restrição da criança com os cuidadores, não apenas pai e mãe, há também a limitação do desenvolvimento da criança. Quando os cuidadores estão em uma relação desiquilibrada, eles tendem a não fazer essa função parental de maneira adequada. Às vezes, um acaba assumindo uma função apenas afetiva e o outro, apenas de colocar a regra. Mas isso é ruim, tanto para a criança como para a relação.”

PUC-PR Maringá promove Ciclo de Conferências em Direito de Família

A fim de refletir sobre o impacto do novo coronavírus no ambiente familiar, os cursos de Direito e de Psicologia da PUC-PR Campus Maringá, em parceria com  o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) Núcleo Maringá, Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Maringá, Comissão de Direito das Famílias de Maringá e Escola da Magistratura do Paraná, promovem o Ciclo de Conferências em Direito de Família.

O evento online, que acontece entre os dias 29 de setembro e 1 de outubro, promoverá encontro de saberes para que profissionais, pesquisadores e estudantes possam trocar conhecimentos e compartilhar vivências.

As inscrições podem ser feitas, de forma gratuita, pelo site do evento até às 18h do dia 29 de setembro. 

Programação 

29 de setembro
  • 19h – Como a Arte e Psicanálise contribuem com o Direito de Família
  • 20h – A difícil tarefa do exercício da parentalidade responsável em período pandêmico
30 de setembro 
  • 19h – O impacto do abuso sexual de crianças e adolescentes no âmbito familiar
  • 20h – Acolhimento institucional de crianças e adolescentes: a questão da visitação de pais e familiares no contexto da pandemia

01 de outubro 

  • 19h – Diálogos sobre gênero e violências intrafamiliares em tempos de pandemia
  • 20h – Violência doméstica e Covid-19: a junção de duas pandemias

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