Apesar da não comprovação de que o ar-condicionado dissemina o novo Coronavírus, engenheiros químicos e mecânicos ressaltam que o mau uso do equipamento traz riscos à saúde. Em tempos de pandemia, uma hipótese levantada por entidades como a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) chama a atenção.
O novo Coronavírus pode ser transmitido através de climatizadores de ambientes? A tese ainda não foi comprovada, mas especialistas do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) alertam para a importância da manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos, porque a proliferação de bactérias, ácaros e fungos em ambientes climatizados é comum. Inclusive, leis federais e normativas de 1998, 2003 e 2018 exigem maiores cuidados com os aparelhos por meio do Plano de Manutenção Operação e Controle para Ar-Condicionado (PMOC).
A aplicação ocorre em diversos segmentos de atuação, como shoppings, lojas, restaurantes, farmácias, hospitais e residências, porque o Plano garante a qualidade do ar e a preservação da saúde.
Os alertas são de profissionais da região Noroeste do Paraná, das áreas de engenharia mecânica e química. A inspetora do Crea-PR, Engenheira Química, Ambiental e Sanitarista, Daniela Traci, diz que é preciso seguir as legislações existentes, manter o controle de qualidade do ar com a limpeza adequada, ventilação, circulação e renovação para evitar a concentração de poluentes que causam, por exemplo, doenças respiratórias como asma, bronquite e rinite.
Atualmente, o Conselho conta com 136 inspetores, distribuídos pelas 36 inspetorias em todo o Paraná. O inspetor é o profissional voluntário designado pelo Crea para melhorar a eficiência das ações de fiscalização, em defesa do exercício profissional e da sociedade.
Daniela ainda reforça que as ações como a filtragem, controle de temperatura, umidade e o monitoramento garantem a qualidade do ar respirado. Estes procedimentos auxiliam a reter partículas, mantêm o nível de dióxido de carbono e inibem a proliferação de determinados organismos, como o que causa a Covid-19.
“A poeira carregada de bactérias, fungos, ácaros e outras impurezas se acumula no interior do aparelho mesmo quando ele está desligado. Então a proliferação em ambientes climatizados é muito comum onde não se tem uma manutenção periódica dos equipamentos. Isto ocorre mesmo que o ar-condicionado não seja utilizado por tempo prolongado”, explica.
Conforme estudos, a boa qualidade do ar interno dos ambientes depende, principalmente, da limpeza ou substituição regular dos filtros (fonte de acúmulo de sujeiras) realizada por técnico especializado. O serviço também inclui testes de funcionamento, verificação de possíveis falhas, peças soltas ou danificadas, evitando mau cheiro (odor característico de umidade, com mofo) e gotejamento na unidade interna. Quando tudo está em ordem, a vida útil dos aparelhos é mantida, assim como a economia de energia e o funcionamento correto das máquinas. Listamos os principais problemas que a falta de manutenção dos aparelhos causa:
• Problemas respiratórios aos usuários;
• Aumento dos ruídos produzidos pelo aparelho;
• Perda da capacidade de refrigerar o ambiente;
• Congelamento das peças e corrosão;
• Obstrução e entupimento dos filtros, turbinas, canos e serpentinas;
• Falhas nas bobinas e nos compressores;
• Aumento das contas de energia elétrica.
Falando especificamente da Covid-19, o Engenheiro Mecânico Marcos Pintor, inspetor do Conselho em Paranavaí, destaca que o vírus não permanece por muito tempo no ar e não pode se propagar por distâncias maiores, de acordo com pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. “Portanto, afirmar que os aparelhos agem na propagação do Coronavírus não é de todo coerente. Entretanto, há de se pensar que a propagação pode sim ser influenciada pelo processo de circulação do ar, fornecido pelo aparelho”.
Segundo o inspetor do Crea-PR, não há um período determinado para a limpeza e manutenção dos aparelhos de ar-condicionado. “O ideal é que a vistoria ocorra periodicamente, a cada mês. Então cabe ao proprietário a contratação de um profissional da área de refrigeração para fazer a verificação. Se tratando da limpeza completa do sistema e dependendo do tipo de uso do aparelho, a recomendação mais comum é de seis em seis meses”, ressalta.
Com atuação na área de climatização desde 1995, o Engenheiro Mecânico Edson Luiz Belido esclarece que a melhor forma de definir a frequência de vistoria e manutenção é pelo PMOC. “No Plano estarão descritos a periodicidade das manutenções, bem como todos os procedimentos a serem executados nestas etapas para que se garanta uma manutenção eficiente. Estas definições levam em conta o tipo de ambiente atendido, sistema instalado, criticidade e a complexidade do ambiente”, afirma.
O empresário também esclarece que o mais importante ao se contratar uma pessoa ou empresa especializada com registro no Crea-PR é a garantia de que a limpeza e a manutenção não irão resultar em problemas elétricos e mecânicos no futuro.
O Plano de Operação, Manutenção e Controle (PMOC) foi criado pelo Ministério da Saúde após a aprovação da Portaria 3.523/98, devido ao agravamento de saúde e morte do ex-ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em 1998.
Ele foi vítima de uma bactéria presente nos dutos de ar-condicionado do seu gabinete. Portanto, a portaria estabeleceu regras e parâmetros para a manutenção e a qualidade do ar nos ambientes, evitando a disseminação de agentes patogênicos.
Segundo o Engenheiro Mecânico Edson Luiz Belido, na época do ocorrido surgiu a expressão “Prédios Doentes”, para indicar ambientes em que cerca de 20% de seus ocupantes apresentaram problemas de saúde associados à permanência em seu interior.
“Estes ambientes facilitam alergias, dores de cabeça e piora de condições pré-existentes como asma”, destaca. A síndrome do edifício doente foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1982.
Para a Inspetora do Crea-PR, Engenheira Química, Ambiental e Sanitarista Daniela Traci, ao elaborar um PMOC o profissional avalia o ambiente para a determinação dos procedimentos e periodicidades das atividades a serem adotadas. “São levados em consideração o tipo de equipamento instalado, de atividade desenvolvida, intensidade de uso e taxa de ocupação. Ambientes especiais tais como hospitais, têm normas específicas para suas instalações e são tratados de modo específico”, ressalta.
Daniela ainda evidencia que o Plano feito por empresas com responsáveis técnicos contam com relatórios e indicadores que ajudam nas tomadas de decisão dos gestores com cronogramas, planos de manutenção, histórico de cada aparelho, agilidade no processo, gerando assim a satisfação do cliente, e garantindo que os processos dentro da empresa fiquem organizados. “Todas estas mudanças trazem oportunidades para o setor, além de serem essenciais para assegurar a saúde e o bem-estar dos ocupantes de locais climatizados”, finaliza.
Comentários estão fechados.