O número de casos de coronavírus entre trabalhadores da saúde mais que dobrou no intervalo de uma semana em Maringá. O boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura na segunda-feira (15/6) mostra que são 123 profissionais infectados, número 105% maior em relação ao registrado em 8 de junho, quando eram 60 trabalhadores da saúde com a Covid-19.
Os dados divulgados pela prefeitura são de profissionais das redes pública e privada. Segundo o último boletim epidemiológico, os tralhadores da saúde representam a maioria dos infectados na cidade.
São técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, trabalhadores da limpeza, setor administrativo e outros profissionais que atuam em equipamentos de saúde, muitos na linha de frente do combate ao coronavírus. Além do risco de serem infectados, eles também precisam lidar com o esgotamento físico e mental que a rotina de trabalho impõe.
Para o presidente da Sociedade Médica de Maringá, o anestesiologista Kazumichi Koga, os dados mostram que o número de infectados está aumentando e que é necessário observar e monitorar as pessoas que têm contato com os infectados, para não atingir um cenário mais complexo, em que o setor de saúde não teria capacidade para atender casos mais graves.
Segundo o médico, a flexibilização das atividades é necessária para entender o comportamento do vírus. Apesar disso, ele destaca que as medidas restritivas são importantes para proteger o grupo de risco e garantir que o setor de saúde possa atender todos os pacientes que necessitam de cuidados.
“A linha de frente da saúde ainda está em um nível bom, porque a procura nos atendimentos ao paciente está sendo gradativo e a conscientização e a eficácia das medidas de proteção funcionam melhor devido à experiência que a equipe adquire. Enquanto tivermos substituto para a linha de frente, o nível de estresse será controlável”, avalia Kazumichi Koga.
Segundo o anestesiologista, os gestores nos âmbitos federal, estadual e municipal devem ter diretrizes bem definidas e determinar que os planos de contingência sejam rigorosamente adotados para evitar a transmissão e contágio entre profissionais da saúde. Além disso, o médico destaca a importância de treinamentos e a disponibilidade de equipamentos para os profissionais.
O presidente da Sociedade Médica de Maringá alerta que a sociedade precisa entender que o pico da doença ainda não foi atingido. “Conscientizar a todos que os infectados cumpram com o isolamento. Não repassarem aos seus familiares, seus colegas de trabalho ou para outra pessoas. Procurem orientação nos órgãos responsáveis de como evitar. Ainda não temos o tratamento para esta doença e talvez a solução seja a vacina, que ainda não existe.”
O Observatório de Enfermagem, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), disponibiliza para consulta pública o número de profissionais de enfermagem infectados com coronavírus no Brasil e por Estados. No Paraná, a plataforma registra nesta sexta-feira (19/6) 172 casos entre profissionais de enfermagem e uma morte. Além da saúde, a preocupação também é com o número insuficiente de profissionais.
“Na nossa categoria, temos um déficit de cerca de 17 mil profissionais de enfermagem [no Brasil]. Essa é a angústia de qualquer prefeitura, de qualquer município de grande e pequeno porte. Não adianta termos 10 mil leitos de UTI se não temos esse número de profissionais para atuar. É uma grande preocupação, em quantitativo e qualitativo, já que não é todo profissional que pode trabalhar na UTI”, afirma a presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren/PR), Simone Peruzzo.
Sindicato notifica UPA e Hospital Municipal de Maringá
O Sindicado dos Servidores Públicos Municipais de Maringá (Sismmar) notificou nesta semana a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte, unidade exclusiva para o atendimento de pacientes com sintomas da Covid-19, e o Hospital Municipal de Maringá.
O Sismmar registrou quatro casos de coronavírus entre servidores da UPA e dois no Hospital Municipal. Segundo o sindicato, a notificação possibilita o conhecimento dos protocolos internos que são adotados e encaminhados, além dos procedimentos para isolamento de positivados e dos que tiveram contato com essas pessoas.
A presidente do Sismmar, Priscila Guedes da Luz, questiona a atuação da prefeitura. Ela relatou a demora para publicação de um protocolo com critérios para afastamento de profissionais da saúde e serviços essenciais. A nota técnica foi publicada na terça-feira (16/6), quase três meses após o início da pandemia. Na nota, não há indicação de quais critérios serão utilizados para servidores de outras secretarias.
O Sismmar pede que a prefeitura teste todos os servidores que trabalham com atendimento ao público, principalmente os profissionais de saúde, mesmo aqueles que não apresentem sintomas.
“A desculpa da prefeitura é que não tem teste para todo mundo, mas que eles pensem em uma maneira de fazer isso. Se colocar todo mundo em isolamento, vai chegar em um ponto que não vai ter ninguém para trabalhar, mas tenho que ter certeza que a pessoa não está com a doença para colocar ela para trabalhar”, afirma Priscila da Luz.
A Prefeitura de Maringá, por meio da assessoria de imprensa, preferiu não comentar as declarações do Sismmar.
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