O sequenciamento do genoma do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, permitiu identificar quais das estruturas virais têm potencial para o desenvolvimento de vacinas ou utilização como alvo de medicamentos.
A partir destas informações, americanos e chineses determinaram a estrutura tridimensional da enzima protease principal do SARS-Cov-2, também conhecida como NSP5.
A estrutura desta proteína foi então depositada (DOI: 10.2210/pdb6W63/pdb) num banco de dados virtual, conhecido como Protein Data Bank [1], para que pesquisadores do mundo pudessem ter acesso a estas informações.
Com isso, a estrutura da NSP5 pôde então ser explorada por pesquisadores da Rede UEM de Pesquisa em Emergências Epidemiológicas (RUPEEp), por meio de simulações computacionais que visam o desenvolvimento de fármacos.
Nestas simulações, um sofisticado programa de computador avalia a interação da proteína com milhares de moléculas presentes em bancos de dados, e escolhe quais destas moléculas teriam maior probabilidade de se ligar na enzima.
O objetivo é que esta interação seja capaz de impedir o funcionamento da enzima e, assim, interromper o ciclo de reprodução do vírus, impedindo o agravamento da infecção.
As moléculas presentes em bancos de dados podem ser escolhidas por diferentes critérios. Assim, é possível avaliar se os medicamentos disponíveis no mercado poderiam exercer algum efeito na inibição da NSP5.
Esta estratégia é chamada de reposicionamento de fármacos, onde um fármaco desenvolvido para tratar uma determinada doença, venha a ser utilizado para tratar outra. A vantagem desta estratégia é que os fármacos disponíveis no mercado já passaram por testes de segurança, e seus efeitos adversos são bastante conhecidos.
Assim, o tempo necessário para identificar um medicamento eficaz contra a Covid-19 e sua disponibilização para a população seria muito mais curto, se comparado ao tempo necessário para desenvolver um novo medicamento.
Pesquisadores da RUPEEp possuem bancos de dados de substâncias naturais extraídas de plantas da flora brasileira, as quais já foram testadas contra outras doenças como a diabetes tipo 2 e infecções causadas por bactérias e vírus [2–6].
A capacidade dessas substâncias foi avaliada por simulações computacionais, em comparação com inibidores sintéticos que comprovadamente se ligam a NSP5.
O resultado mostrou que 10 substâncias poderiam se ligar a NSP5 com probabilidade muito maior que o ligante sintético. Ao menos três destas substâncias estão presentes em extratos vegetais pertencentes ao banco de dados da UEM.
A comprovação da atividade farmacológica destes produtos naturais contra o vírus da Covid-19, depende agora da estruturação de um laboratório com nível 3 de biossegurança, por meio de projeto encaminhado às agências financiadoras de pesquisa.
Caso a atividade destas substâncias seja comprovada em células infectadas com o vírus, o próximo passo seria a avaliação em humanos. Uma vez que estas substâncias extraídas das plantas, já são utilizadas na medicina tradicional, sua segurança já é conhecida, ou seja, não são tóxicas.
Caso sua eficácia seja comprovada em modelos in vitro, o uso dos produtos naturais por pessoas precisaria ser avaliado quanto a dose, forma de administração, tempo de tratamento, etc. Porém, poderiam representar uma medida auxiliar no tratamento da Covid-19, durante as fases iniciais da doença.
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