Pesquisa da UEL mostra que máscaras de algodão e sarja são mais eficazes contra o coronavírus

Estudo recomenda que as costuras sejam evitadas, já que facilitam aberturas no tecido e permitem a passagem do vírus

  • Por recomendação das autoridades de saúde ou força de lei, a máscara se tornou um equipamento obrigatório para colocar antes de sair de casa. Para garantir a proteção dos profissionais que atuam na linha de frente do combate ao coronavírus, recomenda-se a produção de máscaras caseiras para a população em geral. Mas qual material oferece maior proteção?

    Pesquisa desenvolvida por alunos e professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) comprovou que as máscaras caseiras mais eficazes contra a transmissão do coronavírus são as feitas de algodão 100% e de sarja. Segundo os pesquisadores, outros tecidos não são recomendados.

    A pesquisa também analisou as costuras feitas nas máscaras de proteção. O estudo recomenda que as costuras sejam evitadas, já que facilitam aberturas no tecido, permitindo a passagem do vírus, o que diminui a proteção. A máscara deve ser de uso individual e trocada sempre que apresentar sujeira ou umidade.

    O estudo utilizou a metodologia chamada Microscopia Eletrônica de Varredura, que permite avaliar a estrutura dos tecidos. Por meio da microscopia, é possível identificar as aberturas entre as tramas do tecido e avaliar quais materiais apresentam menos chances de facilitar a passagem de gotículas contaminadas.

    Os pesquisadores avaliaram algodão 100%, sarja leve, tricoline, TNT, malha PV e tecidos multiuso para limpeza. Os resultados demonstraram que o algodão 100% e a sarja são mais eficazes no combate à transmissão do vírus

    Apesar disso, a professora do Departamento de Enfermagem da UEL, Renata Perfeito Ribeiro, que participou da pesquisa, afirma que o mais benéfico é usar a máscara, independentemente do material, do que não se proteger.

    “É melhor usar a máscara do que não usar, menos a de multiuso para limpeza. Mesmo com esses poros, o vírus precisa estar dentro de uma gotícula para passar, mesmo com essas outras que são mais abertas e que a gente não recomenda. Sempre é melhor usar do que não usar nada, mas se você for comprar o material para fazer, a recomendação é que seja sarja ou algodão 100%”, explica a professora.

    De acordo com a pesquisa, o algodão 100% (gramatura 140-240g/m2) possui camada de fios grossos e entrelaçados de forma homogênea. A distância entre os filamentos possibilita a diminuição do contato entre as gotículas expelidas pelo indivíduo para o meio externo.

    A sarja leve (gramatura de 190g/m2) é um material fechado, com composição de microfilamentos de fibra finos, próximos uns dos outros, com alta qualidade de fiação e, consequentemente, boa retenção de gotículas.

    O estudo mostrou que o tricoline (gramatura de 109g/m2), de cor única, o estampado (gramatura de 157g/m2) é composto por microfilamentos finos, com espaços e aberturas maiores entre as tramas, o que pode facilitar a passagem de gotículas. O TNT tem fibras grossas, mas os espaços entre as fibras são maiores, o que não dá proteção contra a transmissão de gotículas.

    Segundo a pesquisa, o PV (gramatura de 165g/m2) é composto de 35% de viscose e 65% de poliéster com grandes poros entre as fibras, o que facilita a passagens dos vírus de um indivíduo para o meio exterior à máscara.

    Apesar da eficácia do algodão e da sarja, a recomendação é que as máscaras tenham duas camadas de tecido. “Mesmo o algodão, ele tem alguns buraquinhos. Quando faço a máscara dupla face, esses buraquinhos não se coincidem e você aumenta a segurança”, afirma Renata Ribeiro.

    Para os outros tecidos, mesmo a máscara dupla face não é recomendada. “A gente não recomenda porque esses poros são grandes e, mesmo a máscara sendo dupla face, esses poros podem se coincidir com mais facilidade. Além disso, a malha tem uma certa elasticidade e ao esticar você pode abrir mais os poros”, explica a professora.

    Os pesquisadores orientam sobre a maneira correta de higienizar a máscara. Para higienização, é preciso colocar máscara por 30 minutos em uma solução com água sanitária (em 1 litro de água, colocar duas colheres de sopa de água sanitária). Após isso, a máscara deve ser lavada com água e sabão.

    A pesquisa era desenvolvida para outra finalidade, mas foi direcionada nos últimos três meses para observar quais os melhores materiais para confecção das máscaras. Líder do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos em Saúde dos Trabalhadores da UEL, Renata Perfeito Ribeiro desenvolve pesquisas há cerca de oito anos sobre o eletrocautério, aparelho comum no centro cirúrgico.

    Segundo ela, o aparelho emite uma fumaça que é prejudicial a saúde do profissional que está exposto. As máscaras modelo N-95, utilizadas pelos profissionais de saúde, protegem contra vírus ou bactérias que podem ser transmitidas pelo paciente, mas não apresentam características necessárias para proteger contra a fumaça do eletrocautério.

    Juntamente com uma aluna do doutorado, a professora começou a desenvolver estudos para encontrar uma máscara que pudesse ser utilizada. Ao testar o algodão 100%, mesmo não sendo recomendado para uso dentro de hospitais, elas descobriram que o tecido apresentava excelente grau de proteção para a população em geral. A partir daí, elas resolveram testar outros tecidos e contribuir para a produção das máscaras caseiras.

    O estudo ainda não foi publicado e está na fase final da redação do artigo científico. A pesquisa contou com a participação de diferentes profissionais. Entre eles, as mestres Helenize Ferreira Lima Leachi e Aryane Apolinario Bieniek, ambas doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UEL, além da professora doutora Renata Perfeito Ribeiro.

    Também participaram o professor doutor Admilton Gonçalves de Oliveira Junior, coordenador do Laboratório de Microscopia Eletrônica e Microanálise da UEL e líder do Grupo de Pesquisa Biossíntese e Atividade Biológica de Produtos Naturais de Origem Microbiana, e o professor doutor Tiago Severo Peixe, coordenador do Laboratório de Toxicologia do Hospital Universitário (HU) e líder do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Toxicologia da HU/UEL.

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